terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Tao Te Ching - Capítulo XXIX


Tentando controlar o mundo?
Vejo que não terá êxito.

O mundo é uma nave espiritual
E não pode ser controlado.

Quem controla fracassa.
Quem se apega perde.

Alguns avançam, alguns são levados,
Alguns choram, alguns tocam flauta,
Alguns se fortalecem, alguns se tornam supérfluos,
Alguns oprimem, alguns são destruídos.

Por isso, o Sábio
Repudia extremos,
Repudia o excesso,
Repudia a extravagância.

Fonte: Lao Tzu - Tao Te Ching (Editora Martins Fontes)

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Fazendo escolhas saudáveis em 2010

De acordo com a Medicina Tradicional Chinesa, compreendemos as doenças sempre como sinais de um desequilíbrio energético maior. Os sintomas são sinais de alerta. O ser humano é considerado um microcosmo inserido no macrocosmo, portanto seu adoecimento reflete uma inadaptação não só interna, mas também nas suas relações com o mundo.
Os desequilíbrios energéticos são multi causais, provocados por uma justaposição de fatores: o emocional, o dietético, o climático-ambiental e o constitucional. E eles se deixam transparecer através dos sintomas: dores, cansaço, alterações emocionais, etc. Os desequilíbrios, portanto, transparecem geralmente através de complexos conjuntos de sinais e sintomas.

Mentalidade de consumo
O que fazemos quando estamos nos sentindo mal? Procuramos uma solução, geralmente através de uma mentalidade de consumo. Ou seja, queremos comprar uma pílula ou um xarope. Queremos pagar exames e uma consulta que nos faça sentir melhor. Mas isso não é o suficiente.
Desequilíbrios são resultado de escolhas erradas que fazemos em nossa vida. Nós não “pegamos” uma gripe que por acaso estava passando por aí... nós nos deixamos enfraquecer ou de alguma forma colaboramos para que nosso organismo somasse causas e condições suficientes para que tenhamos sido afetados. E apesar de toda a informação disponível atualmente não somos capazes de colocar em prática medidas cotidianas e simples para assegurar nossa resistência.

Terapia ao alcance de todos
Vamos pensar nas nossas escolhas então, na nossa responsabilidade. Quem sabe não nos alimentamos direito? Quem sabe andamos ingerindo muitas substâncias nocivas através de embutidos, enlatados e industrializados? Substâncias sintéticas e “mortas”, das quais o corpo não consegue extrair uma gota de energia viva? E que além do mais, por não serem reconhecidas de tão sintéticas e modificadas, se acumulam provocando toda sorte de bloqueios e toxinas?
Ou simplesmente não comemos, por falta de tempo, por ideais estéticos malucos, ou falta de informação sobre a propriedade medicinal dos alimentos, com seus diferentes sabores e cores. E isso não é caro ou difícil, existem feiras em todos os lugares, e muito baratas, que são verdadeiras farmácias naturais.

Esquecimento de si mesmo
Ou quem sabe andamos muito alheios de nós mesmos, levando a vida no “piloto automático”, sem refletir sobre os relacionamentos, o trabalho, os objetivos existenciais? Não damos importância às nossas emoções, e simplesmente as afastamos, sem ouví-las. Nos acomodamos iludindo a nós mesmos de que não temos escolha sobre o que nos acontece. Sim, muitas vezes não podemos mudar os fatos, mas podemos mudar nossa maneira de lidar com eles, e isso faz toda a diferença.
Quem sabe não estamos engolindo um pouco de álcool demais ou estamos engolindo antidepressivos demais para evitar pensar no que incomoda? Quanto tempo ficaremos dependentes de muletas e iremos preencher os vazios com todo tipo de produtos e ilusões, para evitar entrar em contato com o que precisa e deve ser mudado em nossa vida?

Comodismo perigoso
O que andamos escolhendo afinal, que nos faça preservar e reforçar a nossa saúde? Nós sabemos o que é necessário para alcançar uma vida equilibrada e com o mínimo de adoecimento. Cada pessoa tem a sabedoria intrínseca, e pode buscar informação no mundo, sobre o que pode ser bom para si. Por que não prestar atenção aos sinais e agir? Simplesmente porque às vezes não nos responsabilizamos por nós mesmos e preferimos comprar a saúde e a felicidade através de pílulas. De preferência pílulas pequenas e fáceis de engolir, e que não tenham gosto amargo.
Pois eu acho que mais amargo é viver a vida sem assumir a responsabilidade pelas próprias escolhas e pela própria saúde, sem questionar seu trabalho, suas relações, sem aproveitar crises para crescer e mudar. Sintomas e doenças são sinais de alarme, requerem nossa atenção. Crises são oportunidades. Se nós não fizermos as escolhas certas a cada dia por nós mesmos, quem fará? A quem ou ao quê iremos culpar no final?

sábado, 5 de dezembro de 2009

Cuidados democráticos em saúde

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), a partir da segunda metade do século XX, a saúde passou a ser definida como resultante do bem-estar físico, mental, social e espiritual, e não apenas a ausência de doença. Este conceito mais amplo veio impulsionar novas práticas terapêuticas, e também estimulou o interesse em conhecimentos e técnicas de eficácia comprovada existentes na medicina oriental e na medicina popular.
Atualmente os recursos da medicina popular e tradicional, entre elas a Medicina Tradicional Chinesa, são formalmente recomendadas pela OMS. Os praticantes dessas medicinas são reconhecidos como importantes aliados na organização e implementação de medidas para aprimorar a saúde da comunidade, tanto é que progressivamente estão sendo tomadas medidas legais que assegurem a inserção mais ampla destes profissionais no SUS, principalmente na área da Acupuntura.

Racionalidade médica oriental
A Acupuntura é uma das técnicas da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), que por sua vez faz parte das medicinas classificadas como “vitalistas”. Seus pilares de sustentação são: o princípio de que a energia é a fonte integradora e reguladora da matéria (ou seja, das estruturas orgânicas), a ênfase no doente (na pessoa como um todo) e não na doença (sintomas), a crença de que a doença provém principalmente de um desequilíbrio energético do ser total (holismo) e não somente a partir de agentes patogênicos externos.
A MTC consiste em um sistema completo, também denominado racionalidade médica, já que possui sua própria anatomia, fisiologia, sua própria noção de saúde-doença, procedimentos diagnósticos e terapêutica; além de uma visão de mundo (ou uma filosofia) subjacente a todas essas dimensões. É um sistema que privilegia o cuidado preventivo em saúde, e onde o paciente assume juntamente com o terapeuta a responsabilidade no processo de cura, sem depender totalmente do burocrático sistema de saúde e sua indústria farmacêutica e hospitalar.

Crise
A medicina ocidental, baseada em alta tecnologia hospitalar e farmacêutica, torna-se cada vez mais onerosa para a sociedade, o que impede sua oferta democrática e contribui para a crise crescente no setor. Apesar de toda a alta tecnologia e especialização, a medicina ocidental atravessa uma crise profunda que se verifica na sua incapacidade de dar conta das necessidades de saúde da população em geral. Isso apóia e justifica a inclusão das chamadas práticas alternativas no SUS e na sociedade, possibilitando ao usuário o direito de escolher a terapêutica preferida.
Os paradigmas e técnicas da Acupuntura e da MTC compartilham da lógica da OMS que pretende buscar cada vez mais um sistema de saúde baseado em tecnologia simplificada, com resgate da responsabilidade de cuidado da saúde pelo próprio indivíduo. Compartilham também do conceito que define o homem numa dimensão ampla, incluindo além do meio físico, também seu meio psicológico-sociocultural e até sua dimensão espiritual. Neste sentido vem ao encontro das necessidades e demandas da população e do momento atual.

Unificando
O reconhecimento de que o método científico e a tradição ocidental não são as únicas fontes de produção da verdade não implica sua rejeição. Ao invés de privilegiarmos um ou outro sistema de conhecimentos e cuidados em saúde, ou nos degladiarmos em discussões sobre a validade do alternativo ou do convencional, devemos sim buscar o diálogo e a prática. A partir disso a transcendência para um novo paradigma terá oportunidade de acontecer, onde ambas as compreensões sejam incluídas numa visão mais abrangente e universal.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Jinan hoje

Tradição e progresso na China atual.

Foto: Analyce Claudino - Centro de Jinan / Shandong / China

domingo, 29 de novembro de 2009

Canais de energia

Todos que de alguma forma já ouviram falar em acupuntura num primeiro momento se lembram de “agulhas”, a seguir se lembram dos “pontos” onde serão inseridas as agulhas e num terceiro momento acabam se perguntando sobre os “meridianos de acupuntura”.
Mas afinal, o que são os meridianos, ou canais de acupuntura? A que será que se destinam? Para compreender os meridianos precisamos retornar alguns conceitos básicos da medicina tradicional chinesa.

Teorias básicas
Já falamos em artigos anteriores que o homem é considerado um núcleo de energia focalizado e organizado. Mas o homem nunca está estável, ele está constantemente submetido à influência de forças antagônicas e complementares (chamadas de energias do Céu e da Terra).
Essas energias, sejam potenciais (yin) ou cinéticas (yang), necessitam de constante transformação ou neutralização. Se não existisse absorção, controle ou neutralização, o homem perderia sua coerência interna, e sua vida chegaria ao fim.

Os quatro demônios
De maneira geral existem quatro forças principais que podem desestabilizar o equilíbrio do organismo. São elas: fatores constitucionais (hereditários ou ancestrais), fatores climáticos, fatores dietéticos (alimentação) e fatores emocionais.
Alguns fatores atacam desde “dentro”, como por exemplo os fatores emocionais, que alteram instantaneamente o equilíbrio dos órgãos e vísceras podendo se materializar até mesmo como doenças físicas. Outros atacam de “fora”, como por exemplo uma mudança climática repentina e severa. Por essa necessidade de comunicação e proteção interna e externa que se justifica a existência dos meridianos ou canais.

Labirinto energético
Os meridianos de energia formam uma extensa teia, semelhante à circulação venosa, que integra todo o organismo. Eles não apenas comunicam, alimentam e transferem energia entre os órgãos e vísceras, e todos os cantos mais distantes do corpo, mas também recebem os influxos do exterior e paulatinamente vão neutralizando as influências perversas em seus labirintos.
As energias perversas climáticas por exemplo, que poderiam causar dano interno, vão sendo como que “metabolizadas” por uma extensa rede de canais em vários níveis de proteção para que não penetrem. Organizados desde o mais superficial ao mais profundo, os meridianos vão protegendo e comunicando os órgãos vitais para assegurar a homeostase energética.

Neutralizando danos
Mas também é através dos meridianos que os desequilíbrios uma vez instaurados seguem uma evolução que se pode diagnosticar e prever. Energias em excesso são transferidas de um local ao outro, deficiências vão propagando seus efeitos, e quando a energia não alcança uma transformação adequada é através dos canais que ela segue seu curso nocivo provocando mais e mais desorganização.
O acupunturista deve conhecer estes caminhos de entrada e propagação da energia como a palma da sua própria mão. Pela aplicação de agulhas em pontos específicos destes canais pode interferir em seu fluxo, atingir órgãos e vísceras e eles relacionados, abrir comportas ou construir diques, direcionando a circulação de energia com o objetivo de neutralizar e prevenir danos.

“É melhor atuar no ainda não manifesto e controlar o ainda não bagunçado, porque árvore de tronco grosso nasce de uma raiz capilar, torre de nove andares se levanta com terra acumulada e jornada de dez mil léguas começa embaixo dos pés.” (Tao Te Ching)

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Tao Te Ching - Capítulo V

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Céu e Terra não são bondosos.
Para eles, os homens são como cães de palha, destinados ao sacrifício.
O Sábio não é bondoso.
Para ele, os homens são como cães de palha, destinados ao sacrifício.
O espaço entre Céu e Terra
é como uma flauta;
vazia, ainda assim, inexaurível;
soprada, mais e mais sons produz.
Porém palavras em demasia se esgotam ao serem proferidas.
O melhor é guardar o que está no coração.

Fonte: Lao Tze - Tao te king (Editora Pensamento)

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Uma viagem para o outro lado do mundo


Prezados amigos, estarei ausente no período de 21 de outubro a 16 de novembro. Novamente terei a oportunidade de visitar o berço da acupuntura: a China. Para não passar em branco, segue abaixo o texto sobre minha última viagem de estudos a este país incrível, que foi em 2005. Na volta, prometo deixar mais novidades aqui para vocês. Até breve!
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Em novembro de 2005 tive a oportunidade de conhecer um país fantástico: a China. Estive durante vinte dias para estudo e visitei principalmente a cidade de Jinan, capital de Shandong, e também Pequim (Beijing), a mais freqüentada pelos ocidentais. E, quanta diferença!
A viagem é longa e cara, muitos vôos, muitas conexões, o fuso horário é invertido, é necessária muita adaptação, mas tudo isso compensa. E na volta você não vê a hora de fazer tudo isso de novo!
Jinan é uma cidade de mais de 5 milhões de habitantes onde os ocidentais são vistos raramente, nesta circunstância você acaba entrando na cultura chinesa de cabeça, sem muitas facilidades proporcionadas aos ocidentais na cidade de Pequim, que é mais direcionada ao turismo internacional.
Para começo de conversa, em Jinan você tem que se tornar mestre em comunicação não verbal. Raros são os chineses que falam inglês, e isto transforma desde um passeio de táxi até uma simples visita ao supermercado em uma experiência bastante interessante! Os enigmáticos caracteres chineses nos transformam em analfabetos, pois mesmo que se tenha estudado um pouco ou aprendido as frases e palavras básicas, ainda assim há uma infinidade de ideogramas desconhecidos espalhados por jornais, placas, tudo. E os fonemas chineses são igualmente difíceis para nossas travadas línguas ocidentais. O que ajuda bastante é que os chineses são amistosos, extremamente pacientes e muito educados.
Para ter uma idéia de como são pacíficos, durante toda minha estada neste país, não vi sequer uma briga de trânsito, apesar de este ser muitas vezes caótico! Os carros invadiram a China há não muito tempo, e o veículo oficial ainda é a bicicleta. Existem grandes e maravilhosas ciclovias ao lado das rodovias, coisa que nossa cidade de Florianópolis poderia copiar.
Também não vi brigas entre pessoas. Ninguém fala alto, ninguém anda rápido, empurra ou esbarra em outras pessoas, mesmo em ambientes lotados. Os chineses que tive oportunidade de conhecer são pessoas gentis, educadas e reservadas. Em um dos países mais populosos do mundo pudemos perceber que o exercício da paciência e da tolerância, o respeito às diferenças individuais, são uma prática amplamente difundida. E neste ambiente sem pressa parece que até os ponteiros de nossos relógios começaram a andar mais devagar... o tempo se mostrou ser, de fato, muito relativo.
Em Jinan é possível encontrar uma das universidades consideradas mais importantes no ensino da medicina tradicional chinesa do país, a Shandong University of Tradicional Chinese Medicine, e a medicina tradicional ainda é amplamente utilizada em alguns hospitais, com suas agulhas, massagens, ventosas, moxas e fitoterápicos. Os universitários têm que se esforçar muito para chegar ao ensino superior, porque num país tão populoso as oportunidades são para poucos, geralmente para os que dedicam sua vida ao estudo e em ser os melhores. A competição é muito grande.
A postura com relação ao ensino e aos professores também é muito diferente do Brasil. Os professores são autoridades absolutas e extremamente respeitadas, os alunos só se dirigem diretamente ao professor depois de um tempo de convivência, e quando questionados. Não existe contestação ou discussão entre professor e aluno. A palavra do professor é lei e sua experiência pessoal e anos de prática parecem contar mais do que a quantidade de diplomas que possuem pendurados nas paredes. Como a medicina chinesa depende muitas vezes de interpretações subjetivas, a experiência tem valor de um doutorado.
Se você pensa em um dia ir à China, saiba que além da língua, a comida é um desafio para a maioria dos ocidentais. Não pense que você vai comer a comida encontrada em nossos restaurantes chineses do Brasil! Como eu disse, em Pequim é possível encontrar comida mais adaptada ao gosto dos brasileiros, mas em Jinan isso é praticamente impossível. Inclusive uma churrascaria que se entitulava “brasileira” que tive oportunidade de visitar, era adaptada ao paladar dos chineses, ou seja, comidas exóticas e muita, muita pimenta. Uma pimenta de colocar inveja e bater de longe nossas pimentas baianas! Apesar disso, a alimentação é saudável sendo composta principalmente de muitas verduras e legumes, pouca carne de gado, trigo e laticínios, muito pouco sal e açúcar. É possível perder alguns quilos sem perder a saúde, e se sentir muito bem disposto com isto.
A bebida nacional é o chá, geralmente o chá verde em suas múltiplas e deliciosas variedades. Existem chás para o verão e chás para o inverno. Mas não tente encontrar um cubo de gelo para colocar em sua Coca-Cola! Os chineses não tomam quase nada gelado. Ao invés disso, em praticamente todos os lugares públicos há água quente à disposição de todos. Eles carregam suas imensas térmicas como os gaúchos carregam seu chimarrão e tomam seu chá durante todo o dia.
Mas a diferença entre as regiões e cidades é grande. Diferentemente de Jinan, em Pequim há momentos que nos perguntamos se estamos realmente lá, pois é uma cidade bastante semelhante a qualquer outra grande metrópole, com seus mais de 12 milhões de habitantes. Em alguns supermercados inclusive é possível achar nomes de produtos em inglês, talvez pelo grande número de ocidentais que lá residem. No entanto Pequim é a mais famosa e visitada por seus pontos turísticos e monumentos maravilhosos, grandes palácios e praças, a Muralha da China entre outras construções ancestrais e muito bem conservadas. A riqueza de cores e o luxo das dinastias do passado impressionam. É um banquete para nossas retinas acostumadas a muito concreto cinza.
Mas se você deseja conhecer a China longe da recente invasão ocidental que cada vez mais acontece no país, você concordaria comigo em ir para o interior. Lá ainda é possível ver os costumes de um povo singular. Andar nas ruas e respirar a China como ela é. Um país maravilhoso, de pessoas fantásticas e costumes exóticos. Sentar nas ruas movimentadas e saborear uma a uma, calmamente, sementes de girassol. Ou comer batatas assadas com a mão e tomar seu chá.
É uma pena que a tão falada globalização aos poucos vá destruindo as singularidades e nos transformando em uma massa humana cada vez mais unida, mas também cada vez mais sem identidade. Os chineses mais tradicionais reclamam da geração mais nova, dizendo que eles se curvam ao padrão ocidental. Os mais novos reagem ao extremo da censura e do fechamento governamental com o outro extremo, que é aceitar tudo sem questionamento. E por isso começam a aparecer novas doenças que antes não existiam, como a obesidade, por exemplo. A nova geração esquece aos poucos os conselhos dos ancestrais e já não segue as orientações de uma vida saudável. Isso trará conseqüências desagradáveis para toda a China a médio e longo prazo.
O lado positivo da globalização e da abertura é que se formos espertos, ao invés de nos perdermos e aos nossos costumes, poderíamos aprender com os outros povos, extrair as lições e aquilo que há de bom e incorporar em nossa vida. Assim como a Medicina Tradicional Chinesa e outras práticas esportivas, filosóficas e etc., que a cada dia são mais incorporadas e trazem benefícios ao povo ocidental. Evoluir, respeitando as diferenças e sem perder a identidade jamais. E com certeza teremos muito a aprender com a China e com os chineses. Então só nos resta dizer: xie xie (obrigado)!

O que é o que é: um pingo rosa na Montanha dos Mil Budas? Sou eu! :)

(Se você também deseja fazer uma viagem de estudos para a China, visite: www.cieph.com.br. A próxima tem saída provável para novembro de 2011).

terça-feira, 13 de outubro de 2009

As energias essenciais

Como já vimos em artigos anteriores, para os orientais o conceito de Energia permeia toda a cultura. A Energia é una, mas pode se apresentar como yin (potencial) ou yang (cinética). E tem característica de nunca se perder, e sim se transformar, gerando constante movimento e impermanência de tudo o que existe entre o Céu e a Terra.
No Homem, essa energia que permite a sustentação das transformações e mutações. Ela pode ser classificada amplamente como: Energia do Céu Anterior e Energia do Céu Posterior.

Energia do Céu Anterior
O Homem, sendo um núcleo de energia focalizado e organizado, se constitui primeiramente a partir da energia que é herdada dos pais (também chamada de Energia Ancestral ou Energia do Céu Anterior). Esta é uma energia pré-natal (vem já dos gametas feminino e masculino) e condiciona todo o desenvolvimento. Depende da qualidade do encontro amoroso paterno e materno, e também da energia envolvida nas divisões celulares sucessivas que vão configurando um ser desde a célula inicial. A cada divisão, um pequeno “big-bang” gerando energia que será acumulada no Ming Men (Portão Vital).
O Ming Men é um local que fica próximo aos rins, um pouco abaixo do umbigo, e próximo da coluna lombar, no centro do corpo. É considerado um reservatório muito importante de energia, pois guarda todo este potencial herdado e que não pode ser reabastecido. É como se tivéssemos ao nascer um grande capital o qual nunca é possível aumentar, e sim somente gastar ao longo da vida, até que não reste nem uma moeda, o que significa a morte. Para proteger essa energia e permitir seu gasto somente nos momentos de extrema importância, lançamos mão das energias de sustento, ou seja, a Energia do Céu Posterior.

Energia do Céu Posterior
Essas são todas as energias que nossa vida diária permite acumular desde que nascemos e respiramos pela primeira vez. Aqui estamos falando principalmente da energia nutrícia, que vem dos alimentos, e da energia do ar, que depende da qualidade da respiração. Basicamente as Energias do Céu Posterior dependem única e exclusivamente da nossa qualidade de vida, e são elas que vão garantir a economia do nosso patrimônio herdado, permitindo que tenhamos vida longa e boa saúde.
Daí vem a importância que os orientais davam ao ambiente, elaborando até complexos sistemas como o Feng Shui, para harmonizar energias externas e consequentemente, as internas. Já que o homem responde ao Céu e à Terra, ambientes estressantes não são ideais. Também a importância da dieta, com alimentos frescos, já que quanto mais “vida” há no alimento, mais energia extraímos e melhor sua qualidade nutritiva. O exercício físico também adquire muita importância, já que através destas práticas melhoramos nossa respiração, oxigenamos o corpo e extraímos ao máximo a energia do ar. Daí o desenvolvimento de exercícios terapêuticos como o Chi Kung ou o Tai Chi Chuan.

Qualidade de vida
Tendo em vista estes conceitos, o que se pretende dizer com qualidade de vida? Qualidade de vida é ter energia suficiente para sustentar atividades cotidianas sem ter que fazer uso de nosso capital herdado, que deve ser utilizado só nos momentos a que realmente se destina (reprodução, maturação, etc.). Se não temos uma boa respiração e alimentação e, no entanto, continuamos nossa atividade incessante, nosso organismo vai buscar combustível na nossa Energia Ancestral. Isso gera uma diminuição da nossa “poupança”, ou seja, dos nossos anos de vida.
Neste sentido convém buscar alimentos mais frescos, buscar mais exercícios físicos, buscar o ar livre e limpo, o contato com a natureza, extrair a energia de cada momento, estar atento, ouvir a emoção e respeitar o seu conselho. Equilíbrio nada mais é do que administrar os opostos, o yin o yang, a atividade e o repouso, a acumulação e o gasto, para que alcancemos um estado harmonioso onde não haja prejuízo.

“Trilhando sobre a cauda do tigre
Ele não morde o homem.
Sucesso.” (I Ching)

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Personalidade de acordo com os 5 Elementos - Parte II

Dando seqüência ao artigo anterior, segue a descrição dos tipos Fogo, Terra e Metal:

Temperamento Fogo
O indivíduo de Fogo expressa-se pelas emoções, afetividade, alegria e amor. As palavras chave deste tipo são: transformação, mudança e atualização. Expansivos, alastram-se com facilidade, tendo dificuldade em preservar limites e manter o foco, não sabendo o momento de parar. Comunicativos, gostam de expressar idéias e opiniões. Líderes naturais, buscam a evolução e a transgressão de normas, trabalham por ideais, combatendo valores obsoletos.
Não tem muita tolerância com a opinião dos outros e não medem esforços para produzir mudanças, podendo se tornar até mesmo violentos. Em geral são cativantes, falantes e gostam de ser o centro das atenções, mas são propensos à insaciabilidade, egocentrismo, brutalidade, e invasão. A emoção que predomina quando não conseguem o equilíbrio é euforia (hiperexcitabilidade).
Patologias ligadas ao Fogo levam a problemas cardíacos e circulatórios, palpitações, insônia, alterações da consciência e da compreensão, labilidade emocional, alterações da fala, ansiedade e mania.

Temperamento Terra
O indivíduo de Terra está relacionado ao movimento de prover alimento aos outros, à preocupação e ao cuidado materno. Introvertido, reservado, detalhista, organizado, passivo, pensativo, analítico, lógico, crítico e racional, a ponto de poder se tornar obcecado e rígido. É muito “pé-no-chão”, nunca improvisa e não faz nada sem pensar muito. Por sua cautela é sábio, tem serenidade em esperar e acumular experiência, fazendo boas previsões do futuro devido à capacidade de pensamento sistemático.
O Terra é metódico, sistemático e bom administrador. Tem grande capacidade com as finanças, e habilidade para poupar e dar destino a coisas aparentemente inúteis. Adora a rotina e pode se tornar obsessivo. Conservador, não gosta de mudanças bruscas e desorganizadas. Seu desafio é aprender a passar do pensamento à ação, como se um fosse a continuação do outro. A emoção que predomina quando não conseguem o equilíbrio é a preocupação, o pensamento obsessivo.
Doenças comuns neste tipo de pessoa são alterações digestivas e distúrbios da nutrição (obesidade, anorexia, bulimia). Também são propensos à falta de iniciativa e aos transtornos obsessivo-compulsivos. Tendem a ser muito apegado e solicitar muito dos outros, criando uma dependência negativa.

Temperamento Metal
Indivíduo observador, introvertido, sensível, intuitivo, inteligente, desconfiado, teimoso, calculista, e às vezes frio. Tem o hábito de economizar dinheiro e nunca se arriscar em atividades muito instáveis. Tem firmeza de caráter e grande força moral, forte poder de decisão com objetividade e pouca dúvida. Inflexível, determinado e paciente. Tem um pensamento minucioso, linear e muito repetitivo. É auto-suficiente: em geral gosta de fazer as coisas sozinho e não pede ajuda. É persistente, podendo se tornar teimoso, insistindo em continuar adiante mesmo em condições adversas.
Realista, o Metal é como a espada da verdade que corta fora as ilusões, o desnecessário, para que haja confronto com a realidade: por isso é considerado às vezes rígido e frio. A emoção central deste tipo é a tristeza. Seu aprendizado principal é aceitar perdas, abrir mão de seus bens e posições rigidamente estruturadas para seguir com mais naturalidade e flexibilidade o fluxo da vida.
Doenças respiratórias (asma, rinite, pneumonia, dispnéia, tuberculose, etc.) são comuns no indivíduo Metal, assim como problemas intestinais, problemas de pele, propensão à melancolia, à depressão e ao apego ao passado.

Conhecer seu Elemento, para quê?
Alguns terapeutas em Acupuntura e Medicina Tradicional Chinesa valorizam muito a identificação de características constitucionais dos pacientes. Segundo essa tradição, antes de tudo o indivíduo deve aprender a conhecer a si mesmo. E por quê?
Os sintomas são, em última análise, sinais de alerta de um profundo desequilíbrio, e os pacientes devem aprender a reconhecê-los nos primórdios, antes que eles se tornem plenamente manifestos. Devem aprender assim a efetuar as mudanças necessárias e sempre pessoais, que os previnam de ficar doentes. Conhecendo a si mesmo e tomando a responsabilidade em manter a própria saúde os pacientes se tornam menos dependentes do terapeuta e irão necessitar de tratamento com menor freqüência.

domingo, 27 de setembro de 2009

Personalidades de acordo com os 5 Elementos – Parte I

Conforme artigo anterior, iniciamos abaixo uma descrição resumida das principais características de temperamento segundo os 5 Elementos. É provável que o leitor se identifique em algum, ou alguns dos elementos: Fogo, Terra, Metal, Água e Madeira.
Geralmente apresentamos uma mescla de características que podem inclusive variar ao longo da vida. Mas em dado momento, sempre algumas estarão predominantes e algumas ausentes.
Cabe a nós identificarmos nosso padrão típico de resposta para compreendermos a maneira com que nos relacionamos com as situações da nossa vida, e exercitar as características que estão ausentes ou que não são tão freqüentes em nosso comportamento.
Vale lembrar que não há tipo bom ou ruim, o ideal é balancear as características de todos os tipos, buscando o equilíbrio e o que é mais adequado nas diversas situações cotidianas.

Temperamento Água
A palavra-chave das pessoas com este temperamento é a flexibilidade. Assim como a água na natureza, o indivíduo de Água não tem forma fixa, se adaptando ao ambiente que o cerca. Também por isso pode se tornar vulnerável e instável, sofrendo de mudanças bruscas de humor, de interesse e de opinião. São pessoas que caminham de forma sinuosa e discreta na busca de objetivos. Tem grande habilidade de conseguir o que querem de maneira sutil e de influenciar os outros a fazer coisas que as beneficiem. Infiltram-se discretamente, sem chamar atenção, e assim alcançam cargos profissionais interessantes pois respeitam as opiniões alheias e procuram nunca entrar em choque frontal com ninguém. A emoção chave deste tipo é o Medo. O Medo paralisa o indivíduo de Água e é bastante prejudicial à sua saúde. As doenças características do tipo Água são relacionadas ao sistema genital e urinário, ao sistema reprodutor, aos ouvidos, ossos e dentes. No campo psicológico evidencia-se a tendência ao desânimo (alguns tipos de depressão), perturbações da memória, fobias e outras síndromes relacionadas ao medo (agorafobias, síndrome do pânico e síndromes de ansiedade).

Temperamento Madeira
Os indivíduos Madeira são muito ligados à ação, não conseguem ficar parados, podendo se tornar nervosos quando acontecem frustrações ou impedimentos ao seu movimento. Tem grande capacidade de tomar decisões, planejar, olhar para o futuro e crescer com o tempo, ou seja, são profissionais por excelência. São decididos, competitivos e combativos. Não tem medo de arriscar, sendo confiantes ou mesmo impulsivos. Por isso são líderes naturais, geralmente ocupando cargos de direção. Gostam de trabalhar para os outros, pelos outros e para o bem comum, e não gostam de trabalhar sozinhos. A emoção predominante destas pessoas é a Raiva. Além de serem “pavio curto”, se tornam doentes quando são obrigados a suportar situações que geram raiva e irritação. Quando em desequilíbrio, os Madeira são suscetíveis a alterações emocionais (irritação, ansiedade, estresse, depressão), problemas digestivos (inchaços, vômitos, soluços, dores no estômago), cefaléias e enxaquecas, tonturas, problemas dos olhos e dos músculos (tendinites, câimbras, etc.). Também nas mulheres acontecem com freqüência irregularidades menstruais, TPM e cólicas.

Cenas do próximo capítulo
Na próxima postagem estarão as características dos tipos Fogo, Terra e Metal. Identificando seu padrão de resposta, será possível se prevenir de emoções que perturbam a mente e alteram o fluxo de energia do corpo, podendo até provocar doenças. Aguarde as “cenas dos próximos capítulos”...

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Dois Monges

Dois Monges, diante de uma bandeira balançando ao vento, começaram a discutir.
“A bandeira se move”, disse o primeiro.
“Não, é o vento que se move”, retrucou o segundo.
E assim seguiram a discussão, sem chegar a um acordo.
Até que Hui-Neng, o sexto patriarca do Zen, se aproximou e interrompeu a discussão.
“Não é a bandeira que se move. Também não é o vento que se move. É a mente de ambos que se move.”

Em: Bruno Pacheco - Pocket Zen: 100 histórias budistas para meditar. Editora Nova Era.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Farmácia chinesa

Foto: Analyce Claudino (2005)

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Os diferentes tipos de homem


A oscilação faz parte da vida, pois vivemos em um mundo em constante transformação e precisamos nos adaptar a diversos fatores (ambientais, sociais, emocionais, etc.). Por isso nosso organismo está sempre se modificando. Isso não significa que estamos sempre desequilibrados: o que chamamos de desequilíbrio só acontece quando não conseguimos manter nossa flexibilidade, nosso “jogo de cintura”, quando ficamos presos, estagnados em uma situação, quando não conseguimos administrar alguma tensão.
Na Medicina Tradicional Chinesa buscamos sempre auxiliar na recuperação do equilíbrio dos pacientes. Dependendo da personalidade da pessoa, até pequenos problemas podem se transformar em grandes catástrofes. E outros transformam problemas rapidamente em soluções.
Tudo depende muito mais amplamente do “olhar” de cada pessoa sobre seus próprios dilemas do que propriamente do ambiente externo. Por isso que muitas vezes pessoas submetidas às mesmas situações difíceis reagem de maneiras tão diferentes. O “estar no mundo” é individual como as impressões digitais.

Sistemas de classificação
Os chineses antigos já trabalhavam com a noção de que existiam diferentes “tipos de homem”, e que suas reações eram mais ou menos previsíveis. Livros antigos explicam como classificar as pessoas somente olhando a forma do corpo, o rosto ou o comportamento. Essas características davam indicações até do tipo de doença a que a pessoa seria mais facilmente acometida. E como eles davam muita importância a vários sistemas divinatórios e místicos, era possível através de linhas da face, consulta a oráculos ou astros e outras metodologias inclusive prever o futuro.
Posteriormente outros sistemas de classificação de pessoas foram sendo criados através da prática dos terapeutas e de suas observações. Destacamos a classificação ampla segundo a predominância ou deficiência de Yin e Yang e a classificação de personalidade segundo os 5 Elementos (Terra, Metal, Água, Madeira, Fogo).

Linhas de investigação
Hoje os sistemas de classificação de tipos humanos são utilizados como uma forma de orientar o trabalho terapêutico. Nunca levamos a classificação “ao pé da letra”, porque não existem pessoas que pertençam a somente um tipo. E também se discute a possibilidade de mudança de tipo ao longo da vida, já que o universo e também a pessoa está em constante alteração. No entanto, essas são teorias que nos possibilitam linhas gerais de investigação.
Sabe-se que pessoas pertencentes a um determinado tipo podem ser mais propensas a certas emoções específicas, como por exemplo a raiva ou a melancolia. Sabe-se também que certos tipos são mais propensos a ter doenças que envolvam certos órgãos em detrimento de outros. O comportamento é amplamente influenciado também de acordo com o tipo ao qual a pessoa pertence. Um terapeuta experiente poderá através deste raciocínio fortalecer aspectos deficientes e acalmar características que estão em demasia.

Rotular jamais
Evidentemente que as tipologias são extremamente limitadas para descrever a infinidade de comportamentos e possibilidades dos seres humanos. A intenção deste conhecimento não é “rotular” grosseiramente os tipos humanos, mas possibilitar a utilização das tipologias como ferramentas na difícil tarefa de compreensão das possibilidades e limites de cada pessoa.
Em se tratando de pensamento oriental, devemos eliminar a mania de classificar as atitudes e os tipos humanos em “bom” e “mau”, como é nosso hábito ocidental. Tentemos, sim, perceber que tudo no mundo tem a sua utilidade quando bem empregado, quando utilizado sabiamente de acordo com o fluxo natural do Tao... O bom e o mau são faces da mesma moeda, é só mudar o ângulo no qual observamos.

Nas próximas postagens falarei mais das personalidades segundo os 5 Elementos, aguarde...

terça-feira, 18 de agosto de 2009

A acupuntura enquanto arte

"A acupuntura é completamente oriental. Assim quando você aborda qualquer ciência oriental com a mente ocidental você esquece muitas coisas. A sua completa abordagem é diferente: é metodológica, é lógica, analítica. E estas ciências orientais não são verdadeiramente ciências, mas arte. Toda a coisa depende de se você pode mudar suas energias do intelecto para a intuição, se você pode mudar do masculino para o feminino, do yang para o yin; da abordagem ativa, agressiva. Você pode se tornar passivo, receptivo? Somente assim estas coisas funcionam; de outra forma você pode aprender tudo sobre acupuntura e isto não será acupuntura de jeito nenhum. Você saberá tudo sobre ela, mas não ela. E algumas vezes acontece que a pessoa pode não conhecer muito sobre ela e conhecê-la, mas então é uma habilidade - apenas um insight nela.
Assim isto está acontecendo com muitas coisas orientais; o ocidente torna-se interessado - elas são profundas. O ocidente torna-se interessado em uma coisa oriental, mas então ele a traz para a sua própria mente para entendê-la. No momento que a mente ocidental entra nela, a própria base dela é destruída. Então somente fragmentos são deixados e estes fragmentos nunca funcionam. E não é que a acupuntura não funciona, a acupuntura pode funcionar, mas ela pode funcionar somente em uma abordagem oriental.
Assim se você quer realmente aprender acupuntura é bom saber sobre ela, mas lembre-se que isto não é a coisa mais essencial. Aprenda toda informação que está disponível, então esqueça todas as informações e comece apalpando no escuro. Comece escutando a sua própria consciência, comece se sentindo em harmonia com o cliente. É
diferente...
Quando um paciente vem a um médico ocidental, o médico ocidental começa raciocinando, diagnosticando, analisando, encontrando onde a doença está, qual é a doença e o que pode curá-la. Ele usa uma parte de sua mente, a parte racional. Ele ataca a doença, ele começa conquistá-la: uma luta começa entre a doença e o médico. O paciente está na verdade fora do jogo - o médico não se preocupa com o paciente. Ele começa a lutar com a doença - o paciente é totalmente negligenciado.
Quando você chega a um acupunturista a doença não é importante, o paciente é importante, porque é o paciente quem criou a doença; a causa está no paciente, a doença é somente um sintoma. Você pode mudar o sintoma e outro sintoma chegará. Você pode impedir esta doença com drogas, você pode parar a sua expressão, mas então a doença irá se afirmar a si mesma em outro lugar e com mais perigo, mais força, com uma vingança. A próxima doença será mais difícil de tratar do que a primeira. Você usa drogas nesta também, então a terceira doença será inclusive mais difícil.
É assim que a alopatia criou o câncer. De um lado você continua forçando a doença para baixo, ela se afirma de outro lado, então você a força daquele lado - a doença começa a ficar com muita, muita raiva. E você não muda o paciente, o paciente permanece o mesmo; assim porque a causa existe, a causa continua criando o efeito.
A acupuntura lida com a causa. Nunca trabalhe com o efeito, sempre vá para a causa. E como você pode ir até a causa? A razão não pode ir até a causa - a causa é muito grande para a razão - ela pode lidar somente com o efeito. Somente a meditação pode ir até a causa. Então o acupunturista irá sentir o paciente. Ele esquecerá o seu
conhecimento, ele apenas tentará entrar em sintonia com o paciente. Ele irá se sentir em comunicação; ele começará a sentir uma conexão com o paciente. Ele começará sentindo a doença do paciente em seu próprio corpo, em seu próprio sistema energético. Este é o único jeito para ele saber intuitivamente onde a causa está, porque a causa está escondida. Ele se tornará um espelho e ele encontrará o reflexo em si mesmo.
Este é todo o processo dela, e isto não está sendo ensinado porque isto não pode ser ensinado. Realmente vale a pena aprendê-la, assim a minha sugestão é, primeiro aprenda no ocidente por dois anos, então por pelo menos seis meses vá a algum país do extremo oriente e fique com um acupunturista. Apenas esteja em sua presença - apenas deixe-o trabalhar e observe. Somente absorva a sua energia e então você será capaz de fazer alguma coisa; de outro modo será difícil.
E se você começa a sentir a sua própria energia mais e mais, ou o trabalho dela em seu próprio corpo, a acupuntura não permanecerá somente uma técnica, ela se tornará um instrumento. E ela é um insight - você pode aprender a técnica e nada virá dela - é mais uma intuição do que uma arte. Isto é uma das coisas mais difíceis a respeito das técnicas antigas: elas não são científicas e se você as aborda com uma perspectiva científica você pode aprender algum detalhe mas a maior parte será perdida. E tudo o que você será capaz de aprender não será muito e isto será frustrante.
Toda abordagem antiga era totalmente diferente: ela não era lógica de forma alguma, era mais feminina, mais intuitiva, mais ilógica. Não se pensava em silogismo do modo que a mente científica pensa; ao invés disto estava-se em profunda participação com a existência - mais como num estado onírico, em um transe, e permitindo que a natureza liberasse seus segredos e mistérios. Não era uma agressão à natureza... mas no máximo uma persuasão . E a abordagem era do interior.
Deve-se abordar o próprio corpo a partir do núcleo mais interno. Estes setecentos pontos não eram percebidos objetivamente, eles eram percebidos em profunda meditação. Quando se vai profundamente para dentro e se olha de dentro - uma tremenda experiência ocorre - pode-se ver todos os pontos da acupuntura envolvendo a si mesmo, como se a noite estivesse cheia de estrelas. E quando você viu estes pontos de energia, somente então você está pronto. Agora você tem uma compreensão interior e simplesmente tocando o corpo de outra pessoa você será capaz de sentir onde a energia do corpo está faltando e onde não está; onde ela está se movendo e onde não está se movendo; onde está frio e onde está quente; onde está vivo e onde morreu. Existem pontos nos quais ela responde e existem pontos nos quais ela não responde de forma alguma.
Você será capaz de conhecer a acupuntura somente na medida em que você se tornou capaz de conhecer a si mesmo e quando ambos coincidem existe uma grande luz. Nesta luz você pode ver tudo – não somente a respeito de si mesmo mas a respeito do corpo dos outros. Uma nova visão surge como se um terceiro olho fosse aberto.
A acupuntura não é uma ciência mas uma arte e toda arte demanda uma profunda entrega. Não é como qualquer outra técnica que um técnico pode manipular. Ela precisa de todo o seu coração. Você tem que esquecer a si mesmo, como um pintor se esquece enquanto pinta, ou um poeta se esquece enquanto compõe, ou um músico se esquece enquanto toca. Ela é este tipo de coisa. Um técnico pode praticar acupuntura mas ele nunca será exatamente o que é necessário. Ele nunca será aquilo. Ele pode ajudar algumas poucas pessoas, mas a acupuntura é uma grande arte, uma grande habilidade. Ela tem que ser absorvida. O segredo é a entrega: se você pode se entregar totalmente, se ela se torna uma devoção, uma dedicação - e ela pode se tornar. Entre nela, entre com todo o coração, com alegria.
Comece a ficar por conta própria. E você terá que achar o seu próprio jeito. A acupuntura é um jeito e uma arte, e não existe nenhuma necessidade de seguir alguém como uma regra. Não existem regras . Regras não existem, só insights. Assim comece trabalhando por conta própria... No começo você sentirá um pouco de insegurança e você se preocupará muitas vezes se está fazendo a coisa certa ou não. Mas é como alguém tem que começar. É um tipo de apalpar no escuro. Mais cedo ou mais tarde você encontrará a porta. Uma vez que você começou a encontrar a porta então menos e menos tatear no escuro será necessário. Então você conhece a porta. Comece trabalhando!
Quando você toca o corpo de alguém ou trabalha com agulhas, você está trabalhando em Deus. Tem-se que ser muito respeitoso, muito hesitante. Tem-se que trabalhar não a partir do conhecimento mas a partir do amor. O conhecimento nunca é adequado, ele não é suficiente. Então preocupe-se com a pessoa. E sempre sinta-se inadequado, porque o conhecimento é limitado e a outra pessoa é um mundo inteiro, quase infinito... As pessoas o tocam mas elas nunca tocam você. Elas tocam somente a periferia e você está lá em algum lugar fundo, no centro, onde ninguém entra exceto o amor. O homem é um mistério e continuará permanecendo um mistério para sempre. Não é algo acidental que o homem é um mistério. O mistério é o seu próprio ser."

Fonte: Livro – Osho, O livro da cura
Tradução: Sw Dhyan Yukti
Editora: Shanti

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Orelhas em Terapia

A auriculoterapia é um método bastante popular de tratamento da medicina tradicional chinesa. Ela segue o princípio de que existem certas áreas do corpo onde o todo do organismo e suas funções está refletido. Ou seja, existem algumas partes específicas do corpo que são consideradas micro-sistemas, por exemplo: mãos, pés, face, orelhas, etc, e através destes locais acessamos e interferimos no funcionamento de áreas distantes que ali estão refletidas.
A terapia auricular utiliza somente a região das orelhas para o tratamento. Nelas encontramos uma série de pontos reflexos e tratamos uma variedade extensa de sinais e sintomas, desde os puramente físicos aos emocionais, já que a medicina chinesa não faz exatamente uma distinção entre estas duas esferas.

Como é o tratamento
A princípio é feita uma cuidadosa observação do aspecto da orelha, procurando-se alterações no tecido, como descamações, pontos vermelhos ou pálidos, rachaduras, ressecamento, oleosidade, etc. É necessária também uma investigação das queixas do paciente e de sua condição geral. Então, com base em mapas pré-definidos e na observação, selecionam-se um ou mais pontos para o tratamento.
O estímulo nos pontos auriculares pode ser feito com agulhas longas ou curtas, com agulhas semi-permanentes (que podem ficar fixas por algum tempo nos pontos que se quer estimular), com esferas de metal, ima, cristal, e até mesmo sementes naturais. Quando utilizamos agulhas geralmente nos referimos à técnica como auriculo-acupuntura ou acupuntura auricular.
Uma vantagem desta técnica é que os pontos nas orelhas vão sendo estimulados muito tempo depois que o paciente já deixou o consultório de seu acupunturista. Dependendo do método, pode-se manter o estímulo com esferas ou sementes por até uma semana ou mais e o paciente precisa somente pressionar de tempos em tempos o local.

Indicações
A acupuntura auricular ou auriculoterapia pode ser usada tanto em casos crônicos quanto em agudos. Pode ser utilizada sozinha ou em conjunto, como coadjuvante de outras técnicas (acupuntura, massoterapia, etc).
Por manter um estímulo constante, é bastante indicada no tratamento de vícios como tabagismo, alcoolismo e drogadição (conjuntamente com outros métodos). E também é bastante procurada no tratamento para o controle de peso, aliviando a compulsão e a ansiedade envolvida no processo.
Em alguns casos onde não há muitos recursos, um objeto de ponta fina é suficiente para estimular alguns pontos auriculares e aliviar uma dor de cabeça ou uma crise de pressão alta. Basta que se saiba a correta localização dos pontos e como efetuar o estímulo correto.
Em crianças também é um método muito eficaz, já que a acupuntura com agulhas no corpo muitas vezes é contra-indicada devido à idade ou devido ao pânico que causa nos pequenos. As esferas de ima, cristal, ouro ou prata viram além de um tratamento uma brincadeira, e os pequenos tem uma resposta bastante rápida ao estímulo auricular.

Diferentes escolas
Em se tratando de auriculoterapia e auriculoacupuntura, existem diferentes escolas e linhas de pensamento. O que muda muitas vezes é a localização de alguns pontos e as técnicas de estímulo. Além da chinesa, existe a linha coreana, a escola francesa, etc. Todas elas trazem benefícios e tem suas especificidades.
Antes de tudo, ao procurar este tipo de tratamento o mais importante é verificar a formação e a prática do terapeuta. Em medicina chinesa muitas vezes a experiência do terapeuta conta mais que o número de diplomas que estão pendurados numa parede. E certifique-se também das boas condições de higiene do local e que o material é totalmente descartável. Então, orelhas à mostra e vamos lá!

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Conceitos de Base da MTC: Qi

Entendendo o termo
O conceito de Qi (Chi, T’chi ou Ki, traduzido de uma maneira simplória como Energia), é um dos mais importantes no entendimento da medicina oriental e da visão de mundo chinesa. Wang Chong, um sábio que viveu de 27 a 97 d.C. afirmou certa vez que “a vida e a morte não são nada em si mesmas, mas uma agregação e dispersão do Qi”. Com isso ele quis dizer que absolutamente tudo o que existe pode ser definido por seu Qi, já que seu movimento é a base da vida e de tudo o que existe.
Através da observação criteriosa dos próprios corpos e do mundo que os cercava, os cientistas naturais da China antiga chegaram à conclusão de que a energia do corpo humano não é um mero combustível. Nosso organismo é energia materializada, assim como tudo no universo. O universo e tudo o que nele pode ser detectado, inclusive os seres humanos, formam uma vasta teia de aglomerados, conexões, fluxos e trocas energéticas.

Saúde e equilíbrio da energia
O Qi é a base da vida. Ele também é a base da nossa saúde: quando está no auge e em equilíbrio nosso sistema defensivo está forte, quando está desequilibrado nos tornamos alvo fácil para invasões e desorganização. É por isso que as pessoas reagem de formas diferentes ao meio que as cerca.
Em contato com as mesmas condições ambientais (por exemplo, uma mudança brusca de clima) algumas pessoas ficam doentes, apresentando sintomas desagradáveis e outras não. O que explica isso se o ambiente é o mesmo? O que torna algumas pessoas imunes e outras mais vulneráveis? O que há de diferente nas pessoas resistentes a doenças?
Toda cura e a própria manutenção da saúde dependem da energia. E os padrões de energia são individuais assim como as impressões digitais. Eles vão determinar a maneira como reagimos ao mundo, nosso nível de vitalidade, nossa resposta a condições adversas e nossa melhora diante de tratamentos. São essas nossas reservas individuais de energia que proporcionam a força interna que nos mantém saudáveis.

Cultivando a energia interna
Fazemos parte de um mundo em constante mutação, sujeitos a estresses e variabilidades. O que garante que fiquemos firmes diante das constantes alterações é nosso Qi. Se aprendermos a aumentar nosso Qi poderemos utilizá-lo para manutenção do nosso equilíbrio e também para auxiliar outras pessoas. Então como fazê-lo?
O termo chinês para cultivar a energia se chama Chi Kung, que significa “exercício de energia interna”. Existem muitas técnicas de Chi Kung que incluem sistemas de movimento (por exemplo o Tai Chi Chuan) além de outras que envolvem respirações e visualizações. No entanto qualquer tipo de atividade física irá colaborar no incremento da energia interna.
A Medicina Tradicional Chinesa também utiliza as agulhas, massagens, dietas, ervas e outras terapias com o objetivo de cultivar, harmonizar, incrementar e estabilizar a energia do homem. Todas estas práticas baseiam-se na compreensão do ser humano como um campo de energia completo.
Além disso, a energia pode chegar até nós sobretudo nas nossas atividades cotidianas. O cuidado com a alimentação, uma boa respiração, a manutenção da qualidade de vida e do equilíbrio emocional são variáveis que vão afetar diretamente o nosso Qi. Os sinais de equilíbrio são evidentes: uma boa saúde, resistência aos estresses e inabalável paz interior. Então, comece hoje mesmo o cultivo da sua energia interna. As técnicas são simples, mas a sabedoria por trás delas é profunda.

sábado, 25 de julho de 2009

Medo de agulhas

A acupuntura vem sendo cada vez mais reconhecida no Brasil e sua prática já é antiga no país. Quase todos já ouviram falar da técnica ou conhecem pessoas que já se beneficiaram de seus efeitos positivos. No entanto muitos ainda relutam em procurar este tipo de terapêutica devido a um problema comum na nossa sociedade: o terrível medo de agulhas. E se você é uma dessas pessoas que tem curiosidade, precisa de algum tratamento ou já teve intenção de fazer acupuntura e na última hora, lembrando das agulhas, acabou desistindo, então você precisa ler este artigo.

Força do hábito
É interessante comentar que na China até mesmo as crianças são acostumadas com este tipo de tratamento. Mas obviamente elas crescem vendo agulhas espetadas em outros ou em si mesmas e, pelo costume, acabam não sentindo mais medo. É comum ver pelos corredores de hospitais as crianças brincando com as cabeças cheias de agulhas, e nem sequer se importando com isto. Não é difícil de perceber, porém, que muito da tranqüilidade dos chineses vem de seu passado cultural.
No Brasil é culturalmente muito diferente: desde crianças temos medo das temidas injeções e este medo muitas vezes nos acompanha até a idade adulta. Muitas vezes até mesmo dizemos para crianças pequenas que se elas não fizerem as coisas como queremos irão "levar uma injeção", como sinônimo de algo muito doloroso. Isso acaba associando as agulhas a sentimentos ruins.
Por isso é importante esclarecer que, apesar das temidas agulhas, a acupuntura quando bem executada é praticamente indolor. As agulhas de acupuntura são muito finas, além de serem maciças (diferentemente das agulhas de injeção). Não se pretende atingir vasos sanguíneos dolorosos e a inserção geralmente não é profunda. A dor pela inserção das agulhas é extremamente leve (e em alguns pontos elas mal são sentidas). Quando inseridas corretamente, logo deixam de ser percebidas no corpo.

Um misto de sensações
Os pacientes geralmente referem que as sensações que acompanham a inserção das agulhas de acupuntura podem ser variadas, mas não podem ser descritas exatamente como dor. Alguns relatam um adormecimento, outros uma sensação parecida com um leve choque que se propaga para cima ou para baixo, alguns relatam uma sensação de peso, um formigamento, etc. A reação é individual, mas não dolorosa.
A dor também não é uma sensação procurada pelo acupunturista. Geralmente ela é evitada, solicitando-se que o paciente reclame de qualquer tipo de desconforto após a inserção das agulhas. A dor pode indicar que a agulha esta mal inserida ou que sua posição precisa ser modificada. O ideal é que após a inserção das agulhas o paciente esteja totalmente relaxado, sem nenhuma sensação incômoda, e possa ficar alguns minutos em repouso, ou até mesmo dormir.
E de fato muitos pacientes dormem após a inserção das agulhas. Isso parece para os mais medrosos uma coisa impossível de acontecer. Mas isso ocorre, pois geralmente a acupuntura promove um desembaraçamento das tensões e uma indução ao sono, levando a um estado de "preguiça gostosa". Recursos como música suave e um ambiente agradável também podem ajudar no processo.

Vencendo o medo
Se ainda assim você não é capaz de vencer seu pânico das agulhas, saiba que existem técnicas alternativas onde as agulhas não são utilizadas. Os pontos de acupuntura podem ser estimulados através de massagens, da colocação de pastilhas ou esferas estimulantes, magnetos, aplicação de calor, etc. Existem outras ferramentas que, num caso extremo, podem substituir as agulhas, embora o resultado delas seja indiscutível e rápido.
Então, se você é uma das pessoas que sempre quis fazer acupuntura e por causa das temidas agulhas nunca teve coragem de tentar, eu o convido a experimentar. Comente com seu acupunturista sobre seu temor e ele irá iniciar o tratamento de uma maneira mais suave, com um número reduzido de agulhas e com muita paciência. Acredito que depois da primeira ou segunda sessão seu medo irá desaparecer completamente e você também poderá se beneficiar sempre desta técnica e de seus ótimos resultados. Se ainda assim não for possível vencer o trauma, solicite técnicas alternativas sem a utilização de agulhas e usufrua desta sabedoria milenar e seus efeitos poderosos.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Proteção contra maus espíritos

Detalhes da China... telhado da Cidade Proibida.
A quantidade de totens em porcelana representa a riqueza do dono da casa.

Foto: Analyce Claudino
(clique para ampliar)

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Raiva, o inimigo interior

As emoções são consideradas na Medicina Tradicional Chinesa como fatores causadores de doenças. Como já comentei em artigos anteriores, essas emoções quando intensas, abruptas ou prolongadas, afetam a circulação de energia e causam conseqüências desagradáveis para todos os sistemas internos, resultando numa ampla variedade de sintomas.
Dentre todas as emoções, a Raiva é uma das que traz mais prejuízo. Ela é de certa forma aceita socialmente, ou seja, as pessoas acreditam que geralmente a Raiva é justificada. No entanto, se olharmos cuidadosamente, a Raiva é um dos maiores enganos que podemos cometer. Ela é praticamente um veneno que a própria pessoa toma, achando que deste modo vai estar atingindo o outro ou o objeto da sua Raiva.

Características da Raiva
A Raiva geralmente surge de algum tipo de contrariedade. Quando nos apegamos a nós mesmos, ao que achamos que é certo, às nossas opiniões, à nossa maneira de ver o mundo, quando defendemos nossa felicidade e estes objetivos são de alguma forma frustrados, é aí precisamente que começa a Raiva.
Ela é uma emoção yang, ou seja, que tende a ser expressada por uma ação e tende a se dirigir ao exterior (geralmente ao objeto de nossa Raiva). Internamente, ela vai atrapalhar a circulação de energia do organismo, aumentando o calor interno e afetando principalmente a parte superior, como ombros, pescoço e cabeça. Por isso facilmente reconhecemos em nós mesmos e nos outros a Raiva através da tensão muscular de todo corpo, dos olhos e rosto vermelho, dos movimentos agressivos, das palavras ríspidas que saem como labaredas. E como todo o organismo é interligado, essa energia vai sendo propagada atingindo o sistema cardíaco, o digestivo, e assim por diante.

Expressão ou repressão?
Mas não imagine que então reprimir a sua Raiva, para que ela não se exteriorize seja a solução. A Raiva, por ser yang, é de natureza expansiva, e ao reprimirmos ficamos semelhantes a uma panela de pressão. Por um lado, se não houver nenhum escape, quando a pressão interna atingir um certo limite vai explodir, resultando em ações e atitudes ainda mais maléficas. Por outro lado, esse esforço empreendido para simplesmente segurar emoções negativas vai consumindo a vitalidade da pessoa, podendo a longo prazo resultar até mesmo em depressão e outras doenças que se materializam no corpo. Como eu disse, a Raiva tende ao exterior, e ir contra a sua natureza pode ser ainda mais prejudicial.
Qual seria a solução para este dilema, onde não podemos nem exprimir nem reprimir a Raiva? Temos que agir na base do problema, refletindo e buscando meios de evitar que ela se desenvolva. Antes de tudo, temos que freiar a intenção de reagir imediatamente quando algo irritante acontece, e conseguir nos dar um pequeno tempo para respirar, para pensar e procurar analisar a situação.

Reflexões que equilibram a mente
Geralmente acreditamos que o único modo de conseguir a felicidade é controlando as circunstâncias externas da nossa vida, tentando consertar o que nos parece errado e nos livrar de tudo o que nos incomoda. Mas o verdadeiro problema encontra-se em nossa reação a essas circunstâncias. Então antes de qualquer coisa, o que temos que mudar é a nossa atitude. Precisamos exercitar nossa maleabilidade, adaptação e aceitação. Nem sempre as coisas sairão como planejamos. Os eventos são formados por múltiplas causas, não é possível ter 100% o controle da situação.
Temos que pensar também que, assim como nós, todas as pessoas estão buscando a própria felicidade, e algumas o fazem de maneiras que podemos não concordar. Mas quando você deixa a Raiva tomar conta da sua mente e do seu corpo, ao invés de destruir o seu inimigo, você mesmo se destrói. Então procure refletir que absolutamente todas as circunstâncias são passageiras, inclusive a que está gerando sua Raiva. Problemas fazem parte da existência e sempre podem acontecer, esteja preparado com antecedência e isso irá ajudá-lo a manter sua paciência se eles acontecerem de fato.
Não contraponha Raiva à Raiva. Se você compreende como é insano a pessoa reagir com Raiva com relação a você, seria mais insano da sua parte responder da mesma maneira. Através da compreensão dos mecanismos geradores da Raiva, você estará mais apto a praticar o exercício de manter a sua mente equilibrada, evitando assim prejuízos para seu corpo e pacificando sua mente.
“Não há mal que se compare à Raiva: por sua própria natureza, a Raiva é destrutiva, um inimigo. Dado que nem uma gota de felicidade jamais nasce dela, a Raiva é uma das mais potentes forças negativas" (Chagdud Tulku Rinpoche).
Deste modo, reflita e neutralize. Seu organismo e o universo agradece.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Tratando doentes e não doenças

O entendimento dos conceitos de saúde e doença na Medicina Tradicional Chinesa é, no mínimo, interessante. A doença para nós sempre foi vista como algo que nos acometeu de repente, geralmente alguma coisa que veio “de fora”, totalmente independente da nossa vida cotidiana e da nossa vontade. Falando francamente, a doença ou qualquer sintoma nos vem como um obstáculo à nossa vida normal, ou seja, um estorvo, que deve ser eliminado o mais rápido possível para que então possamos voltar a fazer as mesmas coisas de antes.
”Quanto engano!”, nos diriam os sábios chineses antigos. Para eles, qualquer tipo de sintoma nos vem como um alerta, um aviso, um verdadeiro “amigo” que nos sopra ao ouvido que há alguma coisa errada em nosso ser total. Então, ao invés de simplesmente eliminá-lo, é preciso ouvir o que ele tem a nos dizer.

Sintomas: reflexos na superfície
Por que, diante de condições iguais, por exemplo uma exposição a um tempo frio, algumas pessoas começam a ficar com sintomas desagradáveis e outras não? E por que os sintomas mudam de uma pessoa para outra, se elas estiveram sujeitas às mesmas condições ambientais? A resposta para esta questão está na resistência que a pessoa é capaz de impor à situação. A energia, o equilíbrio das funções internas é diferente de uma pessoa para outra, e uma vez que este equilíbrio seja rompido ou abalado, aí sim começam a aparecer os sintomas: uma tosse, uma dor na cabeça, calafrios, etc. Estes sintomas são diferentes de indivíduo para indivíduo... cada um tem suas armas para lutar, cada um tem seus próprios pontos fracos.
Os sintomas são um reflexo do organismo, da defesa energética, na tentativa de recuperar o balanço. Sinalizam sempre um desequilíbrio energético de base, mais profundo. Sintomas intensos nem sempre são ruins, eles podem representar a resposta de uma defesa interna forte, de uma luta na tentativa de expulsar os agentes patogênicos do corpo, que em medicina chinesa chamamos de “frio”, “calor”, “umidade”, “vento”, “segura” (diferentes qualidades de energia). Sintomas débeis podem indicar tanto um desequilíbrio não muito importante, como por outro lado podem estar indicando que o corpo está perdendo a capacidade de recuperar o equilíbrio perdido.

Comunhão com o todo
O ser humano está inserido no meio ambiente e responde às leis do Céu e da Terra. Portanto, necessita de constante adaptação. Não há como viver imune, isolado das energias externas que incidem sobre nós. Mas há como aprender a sustentar o equilíbrio interno para que a capacidade de resistência às constantes mudanças do meio fique eficiente.
Este raciocínio serve não só para os sintomas físicos, mas também os psicológicos. Não é possível viver à parte das inúmeras situações que nos geram angústia, desconforto, tristeza, raiva... Mas é possível mudar nossa atitude e com isso preservar o espírito e manter a harmonia interna.
A saúde, entendida deste modo, não é somente não ficar doente. É também ter a capacidade de ficar doente e se recuperar, ou seja, recuperar o equilíbrio energético, de modo que os sintomas desapareçam.

Tratando pessoas
Deste modo, na Medicina Tradicional Chinesa, não se tratam “doenças”. Acima de tudo se tratam “doentes”: organismos que por algum motivo estão “fora do eixo”, e precisam buscar um novo ponto de equilíbrio. Para isso é necessário não apenas eliminar os sintomas, mas entendê-los, escutá-los com atenção e tomar a responsabilidade de efetuar mudanças na vida cotidiana.
Pequenos ajustes podem fazer grandes diferenças, e estas medidas são sempre individuais. Não existem fórmulas mágicas e receitas gerais: “A mesma resposta não é necessariamente verdadeira em todas as situações. A verdade da vida é sempre mutante” (Tsai Chih Chung).
Oscilar é natural num mundo em constante mutação. O ser que não oscila, não é saudável. É importante que cada pessoa encontre o seu próprio ritmo.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Emoções que causam doenças

Na tradição oriental, existem três fatores causadores de doença que são levados em conta: os fatores externos, os internos e os mistos. Os fatores externos se referem às seis influências climáticas perniciosas (energias denominadas: Vento, Frio, Calor, Umidade, Secura e Fogo). Os fatores mistos se referem ao estilo de vida (nutrição, ocupação, atividade física, relacionamentos, traumas, parasitas, etc.). E os fatores internos são os que mais nos interessam neste artigo: são as Cinco Emoções.

As Cinco Emoções
As Cinco Emoções identificadas pelos orientais como importantes fatores internos que desencadeiam as patologias são: Alegria, Raiva, Preocupação, Tristeza e Medo.
Elas afetam as funções harmoniosas dos Órgãos e Vísceras, a formação de Substâncias Puras e o transporte delas através dos Canais de Energia para todas as partes do corpo, podendo assim desestabilizar o equilíbrio Yin-Yang do homem.
Por representarem as modificações do Espírito em reação à percepção de mensagens transmitidas pelo ambiente, as Emoções não são patogênicas em si ou quando o quadro energético não dá condições ao desequilíbrio. Porém, em seguida a stress brutais, extremos, violentos ou muito prolongados essas Emoções, segundo a sua natureza, atuam de maneira oposta sobre a circulação da energia, obstruindo, produzindo excessos ou deficiências.

Influência no fluxo energético
O primeiro efeito do estresse emocional é afetar a circulação e a direção apropriada do Qi (Energia), sendo que cada emoção vai ter um efeito particular. Resumidamente:
• Raiva (ressentimento, irritação, fúria, indignação, amargura): a agressividade é uma emoção necessária para a sobrevivência e a adaptação do homem, impulsionando a construção e o crescimento. Já a Raiva (ira) é uma manifestação extrema da agressividade que em vez de ajudar leva à desarmonia interna. A Raiva faz o Qi subir ou ficar contra-corrente, e vários sintomas e sinais aparecerão no corpo e nos órgãos.
• Alegria (excitação excessiva, ansiedade, mania, excesso de estimulação mental): o significado de Alegria como uma causa de doença não se trata obviamente de um estado de contentamento saudável, antes, é um estado de excitação excessiva e ansiosa que pode gerar palpitações, insônia, inquietação, etc. A Alegria consome excessivamente e dispersa o Qi.
• Pensamento obsessivo (preocupação): os pensamentos fixos levam à obsessão, às regras rígidas e à perda de flexibilidade. A preocupação prende e estagna a circulação de Qi. Os sintomas e sinais vão variar dependendo do órgão afetado. A mesma energia que nos dá capacidade de meditação e contemplação irá, se for excessiva e mal orientada, gerar pensamentos focados, “remoídos” e incessantes.
• Tristeza (pesar, dor, mágoa, melancolia): é uma emoção que permite entrar em contato consigo mesmo e elaborar a impermanência e mutação que é inerente à vida, não devendo ser considerada anormal. Já a tristeza profunda, prolongada ou desligada da realidade é problemática e pode levar a um estado depressivo. Ela esgota e torna o Qi deficiente, resultando na diminuição da respiração e da energia como um todo.
• Medo (ansiedade, susto, terror, pânico): é considerado a emoção básica, e é necessário porque ajuda o homem a identificar perigos e a adaptar-se corretamente às situações. Ele modera a impulsividade, aumentando o tempo entre a intenção e a ação. Contudo, em situações de excesso o medo paralisa e faz o Qi descer. Torna a pessoa insegura, dependente e incapaz de realizar objetivos em longo prazo.

Equilibrando a mente
A harmonia das funções dos Órgãos e Vísceras e entre as Cinco Emoções a eles ligadas proporciona no homem a capacidade de responder ao meio ambiente de uma maneira equilibrada.
Não devemos confundir nossa vida mental e espiritual com nossa vida emocional. É perfeitamente possível ser ativo e animado sem estar sobrecarregado de emoções excessivas que perturbam a mente e que podem, em certo tempo, resultar em doenças que irão se materializar também a nível físico.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Conceitos de base da MTC: Tao e Yin Yang

O Taoísmo é um sistema filosófico-religioso que modelou o caráter do povo chinês ao longo de mais de dois mil anos. Atribui-se a criação do Taoísmo a Lao-Tsé, suposto autor do Tao Te Ching (o Livro da Razão Suprema), compilado provavelmente por volta de 300 a.C. e considerado a sua principal fonte de conhecimento.
Lao-Tsé deduziu, a partir do Livro das Mutações que a mudança de todos os fenômenos não ocorre por coincidência. A mudança é uma tendência natural, inata em todas as coisas e situações. O universo está empenhado em um movimento cíclico e contínuo a que os chineses chamaram de Tao: o caminho. O Tao, assim compreendido, é o grande princípio primordial, é a força que dá corda ao relógio mundo.

Dança dos opostos
Lao-Tsé percebeu também que o movimento natural ocorre sempre por meio uma dança contínua entre princípios opostos que mais tarde foram denominados Yin e Yang e representados pelo símbolo bastante conhecido chamado de Tai Chi:

O Yang expressa o papel ativo, dinâmico e masculino e o Yin o papel passivo, estático e feminino. A filosofia chinesa des
envolveu e generalizou estes termos a toda natureza, mostrando que o princípi
o de oposição se encontra em todas as partes e que é, por assim dizer, a origem de toda manifestação. Toda manifestação contém, em proporções variáveis, ambos os princípios, dos quais um deles se sobressai, se destaca, porém só temporariamente, para dar lugar ao predomínio do contrário.
A mutação dos fenômenos naturais mostra a alternância Yin Yang e mostra também o mecanismo que opera em seu interior: Yang
contém o Yin, Yin contém o Yang. Cada um tem o seu oposto dentro de si. O oposto crescerá lentamente até destruir o seu hóspede: Yin haverá se transformado em Yang e vice-versa. E neste momento o processo inverso já começa a ocorrer.

Impermanência do mundo
Partindo deste princípio, o estado de imobilidade absoluta é uma abstração que não se pode conceber. Tudo o que existe está fadado a mudar incondicionalmente:
“O que é imperfeito será perfeito; / O que é curvo será reto; / O que é vazio será cheio; / Onde há falta haverá abundância; / Onde há plenitude haverá vacuidade. / Quando algo se dissolve, algo nasce.” (Lao-Tsé)
Podemos entender o Tao então, como o princípio a partir do qual toda a polaridade surge. Toda polaridade radica na unidade, e esses dois em si são um; por isso é difícil falar de Yin Yang sem falar do Tao e vice-versa.
As formas exteriores e observáveis do Tao são: o alto e o baixo, o belo e o feio, o bom e o mal. Mas: “Só temos consciência do belo / Quando conhecemos o feio. / Só temos consciência do bom / Quando conhecemos o mau / Porquanto o Ser e o Existir / Se engendram mutuamente / O fácil e o difícil se completam / O grande e o pequeno são complementares / O alto e o baixo formam um todo / O som e o silêncio formam a harmonia / O passado e o futuro geram o tempo.” (Lao-Tsé)

Compreendendo o caminho
A compreensão do Tao passa pela aceitação dos opostos no mundo dos fenômenos, sem atribuição de valor, apenas como um atributo da mutação. O que é bom ou mau não é Yin ou Yang, mas o equilíbrio ou desequilíbrio que podem existir entre eles.
Ao escrever sobre o Tao, chegamos à conclusão de que é difícil falar sobre ele e de que captar seu sentido aproxima-se mais de uma vivência espontânea do que do estudo de conceitos abstratos. Nas palavras do Tao Te Ching: “Quanto mais falamos no Universo, menos o compreendemos. O melhor é escutá-lo em silêncio”.