terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Tao Te Ching - Capítulo XXIX


Tentando controlar o mundo?
Vejo que não terá êxito.

O mundo é uma nave espiritual
E não pode ser controlado.

Quem controla fracassa.
Quem se apega perde.

Alguns avançam, alguns são levados,
Alguns choram, alguns tocam flauta,
Alguns se fortalecem, alguns se tornam supérfluos,
Alguns oprimem, alguns são destruídos.

Por isso, o Sábio
Repudia extremos,
Repudia o excesso,
Repudia a extravagância.

Fonte: Lao Tzu - Tao Te Ching (Editora Martins Fontes)

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Fazendo escolhas saudáveis em 2010

De acordo com a Medicina Tradicional Chinesa, compreendemos as doenças sempre como sinais de um desequilíbrio energético maior. Os sintomas são sinais de alerta. O ser humano é considerado um microcosmo inserido no macrocosmo, portanto seu adoecimento reflete uma inadaptação não só interna, mas também nas suas relações com o mundo.
Os desequilíbrios energéticos são multi causais, provocados por uma justaposição de fatores: o emocional, o dietético, o climático-ambiental e o constitucional. E eles se deixam transparecer através dos sintomas: dores, cansaço, alterações emocionais, etc. Os desequilíbrios, portanto, transparecem geralmente através de complexos conjuntos de sinais e sintomas.

Mentalidade de consumo
O que fazemos quando estamos nos sentindo mal? Procuramos uma solução, geralmente através de uma mentalidade de consumo. Ou seja, queremos comprar uma pílula ou um xarope. Queremos pagar exames e uma consulta que nos faça sentir melhor. Mas isso não é o suficiente.
Desequilíbrios são resultado de escolhas erradas que fazemos em nossa vida. Nós não “pegamos” uma gripe que por acaso estava passando por aí... nós nos deixamos enfraquecer ou de alguma forma colaboramos para que nosso organismo somasse causas e condições suficientes para que tenhamos sido afetados. E apesar de toda a informação disponível atualmente não somos capazes de colocar em prática medidas cotidianas e simples para assegurar nossa resistência.

Terapia ao alcance de todos
Vamos pensar nas nossas escolhas então, na nossa responsabilidade. Quem sabe não nos alimentamos direito? Quem sabe andamos ingerindo muitas substâncias nocivas através de embutidos, enlatados e industrializados? Substâncias sintéticas e “mortas”, das quais o corpo não consegue extrair uma gota de energia viva? E que além do mais, por não serem reconhecidas de tão sintéticas e modificadas, se acumulam provocando toda sorte de bloqueios e toxinas?
Ou simplesmente não comemos, por falta de tempo, por ideais estéticos malucos, ou falta de informação sobre a propriedade medicinal dos alimentos, com seus diferentes sabores e cores. E isso não é caro ou difícil, existem feiras em todos os lugares, e muito baratas, que são verdadeiras farmácias naturais.

Esquecimento de si mesmo
Ou quem sabe andamos muito alheios de nós mesmos, levando a vida no “piloto automático”, sem refletir sobre os relacionamentos, o trabalho, os objetivos existenciais? Não damos importância às nossas emoções, e simplesmente as afastamos, sem ouví-las. Nos acomodamos iludindo a nós mesmos de que não temos escolha sobre o que nos acontece. Sim, muitas vezes não podemos mudar os fatos, mas podemos mudar nossa maneira de lidar com eles, e isso faz toda a diferença.
Quem sabe não estamos engolindo um pouco de álcool demais ou estamos engolindo antidepressivos demais para evitar pensar no que incomoda? Quanto tempo ficaremos dependentes de muletas e iremos preencher os vazios com todo tipo de produtos e ilusões, para evitar entrar em contato com o que precisa e deve ser mudado em nossa vida?

Comodismo perigoso
O que andamos escolhendo afinal, que nos faça preservar e reforçar a nossa saúde? Nós sabemos o que é necessário para alcançar uma vida equilibrada e com o mínimo de adoecimento. Cada pessoa tem a sabedoria intrínseca, e pode buscar informação no mundo, sobre o que pode ser bom para si. Por que não prestar atenção aos sinais e agir? Simplesmente porque às vezes não nos responsabilizamos por nós mesmos e preferimos comprar a saúde e a felicidade através de pílulas. De preferência pílulas pequenas e fáceis de engolir, e que não tenham gosto amargo.
Pois eu acho que mais amargo é viver a vida sem assumir a responsabilidade pelas próprias escolhas e pela própria saúde, sem questionar seu trabalho, suas relações, sem aproveitar crises para crescer e mudar. Sintomas e doenças são sinais de alarme, requerem nossa atenção. Crises são oportunidades. Se nós não fizermos as escolhas certas a cada dia por nós mesmos, quem fará? A quem ou ao quê iremos culpar no final?

sábado, 5 de dezembro de 2009

Cuidados democráticos em saúde

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), a partir da segunda metade do século XX, a saúde passou a ser definida como resultante do bem-estar físico, mental, social e espiritual, e não apenas a ausência de doença. Este conceito mais amplo veio impulsionar novas práticas terapêuticas, e também estimulou o interesse em conhecimentos e técnicas de eficácia comprovada existentes na medicina oriental e na medicina popular.
Atualmente os recursos da medicina popular e tradicional, entre elas a Medicina Tradicional Chinesa, são formalmente recomendadas pela OMS. Os praticantes dessas medicinas são reconhecidos como importantes aliados na organização e implementação de medidas para aprimorar a saúde da comunidade, tanto é que progressivamente estão sendo tomadas medidas legais que assegurem a inserção mais ampla destes profissionais no SUS, principalmente na área da Acupuntura.

Racionalidade médica oriental
A Acupuntura é uma das técnicas da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), que por sua vez faz parte das medicinas classificadas como “vitalistas”. Seus pilares de sustentação são: o princípio de que a energia é a fonte integradora e reguladora da matéria (ou seja, das estruturas orgânicas), a ênfase no doente (na pessoa como um todo) e não na doença (sintomas), a crença de que a doença provém principalmente de um desequilíbrio energético do ser total (holismo) e não somente a partir de agentes patogênicos externos.
A MTC consiste em um sistema completo, também denominado racionalidade médica, já que possui sua própria anatomia, fisiologia, sua própria noção de saúde-doença, procedimentos diagnósticos e terapêutica; além de uma visão de mundo (ou uma filosofia) subjacente a todas essas dimensões. É um sistema que privilegia o cuidado preventivo em saúde, e onde o paciente assume juntamente com o terapeuta a responsabilidade no processo de cura, sem depender totalmente do burocrático sistema de saúde e sua indústria farmacêutica e hospitalar.

Crise
A medicina ocidental, baseada em alta tecnologia hospitalar e farmacêutica, torna-se cada vez mais onerosa para a sociedade, o que impede sua oferta democrática e contribui para a crise crescente no setor. Apesar de toda a alta tecnologia e especialização, a medicina ocidental atravessa uma crise profunda que se verifica na sua incapacidade de dar conta das necessidades de saúde da população em geral. Isso apóia e justifica a inclusão das chamadas práticas alternativas no SUS e na sociedade, possibilitando ao usuário o direito de escolher a terapêutica preferida.
Os paradigmas e técnicas da Acupuntura e da MTC compartilham da lógica da OMS que pretende buscar cada vez mais um sistema de saúde baseado em tecnologia simplificada, com resgate da responsabilidade de cuidado da saúde pelo próprio indivíduo. Compartilham também do conceito que define o homem numa dimensão ampla, incluindo além do meio físico, também seu meio psicológico-sociocultural e até sua dimensão espiritual. Neste sentido vem ao encontro das necessidades e demandas da população e do momento atual.

Unificando
O reconhecimento de que o método científico e a tradição ocidental não são as únicas fontes de produção da verdade não implica sua rejeição. Ao invés de privilegiarmos um ou outro sistema de conhecimentos e cuidados em saúde, ou nos degladiarmos em discussões sobre a validade do alternativo ou do convencional, devemos sim buscar o diálogo e a prática. A partir disso a transcendência para um novo paradigma terá oportunidade de acontecer, onde ambas as compreensões sejam incluídas numa visão mais abrangente e universal.