terça-feira, 27 de julho de 2010

Um grande guerreiro


Certa vez existiu um grande guerreiro. Mesmo muito velho, ele ainda era capaz de derrotar qualquer desafiante. Sua reputação estendeu-se por toda a China, e muitos estudantes reuniam-se para aprender artes marciais sob sua orientação.

Um dia, um jovem guerreiro foi procurá-lo determinado a ser o primeiro homem a derrotar o grande mestre. Além de muita força física, ele possuía uma habilidade fantástica com a espada. Sua tática era ofender o oponente até que ele perdesse a concentração. Ele esperaria o primeiro movimento e, então, atacaria com a velocidade de um raio. Ninguém jamais havia resistido.

Contra todas as advertências de seus estudantes, o velho mestre aceitou o desafio do jovem guerreiro. Os dois se posicionaram para a luta e o jovem guerreiro começou a lançar insultos ao velho mestre. Jogava terra e cuspia em sua face. Por horas ele ofendeu o velho com todos os tipos de insultos e maldições. Mas o velho mestre, simplesmente, ficou parado. Esperando. E o jovem guerreiro finalmente ficou exausto. Percebendo que tinha sido derrotado, fugiu vergonhosamente.

Os estudantes do velho mestre ficaram um pouco desapontados por não terem visto ele lutar contra o jovem, mas também ficaram impressionados com a disciplina do mestre.

“Como o senhor conseguiu suportar tantos insultos? Como conseguiu derrota-lo sem ao menos se mover?”, perguntaram.

“Se alguém lhe dá um presente e você não o aceita, para quem retorna este presente?”, perguntou o mestre.


Em: Bruno Pacheco - Pocket Zen: 100 histórias budistas para meditar. Editora Nova Era.

terça-feira, 6 de julho de 2010

O espírito na MTC

Antes da formação do Céu e da Terra, quando todas as coisas se encontravam ainda numa confusão, existia somente a matéria primordial do universo em estado de vapor. A isso se chamava Tai (o que é muito grande) ou I (o que não é dividido). Essa matéria primordial ocupava tudo e por isso é chamada de A Grande Unidade.
Porém essa Grande Unidade se dividiu, em sua parte mais leve e pura formou o Céu que ficou na região superior, e em sua parte mais pesada e espessa formou a Terra que ficou embaixo. As emanações e forças a girarem no Céu formaram o princípio Yang (princípio da luz, da vida, do crescimento), e os vapores e emanações da Terra formaram o princípio Yin (princípio das trevas, da morte, do decrescimento).

O homem
Com a formação das polaridades, o princípio Yang originou a Primavera e o Verão, e o princípio Yin produziu o Outono e o Inverno. As quatro estações transformam, fazem nascer e crescer a todos os seres. E assim, através de uma espécie de metamorfose, cada um dos seres ganha existência no instante de sua concepção, saindo do caos primordial.
O homem, como todos os seres, sai deste plano dos seres indiferenciados, dos germes e das sementes invisíveis que é precedente e subjacente a toda manifestação. Ele se manifesta no domínio do que “tomou forma”, que é constituído pelo diálogo Céu-Terra. Daí o princípio clássico que diz: “O homem responde ao Céu e à Terra”.

Shen
Shen é o princípio de organização dinâmica que torna tangível toda nossa manifestação na Terra. É um princípio metafísico insondável, uma potência criadora atribuída a um indivíduo determinado e por ele centralizado. Pertence ao domínio das forças criadoras invisíveis, não materializáveis, e tem sido com freqüência, na falta de melhor termo, traduzido como Espírito Individual.
Ele surge por ocasião da passagem deste reservatório inesgotável dos princípios criadores ainda não atribuídos para a manifestação efetiva do ser. É inaugurado na concepção e continua a ser uma criação permanente ao longo da vida. Influencia a personalidade, o psiquismo, o equilíbrio energético, a forma corporal, a relação com o mundo e o poder de metamorfose manifestados em cada ser humano.
De Shen resulta para cada ser uma imagem e uma sensação de si mesmo e do Universo por ele vivenciado e identificado. Representa um “estar-no-mundo” específico para cada indivíduo. Para cada um Shen tem uma “lógica”. É, portanto, um “mecanismo secreto” cuja qualidade de expressão deve ser respeitada: cada um de nós deve se manter fiel à sua natureza.

Shen e cura
Num plano terapêutico, Shen é a força criadora do paciente, que ele precisa tentar mobilizar para a recuperação de desequilíbrios. Qualquer tratamento é inútil sem a conivência do Shen no paciente.
Segundo Eyssalet: “A técnica, as agulhas, massagens, movimentos reguladores, dietética, é totalmente dependente do Espírito, do estado de ser daquele que a prática e do poder de Metamorfose da relação terapêutica”.
Por isso, ele diz que “é preciso que as práticas tenham ‘Coração’, que não se tornem, portanto, comportamentos repetitivos, nem fixações mentais ou condutas angustiadas, mas que tenham um senso de alcance global, ajudem a pessoa a se sentir a si mesma, a centrar-se, a buscar imaginação criativa em relação aos seus próprios problemas”.

Para saber mais, leia: Shen ou o Instante Criador de Jean-Marc Eyssalet. Editora Gryphus.