sábado, 5 de dezembro de 2009

Cuidados democráticos em saúde

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), a partir da segunda metade do século XX, a saúde passou a ser definida como resultante do bem-estar físico, mental, social e espiritual, e não apenas a ausência de doença. Este conceito mais amplo veio impulsionar novas práticas terapêuticas, e também estimulou o interesse em conhecimentos e técnicas de eficácia comprovada existentes na medicina oriental e na medicina popular.
Atualmente os recursos da medicina popular e tradicional, entre elas a Medicina Tradicional Chinesa, são formalmente recomendadas pela OMS. Os praticantes dessas medicinas são reconhecidos como importantes aliados na organização e implementação de medidas para aprimorar a saúde da comunidade, tanto é que progressivamente estão sendo tomadas medidas legais que assegurem a inserção mais ampla destes profissionais no SUS, principalmente na área da Acupuntura.

Racionalidade médica oriental
A Acupuntura é uma das técnicas da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), que por sua vez faz parte das medicinas classificadas como “vitalistas”. Seus pilares de sustentação são: o princípio de que a energia é a fonte integradora e reguladora da matéria (ou seja, das estruturas orgânicas), a ênfase no doente (na pessoa como um todo) e não na doença (sintomas), a crença de que a doença provém principalmente de um desequilíbrio energético do ser total (holismo) e não somente a partir de agentes patogênicos externos.
A MTC consiste em um sistema completo, também denominado racionalidade médica, já que possui sua própria anatomia, fisiologia, sua própria noção de saúde-doença, procedimentos diagnósticos e terapêutica; além de uma visão de mundo (ou uma filosofia) subjacente a todas essas dimensões. É um sistema que privilegia o cuidado preventivo em saúde, e onde o paciente assume juntamente com o terapeuta a responsabilidade no processo de cura, sem depender totalmente do burocrático sistema de saúde e sua indústria farmacêutica e hospitalar.

Crise
A medicina ocidental, baseada em alta tecnologia hospitalar e farmacêutica, torna-se cada vez mais onerosa para a sociedade, o que impede sua oferta democrática e contribui para a crise crescente no setor. Apesar de toda a alta tecnologia e especialização, a medicina ocidental atravessa uma crise profunda que se verifica na sua incapacidade de dar conta das necessidades de saúde da população em geral. Isso apóia e justifica a inclusão das chamadas práticas alternativas no SUS e na sociedade, possibilitando ao usuário o direito de escolher a terapêutica preferida.
Os paradigmas e técnicas da Acupuntura e da MTC compartilham da lógica da OMS que pretende buscar cada vez mais um sistema de saúde baseado em tecnologia simplificada, com resgate da responsabilidade de cuidado da saúde pelo próprio indivíduo. Compartilham também do conceito que define o homem numa dimensão ampla, incluindo além do meio físico, também seu meio psicológico-sociocultural e até sua dimensão espiritual. Neste sentido vem ao encontro das necessidades e demandas da população e do momento atual.

Unificando
O reconhecimento de que o método científico e a tradição ocidental não são as únicas fontes de produção da verdade não implica sua rejeição. Ao invés de privilegiarmos um ou outro sistema de conhecimentos e cuidados em saúde, ou nos degladiarmos em discussões sobre a validade do alternativo ou do convencional, devemos sim buscar o diálogo e a prática. A partir disso a transcendência para um novo paradigma terá oportunidade de acontecer, onde ambas as compreensões sejam incluídas numa visão mais abrangente e universal.

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