sábado, 25 de julho de 2009

Medo de agulhas

A acupuntura vem sendo cada vez mais reconhecida no Brasil e sua prática já é antiga no país. Quase todos já ouviram falar da técnica ou conhecem pessoas que já se beneficiaram de seus efeitos positivos. No entanto muitos ainda relutam em procurar este tipo de terapêutica devido a um problema comum na nossa sociedade: o terrível medo de agulhas. E se você é uma dessas pessoas que tem curiosidade, precisa de algum tratamento ou já teve intenção de fazer acupuntura e na última hora, lembrando das agulhas, acabou desistindo, então você precisa ler este artigo.

Força do hábito
É interessante comentar que na China até mesmo as crianças são acostumadas com este tipo de tratamento. Mas obviamente elas crescem vendo agulhas espetadas em outros ou em si mesmas e, pelo costume, acabam não sentindo mais medo. É comum ver pelos corredores de hospitais as crianças brincando com as cabeças cheias de agulhas, e nem sequer se importando com isto. Não é difícil de perceber, porém, que muito da tranqüilidade dos chineses vem de seu passado cultural.
No Brasil é culturalmente muito diferente: desde crianças temos medo das temidas injeções e este medo muitas vezes nos acompanha até a idade adulta. Muitas vezes até mesmo dizemos para crianças pequenas que se elas não fizerem as coisas como queremos irão "levar uma injeção", como sinônimo de algo muito doloroso. Isso acaba associando as agulhas a sentimentos ruins.
Por isso é importante esclarecer que, apesar das temidas agulhas, a acupuntura quando bem executada é praticamente indolor. As agulhas de acupuntura são muito finas, além de serem maciças (diferentemente das agulhas de injeção). Não se pretende atingir vasos sanguíneos dolorosos e a inserção geralmente não é profunda. A dor pela inserção das agulhas é extremamente leve (e em alguns pontos elas mal são sentidas). Quando inseridas corretamente, logo deixam de ser percebidas no corpo.

Um misto de sensações
Os pacientes geralmente referem que as sensações que acompanham a inserção das agulhas de acupuntura podem ser variadas, mas não podem ser descritas exatamente como dor. Alguns relatam um adormecimento, outros uma sensação parecida com um leve choque que se propaga para cima ou para baixo, alguns relatam uma sensação de peso, um formigamento, etc. A reação é individual, mas não dolorosa.
A dor também não é uma sensação procurada pelo acupunturista. Geralmente ela é evitada, solicitando-se que o paciente reclame de qualquer tipo de desconforto após a inserção das agulhas. A dor pode indicar que a agulha esta mal inserida ou que sua posição precisa ser modificada. O ideal é que após a inserção das agulhas o paciente esteja totalmente relaxado, sem nenhuma sensação incômoda, e possa ficar alguns minutos em repouso, ou até mesmo dormir.
E de fato muitos pacientes dormem após a inserção das agulhas. Isso parece para os mais medrosos uma coisa impossível de acontecer. Mas isso ocorre, pois geralmente a acupuntura promove um desembaraçamento das tensões e uma indução ao sono, levando a um estado de "preguiça gostosa". Recursos como música suave e um ambiente agradável também podem ajudar no processo.

Vencendo o medo
Se ainda assim você não é capaz de vencer seu pânico das agulhas, saiba que existem técnicas alternativas onde as agulhas não são utilizadas. Os pontos de acupuntura podem ser estimulados através de massagens, da colocação de pastilhas ou esferas estimulantes, magnetos, aplicação de calor, etc. Existem outras ferramentas que, num caso extremo, podem substituir as agulhas, embora o resultado delas seja indiscutível e rápido.
Então, se você é uma das pessoas que sempre quis fazer acupuntura e por causa das temidas agulhas nunca teve coragem de tentar, eu o convido a experimentar. Comente com seu acupunturista sobre seu temor e ele irá iniciar o tratamento de uma maneira mais suave, com um número reduzido de agulhas e com muita paciência. Acredito que depois da primeira ou segunda sessão seu medo irá desaparecer completamente e você também poderá se beneficiar sempre desta técnica e de seus ótimos resultados. Se ainda assim não for possível vencer o trauma, solicite técnicas alternativas sem a utilização de agulhas e usufrua desta sabedoria milenar e seus efeitos poderosos.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Proteção contra maus espíritos

Detalhes da China... telhado da Cidade Proibida.
A quantidade de totens em porcelana representa a riqueza do dono da casa.

Foto: Analyce Claudino
(clique para ampliar)

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Raiva, o inimigo interior

As emoções são consideradas na Medicina Tradicional Chinesa como fatores causadores de doenças. Como já comentei em artigos anteriores, essas emoções quando intensas, abruptas ou prolongadas, afetam a circulação de energia e causam conseqüências desagradáveis para todos os sistemas internos, resultando numa ampla variedade de sintomas.
Dentre todas as emoções, a Raiva é uma das que traz mais prejuízo. Ela é de certa forma aceita socialmente, ou seja, as pessoas acreditam que geralmente a Raiva é justificada. No entanto, se olharmos cuidadosamente, a Raiva é um dos maiores enganos que podemos cometer. Ela é praticamente um veneno que a própria pessoa toma, achando que deste modo vai estar atingindo o outro ou o objeto da sua Raiva.

Características da Raiva
A Raiva geralmente surge de algum tipo de contrariedade. Quando nos apegamos a nós mesmos, ao que achamos que é certo, às nossas opiniões, à nossa maneira de ver o mundo, quando defendemos nossa felicidade e estes objetivos são de alguma forma frustrados, é aí precisamente que começa a Raiva.
Ela é uma emoção yang, ou seja, que tende a ser expressada por uma ação e tende a se dirigir ao exterior (geralmente ao objeto de nossa Raiva). Internamente, ela vai atrapalhar a circulação de energia do organismo, aumentando o calor interno e afetando principalmente a parte superior, como ombros, pescoço e cabeça. Por isso facilmente reconhecemos em nós mesmos e nos outros a Raiva através da tensão muscular de todo corpo, dos olhos e rosto vermelho, dos movimentos agressivos, das palavras ríspidas que saem como labaredas. E como todo o organismo é interligado, essa energia vai sendo propagada atingindo o sistema cardíaco, o digestivo, e assim por diante.

Expressão ou repressão?
Mas não imagine que então reprimir a sua Raiva, para que ela não se exteriorize seja a solução. A Raiva, por ser yang, é de natureza expansiva, e ao reprimirmos ficamos semelhantes a uma panela de pressão. Por um lado, se não houver nenhum escape, quando a pressão interna atingir um certo limite vai explodir, resultando em ações e atitudes ainda mais maléficas. Por outro lado, esse esforço empreendido para simplesmente segurar emoções negativas vai consumindo a vitalidade da pessoa, podendo a longo prazo resultar até mesmo em depressão e outras doenças que se materializam no corpo. Como eu disse, a Raiva tende ao exterior, e ir contra a sua natureza pode ser ainda mais prejudicial.
Qual seria a solução para este dilema, onde não podemos nem exprimir nem reprimir a Raiva? Temos que agir na base do problema, refletindo e buscando meios de evitar que ela se desenvolva. Antes de tudo, temos que freiar a intenção de reagir imediatamente quando algo irritante acontece, e conseguir nos dar um pequeno tempo para respirar, para pensar e procurar analisar a situação.

Reflexões que equilibram a mente
Geralmente acreditamos que o único modo de conseguir a felicidade é controlando as circunstâncias externas da nossa vida, tentando consertar o que nos parece errado e nos livrar de tudo o que nos incomoda. Mas o verdadeiro problema encontra-se em nossa reação a essas circunstâncias. Então antes de qualquer coisa, o que temos que mudar é a nossa atitude. Precisamos exercitar nossa maleabilidade, adaptação e aceitação. Nem sempre as coisas sairão como planejamos. Os eventos são formados por múltiplas causas, não é possível ter 100% o controle da situação.
Temos que pensar também que, assim como nós, todas as pessoas estão buscando a própria felicidade, e algumas o fazem de maneiras que podemos não concordar. Mas quando você deixa a Raiva tomar conta da sua mente e do seu corpo, ao invés de destruir o seu inimigo, você mesmo se destrói. Então procure refletir que absolutamente todas as circunstâncias são passageiras, inclusive a que está gerando sua Raiva. Problemas fazem parte da existência e sempre podem acontecer, esteja preparado com antecedência e isso irá ajudá-lo a manter sua paciência se eles acontecerem de fato.
Não contraponha Raiva à Raiva. Se você compreende como é insano a pessoa reagir com Raiva com relação a você, seria mais insano da sua parte responder da mesma maneira. Através da compreensão dos mecanismos geradores da Raiva, você estará mais apto a praticar o exercício de manter a sua mente equilibrada, evitando assim prejuízos para seu corpo e pacificando sua mente.
“Não há mal que se compare à Raiva: por sua própria natureza, a Raiva é destrutiva, um inimigo. Dado que nem uma gota de felicidade jamais nasce dela, a Raiva é uma das mais potentes forças negativas" (Chagdud Tulku Rinpoche).
Deste modo, reflita e neutralize. Seu organismo e o universo agradece.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Tratando doentes e não doenças

O entendimento dos conceitos de saúde e doença na Medicina Tradicional Chinesa é, no mínimo, interessante. A doença para nós sempre foi vista como algo que nos acometeu de repente, geralmente alguma coisa que veio “de fora”, totalmente independente da nossa vida cotidiana e da nossa vontade. Falando francamente, a doença ou qualquer sintoma nos vem como um obstáculo à nossa vida normal, ou seja, um estorvo, que deve ser eliminado o mais rápido possível para que então possamos voltar a fazer as mesmas coisas de antes.
”Quanto engano!”, nos diriam os sábios chineses antigos. Para eles, qualquer tipo de sintoma nos vem como um alerta, um aviso, um verdadeiro “amigo” que nos sopra ao ouvido que há alguma coisa errada em nosso ser total. Então, ao invés de simplesmente eliminá-lo, é preciso ouvir o que ele tem a nos dizer.

Sintomas: reflexos na superfície
Por que, diante de condições iguais, por exemplo uma exposição a um tempo frio, algumas pessoas começam a ficar com sintomas desagradáveis e outras não? E por que os sintomas mudam de uma pessoa para outra, se elas estiveram sujeitas às mesmas condições ambientais? A resposta para esta questão está na resistência que a pessoa é capaz de impor à situação. A energia, o equilíbrio das funções internas é diferente de uma pessoa para outra, e uma vez que este equilíbrio seja rompido ou abalado, aí sim começam a aparecer os sintomas: uma tosse, uma dor na cabeça, calafrios, etc. Estes sintomas são diferentes de indivíduo para indivíduo... cada um tem suas armas para lutar, cada um tem seus próprios pontos fracos.
Os sintomas são um reflexo do organismo, da defesa energética, na tentativa de recuperar o balanço. Sinalizam sempre um desequilíbrio energético de base, mais profundo. Sintomas intensos nem sempre são ruins, eles podem representar a resposta de uma defesa interna forte, de uma luta na tentativa de expulsar os agentes patogênicos do corpo, que em medicina chinesa chamamos de “frio”, “calor”, “umidade”, “vento”, “segura” (diferentes qualidades de energia). Sintomas débeis podem indicar tanto um desequilíbrio não muito importante, como por outro lado podem estar indicando que o corpo está perdendo a capacidade de recuperar o equilíbrio perdido.

Comunhão com o todo
O ser humano está inserido no meio ambiente e responde às leis do Céu e da Terra. Portanto, necessita de constante adaptação. Não há como viver imune, isolado das energias externas que incidem sobre nós. Mas há como aprender a sustentar o equilíbrio interno para que a capacidade de resistência às constantes mudanças do meio fique eficiente.
Este raciocínio serve não só para os sintomas físicos, mas também os psicológicos. Não é possível viver à parte das inúmeras situações que nos geram angústia, desconforto, tristeza, raiva... Mas é possível mudar nossa atitude e com isso preservar o espírito e manter a harmonia interna.
A saúde, entendida deste modo, não é somente não ficar doente. É também ter a capacidade de ficar doente e se recuperar, ou seja, recuperar o equilíbrio energético, de modo que os sintomas desapareçam.

Tratando pessoas
Deste modo, na Medicina Tradicional Chinesa, não se tratam “doenças”. Acima de tudo se tratam “doentes”: organismos que por algum motivo estão “fora do eixo”, e precisam buscar um novo ponto de equilíbrio. Para isso é necessário não apenas eliminar os sintomas, mas entendê-los, escutá-los com atenção e tomar a responsabilidade de efetuar mudanças na vida cotidiana.
Pequenos ajustes podem fazer grandes diferenças, e estas medidas são sempre individuais. Não existem fórmulas mágicas e receitas gerais: “A mesma resposta não é necessariamente verdadeira em todas as situações. A verdade da vida é sempre mutante” (Tsai Chih Chung).
Oscilar é natural num mundo em constante mutação. O ser que não oscila, não é saudável. É importante que cada pessoa encontre o seu próprio ritmo.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Emoções que causam doenças

Na tradição oriental, existem três fatores causadores de doença que são levados em conta: os fatores externos, os internos e os mistos. Os fatores externos se referem às seis influências climáticas perniciosas (energias denominadas: Vento, Frio, Calor, Umidade, Secura e Fogo). Os fatores mistos se referem ao estilo de vida (nutrição, ocupação, atividade física, relacionamentos, traumas, parasitas, etc.). E os fatores internos são os que mais nos interessam neste artigo: são as Cinco Emoções.

As Cinco Emoções
As Cinco Emoções identificadas pelos orientais como importantes fatores internos que desencadeiam as patologias são: Alegria, Raiva, Preocupação, Tristeza e Medo.
Elas afetam as funções harmoniosas dos Órgãos e Vísceras, a formação de Substâncias Puras e o transporte delas através dos Canais de Energia para todas as partes do corpo, podendo assim desestabilizar o equilíbrio Yin-Yang do homem.
Por representarem as modificações do Espírito em reação à percepção de mensagens transmitidas pelo ambiente, as Emoções não são patogênicas em si ou quando o quadro energético não dá condições ao desequilíbrio. Porém, em seguida a stress brutais, extremos, violentos ou muito prolongados essas Emoções, segundo a sua natureza, atuam de maneira oposta sobre a circulação da energia, obstruindo, produzindo excessos ou deficiências.

Influência no fluxo energético
O primeiro efeito do estresse emocional é afetar a circulação e a direção apropriada do Qi (Energia), sendo que cada emoção vai ter um efeito particular. Resumidamente:
• Raiva (ressentimento, irritação, fúria, indignação, amargura): a agressividade é uma emoção necessária para a sobrevivência e a adaptação do homem, impulsionando a construção e o crescimento. Já a Raiva (ira) é uma manifestação extrema da agressividade que em vez de ajudar leva à desarmonia interna. A Raiva faz o Qi subir ou ficar contra-corrente, e vários sintomas e sinais aparecerão no corpo e nos órgãos.
• Alegria (excitação excessiva, ansiedade, mania, excesso de estimulação mental): o significado de Alegria como uma causa de doença não se trata obviamente de um estado de contentamento saudável, antes, é um estado de excitação excessiva e ansiosa que pode gerar palpitações, insônia, inquietação, etc. A Alegria consome excessivamente e dispersa o Qi.
• Pensamento obsessivo (preocupação): os pensamentos fixos levam à obsessão, às regras rígidas e à perda de flexibilidade. A preocupação prende e estagna a circulação de Qi. Os sintomas e sinais vão variar dependendo do órgão afetado. A mesma energia que nos dá capacidade de meditação e contemplação irá, se for excessiva e mal orientada, gerar pensamentos focados, “remoídos” e incessantes.
• Tristeza (pesar, dor, mágoa, melancolia): é uma emoção que permite entrar em contato consigo mesmo e elaborar a impermanência e mutação que é inerente à vida, não devendo ser considerada anormal. Já a tristeza profunda, prolongada ou desligada da realidade é problemática e pode levar a um estado depressivo. Ela esgota e torna o Qi deficiente, resultando na diminuição da respiração e da energia como um todo.
• Medo (ansiedade, susto, terror, pânico): é considerado a emoção básica, e é necessário porque ajuda o homem a identificar perigos e a adaptar-se corretamente às situações. Ele modera a impulsividade, aumentando o tempo entre a intenção e a ação. Contudo, em situações de excesso o medo paralisa e faz o Qi descer. Torna a pessoa insegura, dependente e incapaz de realizar objetivos em longo prazo.

Equilibrando a mente
A harmonia das funções dos Órgãos e Vísceras e entre as Cinco Emoções a eles ligadas proporciona no homem a capacidade de responder ao meio ambiente de uma maneira equilibrada.
Não devemos confundir nossa vida mental e espiritual com nossa vida emocional. É perfeitamente possível ser ativo e animado sem estar sobrecarregado de emoções excessivas que perturbam a mente e que podem, em certo tempo, resultar em doenças que irão se materializar também a nível físico.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Conceitos de base da MTC: Tao e Yin Yang

O Taoísmo é um sistema filosófico-religioso que modelou o caráter do povo chinês ao longo de mais de dois mil anos. Atribui-se a criação do Taoísmo a Lao-Tsé, suposto autor do Tao Te Ching (o Livro da Razão Suprema), compilado provavelmente por volta de 300 a.C. e considerado a sua principal fonte de conhecimento.
Lao-Tsé deduziu, a partir do Livro das Mutações que a mudança de todos os fenômenos não ocorre por coincidência. A mudança é uma tendência natural, inata em todas as coisas e situações. O universo está empenhado em um movimento cíclico e contínuo a que os chineses chamaram de Tao: o caminho. O Tao, assim compreendido, é o grande princípio primordial, é a força que dá corda ao relógio mundo.

Dança dos opostos
Lao-Tsé percebeu também que o movimento natural ocorre sempre por meio uma dança contínua entre princípios opostos que mais tarde foram denominados Yin e Yang e representados pelo símbolo bastante conhecido chamado de Tai Chi:

O Yang expressa o papel ativo, dinâmico e masculino e o Yin o papel passivo, estático e feminino. A filosofia chinesa des
envolveu e generalizou estes termos a toda natureza, mostrando que o princípi
o de oposição se encontra em todas as partes e que é, por assim dizer, a origem de toda manifestação. Toda manifestação contém, em proporções variáveis, ambos os princípios, dos quais um deles se sobressai, se destaca, porém só temporariamente, para dar lugar ao predomínio do contrário.
A mutação dos fenômenos naturais mostra a alternância Yin Yang e mostra também o mecanismo que opera em seu interior: Yang
contém o Yin, Yin contém o Yang. Cada um tem o seu oposto dentro de si. O oposto crescerá lentamente até destruir o seu hóspede: Yin haverá se transformado em Yang e vice-versa. E neste momento o processo inverso já começa a ocorrer.

Impermanência do mundo
Partindo deste princípio, o estado de imobilidade absoluta é uma abstração que não se pode conceber. Tudo o que existe está fadado a mudar incondicionalmente:
“O que é imperfeito será perfeito; / O que é curvo será reto; / O que é vazio será cheio; / Onde há falta haverá abundância; / Onde há plenitude haverá vacuidade. / Quando algo se dissolve, algo nasce.” (Lao-Tsé)
Podemos entender o Tao então, como o princípio a partir do qual toda a polaridade surge. Toda polaridade radica na unidade, e esses dois em si são um; por isso é difícil falar de Yin Yang sem falar do Tao e vice-versa.
As formas exteriores e observáveis do Tao são: o alto e o baixo, o belo e o feio, o bom e o mal. Mas: “Só temos consciência do belo / Quando conhecemos o feio. / Só temos consciência do bom / Quando conhecemos o mau / Porquanto o Ser e o Existir / Se engendram mutuamente / O fácil e o difícil se completam / O grande e o pequeno são complementares / O alto e o baixo formam um todo / O som e o silêncio formam a harmonia / O passado e o futuro geram o tempo.” (Lao-Tsé)

Compreendendo o caminho
A compreensão do Tao passa pela aceitação dos opostos no mundo dos fenômenos, sem atribuição de valor, apenas como um atributo da mutação. O que é bom ou mau não é Yin ou Yang, mas o equilíbrio ou desequilíbrio que podem existir entre eles.
Ao escrever sobre o Tao, chegamos à conclusão de que é difícil falar sobre ele e de que captar seu sentido aproxima-se mais de uma vivência espontânea do que do estudo de conceitos abstratos. Nas palavras do Tao Te Ching: “Quanto mais falamos no Universo, menos o compreendemos. O melhor é escutá-lo em silêncio”.