terça-feira, 30 de agosto de 2011

Mantendo os olhos abertos

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"The most beautiful thing we can experience is the mysterious. It is the source of all true art and all science. He to whom this emotion is a stranger, who can no longer pause to wonder and stand rapt in awe, is as good as death: his eyes are closed."
(Alfred Einstein)

(A mais bela coisa que podemos experimentar é o mistério. Essa é a fonte de toda arte e ciência verdadeira. Aquele para quem essa emoção é estranha, que não mais pode parar para perguntar-se e pegar-se absorto em reverência, está como que morto: seus olhos estão fechados.)

terça-feira, 26 de julho de 2011

Curiosidades históricas sobre a medicina chinesa

É difícil estudar cronologicamente a história da Medicina Chinesa. Em primeiro lugar devido à vasta dimensão do território chinês, e ao fato de que sua unificação política não foi permanente. A China antiga era formada por vários reinos, e mesmo depois da sua relativa unificação algumas dinastias se sobrepuseram controlando uma parte do território, o que complica a análise cronológica. Além disso, há uma diversidade de etnias, de dialetos, de costumes, e de climas segundo as regiões.
Se não bastasse este problema, temos que levar em consideração que o estudo da Medicina Chinesa abarca um espaço de tempo excepcionalmente longo. É considerada uma das medicinas mais antigas do mundo, de tal forma que determinadas teorias são tão antigas que se recorre a lendas para atribuir-lhes uma origem. E essas teorias ainda seguem sendo os conceitos de base para a compreensão desta disciplina.

Uma ciência revelada
O fato de que a investigação moderna possa, com resultados fidedignos, comprovar teorias ou temas complexos proferidos há mais de vinte séculos segue sendo hoje em dia causa de espanto para todos aqueles que tem avançado no conhecimento da Medicina Chinesa. A assombrosa mistura de complexidade e de coerência faz com que estudiosos cogitem hoje a hipótese de uma origem por “insight” ou por “inspiração”.
Um grande número de especialistas admite ser difícil compreender como puderam ser descobertos certos aspectos sutis da medicina chinesa sem que seus inventores tivessem tido acesso a estados alterados de percepção do mundo e do ser humano, estados estes que nos ultrapassam.
É evidente que nos encontramos aqui num terreno escorregadio que nos exige uma certa prudência, no entanto segue sendo evidente que a medicina chinesa é uma disciplina tradicional de fundamentos essencialmente espirituais.

Conhecimento sutil
Textos antigos do Clássico de Medicina Interna do Imperador Amarelo (Huang Di Nei Jing, escrito entre o século V a.C. e VII d.C) já nos apresentam a Medicina Chinesa como uma ciência “revelada”, cujo saber veio a se degradar progressivamente ao longo dos anos. Isso se opõe claramente ao conceito de progresso permanente próprio das ciências experimentais.
É muito provável que homens inspirados, depois de haver alcançado uma realização pessoal acima do ordinário, tenham impulsionado a humanidade dentro dos diferentes ramos do conhecimento. Numerosas tradições estão impregnadas destas lendas.
Apesar disso, não deve-se deduzir que a Medicina Chinesa tenha aparecido espontaneamente com toda a sua perfeição em um determinado momento da história na mente de um praticante ou um ser realizado. É certo que ela foi construída progressivamente através dos séculos, enriquecendo-se com experiências empíricas e afinando-se continuamente no plano teórico.
Deste modo, a Medicina Chinesa não é somente produto de um saber científico. Seu êxito depende mais das qualidades pessoais e da sutileza dos práticos, cujo desenvolvimento pode por vezes ser até limitado pela alta tecnologia. É necessário desenvolver atenção, sensibilidade, intuição e visão.

Para saber mais, leia: MARIÉ, Eric. Compendio de Medicina China: fundamentos, teoria y práctica. Ed. EDAF.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

A grande tonificação da energia essencial


Nas teorias tradicionais chinesas o homem é considerado um microcosmo inserido no macrocosmo, e de nenhuma forma é visto como separado, estando submetido às leis gerais de interdependência de tudo o que existe entre o Céu e a Terra.
Assim, ele é influenciado por diversos fatores: fatores climáticos, fatores sociais e de relacionamento, fatores constitucionais e dietéticos. Mas mais do que isso, e de forma insuspeitada, ele é influenciado pelos movimentos cósmicos do sol, da lua e das estrelas, pelos ritmos das estações do ano, por movimentos geológicos, etc.
Os antigos mestres chineses conheciam e previam estes movimentos e as possíveis interferências sobre o ser humano, e elaboravam diversos sistemas de estudo e adaptação do homem aos fatores macrocósmicos.

Fluir sem esforço
A adaptação do organismo às diferentes estações de um ano, com seu clima específico, foi algo bastante enfatizado pelos orientais. Segundo eles, cada estação possui uma energia predominante (frio, calor, vento, umidade ou secura) e um movimento próprio, e o homem deve adaptar seu comportamento e suas atividades com o objetivo de seguir as leis universais.
Ao observarmos os outros seres e o ambiente, percebemos essa adaptação: os ursos dormem no inverno, as flores só vem na primavera, e as frutas amadurecem no verão. O homem moderno negligencia a passagem do tempo, e por isso sofre. Ao não observar a demanda de cada período, adoece.
Contrariar a exigência de cada estação do ano levaria a um gasto inútil de energia, o que apenas serviria para exaurir as forças internas. Seria preferível, segundo os sábios, “conhecer os ritmos das marés”, para então poder fluir sem esforço e não ficar nadando contra a corrente. Só assim se terá sucesso. Para ajudar um pouco nessa adaptação uma técnica antiga que pode até hoje ser realizada é a Grande Tonificação.

A Grande Tonificação
A Grande Tonificação é uma técnica preventiva utilizada em acupuntura. Trata-se da seleção de um grupo específico de pontos que têm o objetivo de fortalecer o organismo internamente e protegê-lo externamente, um pouco antes da mudança de uma estação para outra. Essa técnica pretende reforçar o sistema denominado Biao-Li (exterior-interior), ou seja, potencializar os fatores de resistência que facilitam a tarefa cotidiana de adaptação do ser humano a seu meio em constante mutação.
Essa tonificação deverá ser feita, segundo os mestres, 18 dias antes da virada de uma estação para outra. Por exemplo, para efetuar a grande tonificação preventiva para a Primavera, deveremos realizar a acupuntura nos dezoito últimos dias do Inverno. Desta forma preparamos o terreno para as mudanças ambientais que estão por vir.

Atuar no não manifesto
O clássico Tao Te Ching nos diz que “o universo é um vaso sagrado que não deve ser manipulado; quem o manipula o destrói, quem o segura, o perde”.
A constante interferência do homem sobre a Natureza, considerando a si mesmo separado ou superior e querendo adequar o universo ao seu desejo, sem levar em conta o curso natural das coisas, tem cada vez mais demonstrado suas conseqüências patológicas. É preciso resgatar nossa integração com o todo, e perceber que não podemos fugir do fluxo do Tao, o Caminho. É preciso respeitá-lo.
Assim, através das técnicas preventivas e do respeito aos fluxos da natureza poderemos atingir uma existência mais saudável e plena de significado. “É melhor atuar no ainda não manifesto e controlar o ainda não bagunçado, porque árvore de tronco grosso nasce de uma raiz capilar, torre de nove andares se levanta com terra acumulada e jornada de mil léguas começa embaixo dos pés” (Tao Te Ching).

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Medicina Chinesa enquanto Arte (ou sobre A Divina Iluminação ou o Insight Profundo)




Uma tradução livre, baseada no livro de:
KAPTCHUK, Ted. The web that has no weaver: undestanding chinese medicine. Capítulo 9: Chinese medicine as an art: or on the Penetrating Divine Ilumination. Pp 283 a 294.

Em princípio aprendemos como pedaços e peças têm sido colocados juntos para formar uma imagem refinada de Yin Yang em uma pessoa. Mas este método de colocar as pedras, montanhas, névoa e seixos da vida humana numa paisagem clínica coerente é a maneira que as tradições usam para treinar os médicos novatos. Por trás deste método há um outro processo – uma oposição Yin a um método Yang. Este processo tem a ver com a dialética entre o Todo e as Partes, um outro nível de Yin e Yang. Este paralelo oculto é a verdadeira arte da medicina chinesa, em oposição a seu conhecimento formal, e manifesta-se em múltiplos e contínuos níveis. Cada nível da dialética entre o Todo e as Partes progressivamente revela camadas mais profundas de uma antiga arte cuja maestria é um dos principais objetivos de um médico dedicado.

O primeiro nível da dialética do Todo e das Partes indica que a Medicina Chinesa nunca consiste em uma soma - juntar as Partes (isto é, queixas, sinais e sintomas) para formar um Todo. As partes nunca formam um Todo. De fato, o Todo é que determina o significado dos componentes; é o contexto que governa. Na paisagem clínica, a realidade das coisas apenas existe – e portanto somente se manifesta – numa totalidade, através da força da tendência (a dinâmica Yin Yang inerente) que une seus vários elementos num todo. Nenhum componente de um padrão pode ser isolado; nenhuma peça tem um significado ontológico independentemente de todo ambiente em que está inserida. É a configuração que dá sentido ao fragmento, e algumas vezes inclusive aspectos de múltiplos padrões podem emergir. Por exemplo, de fato qualquer padrão ou combinação pode resultar numa queixa de “olhos secos”. O significado energético de “olhos secos” vai ser em última instância definido pela paisagem.

O segundo nível da dialética do Todo e das Partes adotada pelo Leste Asiático tem a ver com o fato de que não há separação definitiva entre o Todo e as Partes. O Todo está impresso em cada pequena unidade da paisagem clínica. Um médico verdadeiramente competente será capaz de diagnosticar a partir de qualquer pequena parte da configuração humana. Nas mais sutis sombras de uma particular atmosfera emocional, ou pela língua, ou pelo jeito de caminhar, ou através do pulso, o mestre pode discernir um padrão, porque o Todo deixa sua marca característica em cada Parte.
A particularidade do segundo nível (as partes refletem o todo) permite um refinamento adicional. O domínio do nível dois pode se tornar bastante sofisticado ao ponto de fornecer de fato o retrato de uma pessoa. Um bom médico pode, por exemplo, ler a fórmula de acupuntura ou a fórmula herbal de um paciente, que foi administrada por outro médico, e facilmente descrever o paciente com uma incrível quantidade de detalhes.

O terceiro nível da dialética do Todo e das Partes é o mais profundo; as palavras são com freqüência inadequadas para descrever este processo. Os clássicos de medicina afirmam que dominá-lo leva o tempo de uma vida. A questão aqui é totalidade e imediatismo. Com relação a este, o nível um (que diz respeito a como o todo define as partes e permite um diagnóstico) e o nível dois (que diz respeito a como o todo pode ser identificado nas partes permitindo uma combinação única de ervas e pontos de acupuntura) são na verdade preliminares. O nível três é o refinamento supremo da arte médica. Ele implica a possibilidade de intimamente e intuitivamente apreender a paisagem em sua completude.

O terceiro nível desta arte tem relação com um íntimo, intuitivo e imediato encontro humano. Na tradição médica este nível de maestria é denominado Tong Sheng Ming: Penetrar na Divina Iluminação, ou no Insight Profundo.
O Nei Jing sublinha que este método é superior (é o “Espírito” da medicina) se comparado com as formas mais primitivas e lineares de examinar o paciente.
Bian Que diz que esta arte, ao que parece, consiste em discernir o padrão instantaneamente; intuitivamente captar seu movimento geral. Assim o médico, como um pintor, precisa estar inspirado, precisa possuir uma consciência particularmente sensível, de forma que consiga unir-se em espírito com a paisagem, abrindo-se e comunicando-se com ela, apreendendo numa pincelada como toda a cena funciona.
Se o nível um é verdadeiro (é necessário apreender o todo para compreender as partes), e se o nível dois é verdadeiro (o todo impregna cada parte), então o nível três deve ser igualmente verdadeiro – o todo é sempre uma presença que é imediatamente palpável no encontro entre médico e paciente. De fato, o Todo é a única coisa que está fundamentalmente presente.

Penetrar no Insight Profundo é o método “secreto” escondido por trás dos Quatro Métodos de Diagnóstico e da Diferenciação de Síndromes que facilmente escapa ao médico novato; ele pode apenas ser dominado pelos veteranos mais maduros. O Insight Profundo não pode ser ensinado, ele desenvolve-se juntamente com o médico enquanto seu ofício vai sendo honradamente feito. Depois de uma vida de prática, usando os níveis mais simples de conhecimento e arte em Medicina Chinesa, ele automaticamente e autonomamente revela ter estado sempre presente. A poética totalidade é real; tudo o mais era apenas detalhe. E para o praticante calejado, tudo o mais é preliminar. Todo o conhecimento e arte leva até aqui.

Enquanto o encontro do nível um permite um diagnóstico e o nível dois permite uma acurada formulação de ervas e acupuntura, é o nível três que permite a misteriosa transmutação que acontece no coração do encontro curativo. Penetrar no Insight Profundo (mesmo enquanto ele ainda está escondido da consciência do médico novato) é a verdadeira base do sucesso de qualquer tratamento e engajamento clínico. Penetrar o Insight Profundo não é meramente um conhecimento intuitivo, é um “tratamento secreto”, o que Wu Kun (1551 – 1620 d.C.) denominou “a medicina sem forma”.
Penetrar no Insight Profundo é o coração da dialética da cura – o ponto onde a receptividade (Yin) automaticamente e instantaneamente torna-se transformação (Yang). Este momento de Insight Profundo implica a ressonância do Qi entre o paciente e o médico. Intimidade e profundo senso de cumplicidade tornam-se o elixir de uma ampla cura. Avaliação e tratamento, paciente e médico, Yin e Yang fundem-se. A cura manifesta-se.

Penetrar no Insight Profundo é a mágica de alma encontrando alma, espírito refletindo espírito. Este reconhecimento instantâneo necessariamente dá início a um profundo tratamento. As respostas imediatas do médico no encontro clínico, as palavras, postura, gestos, questões, atenção, intenção, autenticidade, empatia, compaixão, fé e visão – afetam profundamente e ressoam no Espírito do outro ser humano. Penetrar este Insight Profundo é a definitiva base da cura, é a mais alta forma do Yin e Yang da cura.

“Fazer o paciente sentir-se melhor antes mesmo de ter tomado o remédio
é o método mais direto.”
(Xu Shu-Wei; 1080 – 1154 d.C.)

“Os Chineses usavam um método de cura que iniciava-se antes mesmo
de o remédio ter encostado na boca.”
(Sun Zhun)

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Acupuntura: ciência ou misticismo?

Durante muito tempo acreditou-se que a Medicina Chinesa, e com ela a Acupuntura, não passava de um conhecimento empírico, sem fundamentos científico, permeado por uma alta dose de misticismo e crença.
Com os atuais avanços dos aparelhos de medição da energia e dos próprios conceitos da física quântica, cada vez mais percebemos que aquilo que muitas vezes é considerado místico e não científico, muitas vezes assim o é pela simples falta de conceitos e conhecimentos suficientes que os expliquem.
Na medida que o ser humano, dominado pela sua incessante curiosidade, avança no estudo e conhecimento da natureza, teorias antigas e consideradas místicas passam a fazer todo o sentido.

Processo de transformação
A Acupuntura se baseia na existência da energia. Hoje em dia sabemos que a energia forma absolutamente tudo, e que essa energia pode se mostrar para nós de várias formas, desde a mais disforme e invisível como o gás até a mais dura e sólida como o diamante. Essa energia que antigamente era objeto de simples crença, atualmente tem sido cada vez mais estudada, medida e quantificada, embora seja difícil descrevê-la.
O físico Marcelo Gleiser dá uma excelente definição: “energia não é uma substância, não é visível ou invisível. A definição que eu considero mais adequada é que energia é uma medida de transformação, que pode ser aplicada ao movimento, à luz, ao som, ao magnetismo, às reações químicas (como a digestão de alimentos ou a queima de gasolina), enfim, a qualquer processo natural que envolva alguma mudança ou a possibilidade de uma mudança. (...) Durante o século XIX ficou claro que a energia tem uma propriedade fundamental: a sua conservação. Energia não pode ser criada ou destruída, apenas transformada. Em qualquer processo natural a quantidade total de energia é a mesma antes e depois, mesmo que ela tenha se transformado completamente. (...) Esta visão de perpétua transformação na natureza é, a meu ver, profundamente bela. Tudo o que observamos, e mesmo o que é invisível aos nossos olhos e sentidos, reflete, de alguma forma, uma transformação de energia.”

Dança do universo
O homem enquanto um núcleo de energia focado e extremamente organizado, está portanto imerso neste universo em constante transformação. Isso nem sempre é uma tarefa fácil, mas nascemos preparados para isso.
A partir dos nossos Zang Fu (órgãos e vísceras) produzimos energia, com nossos Canais e Colaterais (Meridianos) circulamos a energia e nos defendemos da desorganização causada pelas energias que vem do exterior. Sobretudo fabricamos um líquido cristalóide (Shen Shui) impregnado de freqüências que nutrem todas as células de uma maneira seletiva, e que permeia todo o corpo, um verdadeiro líquido “homeopático” onde estão diluídas informações específicas.
Enfim, ao estudar e entender como as energias circulam, entendemos quando não circulam, e podemos ajudar o organismo a atingir um equilíbrio melhor e manter nossa unidade e coerência durante o período que nos cabe na dança do universo.

Acupuntura sem medo
Há milhares de anos os orientais observam, estudam e praticam esse conhecimento. No início de uma forma empírica, porque para eles não era necessário explicar, bastava ver e ter um resultado prático.
Mas na medida que este conhecimento chegou para o “racional e analítico” ocidental, começou-se a perguntar os porquês. E no início não existiam porquês, nossa ciência ainda não oferecia explicações que validassem os conceitos orientais. Mas atualmente, aos poucos, nossa ciência avança e podemos tirar a Medicina Chinesa do patamar dos conhecimentos místicos e sem fundamento ao encontrar teorias que a suportem.
A vantagem desta mudança é que pode ajudar algumas pessoas a se aproximarem com mais confiança de práticas como a Acupuntura, já que passam a ver nela algum sentido mais parecido com o que lhes é familiar. Mas não que isso faça alguma diferença para a Acupuntura em sua teoria e prática, ela continua firme em seus propósitos desde o princípio, e principalmente, eficaz em seus resultados, quer saibamos explicar os motivos ou não.

sexta-feira, 18 de março de 2011

A saúde não dá ibope

O conceito de saúde na Medicina Chinesa não implica simplesmente a ausência de doença, mas sim o equilíbrio energético do ser humano. As palavras-chave deste equilíbrio são flexibilidade, adaptabilidade e livre fluir. Dessa forma, quando saudável o indivíduo deve apresentar uma relação harmônica em vários níveis: tanto no universo interior (microcosmo) quanto no universo exterior (macrocosmo) adaptando-se facilmente às transformações da vida e do ambiente natural.
Para que finalmente exista um desequilíbrio deve ocorrer uma justaposição de fatores patológicos, que virão a se manifestar através de sintomas. Os sintomas de adoecimento não são, portanto, inimigos a serem simplesmente combatidos. Antes de qualquer coisa os sintomas são nosso sinal de alerta, nossa sirene de incêndio, demonstrando que algo não vai bem, ou seja, que o desequilíbrio está se instalando.

Saindo da passividade
Nas palavras da escritora Sonia Hirsch, cujos livros recomendo todos, (www.correcotia.com.br ou www.soniahirsch.com), “promover a saúde é muito simples mas ao mesmo tempo dá muito pouco ibope porque você tem que ficar falando das mesmas coisas sempre: comer bem, dormir bem, respirar bem, se movimentar, ter uma boa relação afetiva... Nada disso é pirotécnico, nada disso provoca escândalo. O que faz escândalo é um vírus novo que está matando não sei quantas pessoas desnutridas num país paupérrimo, onde qualquer coisa mata, e uma vacina americana que vai salvar todos nós de futuras doenças misteriosas”. Por isso, a tarefa do acupunturista tradicional vai muito além da inserção de agulhas dentro do consultório, ela é sobretudo um trabalho educativo, e talvez essa seja a parte mais difícil do trabalho.
O paciente precisa sair do papel passivo, daquele que espera “pacientemente” uma solução. Ele precisa compreender a lógica dos sintomas, o seu significado. Ao mesmo tempo é preciso descobrir entre todas as variáveis da vida cotidiana, quais os principais causadores do desequilíbrio. Como estes fatores dependem muito do estilo de vida do paciente, o trabalho nunca pode se restringir ao espaço do consultório, pois é fora dele que o paciente precisa assumir a responsabilidade por mudar suas condutas e buscar uma maior qualidade de vida em todos os aspectos.

Cotidiano saudável
Acostumados que somos a uma mentalidade de consumo, somos também acostumados a “comprar” a saúde através de cápsulas, pílulas e receitas milagrosas. Porém, na sua imensa maioria, os remédios servem somente “para remediar”. O único caminho certo para a saúde é o do dia-a-dia, dos pequenos hábitos que precisamos cultivar em várias esferas do nosso cotidiano.
O trabalho do acupunturista vai muito além do consultório, pois ele precisa juntamente com o paciente implementar medidas práticas e preventivas que precisam ser tomadas na vida diária, fora das paredes do consultório e do horário da sessão. Essas medidas podem ir desde iniciar um treinamento físico, retirar algum alimento tóxico da dieta, incentivar a resolução de conflitos emocionais, etc., motivando o paciente a minimizar os fatores justapostos que estão causando o desequilíbrio. Essa conduta dá trabalho e não dá ibope, mas é o que realmente funciona. E sem efeitos colaterais.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Ser humano: um ente energético

Nossa sociedade se mostra cada vez mais interessada na existência de outras práticas médicas, originadas a partir de conceitos diferentes dos da medicina ocidental. Esses conceitos de caráter bioenergético embasam uma multiplicidade de métodos terapêuticos, por exemplo: a magnetoterapia, musicoterapia, cromoterapia, etc.
Os conceitos bioenergéticos embasam também a antiga tradição médica chinesa, e dentro dela a acupuntura que também está assentada sobre princípios bem diferentes dos utilizados pela medicina moderna oficial.

Princípios fundamentais
Podem resumir-se em três os postulados básicos da acupuntura e outras práticas energéticas:
1) A energia é o princípio integrador e regulador de todo ente físico-químico.
2) Todo ente vital “responde ao Céu e à Terra”, isso é, ao influxo de duas forças opostas e complementares, o que em termos tradicionais chineses forma a chamada “dialética Yin-Yang”.
3) O Universo, suas manifestações e seus entes, está regido pelo princípio de inter-relação ou interdependência descrito pela denominada “Lei dos Cinco Movimentos” e que, com relação ao ser humano, proporciona uma importante base de estudo que nos permite compreender as relações que os órgãos e os diversos sistemas mantém entre si.
Assim, na antiga Tradição Vitalista define-se o ser humano como: “um ente energético submetido ao influxo de duas forças opostas e complementares e regido pela lei universal da interdependência”.

Influxos energéticos
As influências energéticas às quais o homem está constantemente submetido podem ser classificadas em dois grandes grupos:
1) Influxos cósmicos (“do céu”): ritmos e seqüências universais, influências astrológicas (solares, lunares, planetárias, etc.), influxos gravitacionais, influxos bioclimáticos (vento, calor, umidade, secura, frio).
2) Influxos telúricos (“da terra”): agentes dietéticos (energia dos processo digestivo metabólico dos alimentos, do alimento como ser vivo, e dos diferentes sabores), agentes ecológicos (local geográfico de habitação, longitude, latitude e altitude), agentes respiratórios (energias obtidas através da respiração, que segundo o conceito tradicional são algo além do oxigênio inalado), agentes biopsicossomáticos (fatores afetivos ou emocionais da relação humana), agentes bioenergéticos frequenciais (energias vibracionais como os odores, sons, cores, sensações táteis), agentes biodinâmicos (habitat imediato) e agentes magnéticos (campo magnético terrestre, do solo e subsolo e campos magnéticos provocados, que podem ser patológicos ou fisiológicos).

Enfermidade e cura
Do ponto de vista bioenergético, a enfermidade é considerada uma alteração resultante do desequilíbrio de polaridades yin e yang. O desequilíbrio pode ocorrer já que no ser humano existe um sistema capaz de receber e transmitir todos os influxos e informações energéticas, denominado sistema de meridianos ou canais de acupuntura.
Se os influxos do céu e da terra forem excessivos, ou também se forem insuficientes, isso poderá ocasionar desordens energéticas que evoluem para alterações químicas ou mesmo físicas (os sintomas propriamente ditos). Somente através da atuação sobre os campos bioenergéticos pode-se prevenir as alterações conseqüentes a um desequilíbrio de polaridades.
Assim podemos concluir que a verdadeira cura de todo processo patológico passará pela regularização e harmonização da energia humana.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Pulsos

(Tradução livre e resumida de KAPTCHUK, TED J. The web that has no weaver: understanding chinese medicine. USA: MacGraw-Hill, 2000. Traduzido por Analyce Claudino, 2011)

Os 18 principais pulsos:

I) Profundidade
a) Flutuante ou Superficial (fu mai) – perceptível no nível superficial ou em leve pressão, menos perceptível no nível médio ou profundo. Caracteriza-se como Yang. Indica Influência Perniciosa Externa (a energia defensiva está combatendo o agente externo). Se não houver outros sinais que indiquem influência perniciosa externa e estiver fraco, este pulso indica Yin Deficiente (Yang em relativo excesso). E se estiver flutuante e forte, sem nenhum indício a mais de influência perniciosa externa, pode ser sinal de Vento Interior.
b) Profundo (chen mai) – perceptível somente no terceiro nível quando uma grande pressão é aplicada. Caracteriza-se como Yin. Indica Desarmonia Interna ou Obstrução.

II) Velocidade
a) Lento (chi mai) – menos de 4 batidas por respiração completa. Indica Frio que retarda o movimento ou Qi Insuficiente para mover. É considerado Yin.
b) Rápido (shu mai) – mais de 5 batidas por respiração completa. Indica Calor que acelera o movimento do sangue. É considerado Yang.

III) Largura
a) Fino (xi mai) – Parece uma linha fina bastante clara. Indica Sangue Deficiente que não preenche os vasos. Frequentemente também indica Qi Deficiente. Considerado Yin.
b) Grande (da mai) – grande em diâmetro e bastante claro. Geralmente indica que o Calor está presente e sugere Excesso. Comum nos casos de Calor no Estômago e Intestinos. É considerado Yang.

IV) Força
a) Vazio (xu mai) – grande, mas sem força. Como um balão macio preenchido por água, geralmente perceptível na superfície. Geralmente superficial e mais lento que o normal. Indica Deficiência de Qi e Sangue, e é considerado Yin.
b) Cheio ou Pleno (shi mai) – grande e forte, batendo contra os dedos nas três profundidades. É sinal de Excesso e considerado Yang.

V) Forma
a) Escorregadio (hua mai) – fluido e macio, como uma bola deslizando coberta por fluido (“como uma cobra”, “como pérolas num vaso de porcelana”). Indica Excesso, geralmente de Umidade ou Mucosidade. Também ocorre nas mulheres durante a Gravidez. É considerado Yang dentro do Yin.
b) Revolto (se mai) – áspero e irregular, como uma faca raspando bambu. Se estiver fino indica Sangue Deficiente ou Essência (Jing) Deficiente. Pode também indicar Sangue Congelado. Considerado Yin.
c) Em corda (xuan mai) – retesado, como uma corda de violão. Forte, sentido em todas as posições, mas sem fluidez e maleabilidade. Indica Estagnação no corpo, geralmente relacionado a desarmonias do livre fluir do Fígado e Vesícula Biliar. Considerado Yang.
d) Apertado (jin mai) – forte e parece quicar de um lado a outro como uma corda esticada, porém mais elástico que o anterior. Vibrante e urgente, parece ser mais rápido do que é na verdade. Indica Excesso, Frio, e Estagnação. Considerado Yang dentro do Yin.

VI) Comprimento
a) Curto (duan mai) - não preenche os espaços sob os três dedos e geralmente sentido em somente uma posição. É sinal de Qi Deficiente e considerado Yin.
b) Comprido (chang mai) – é perceptível além das três posições, continua sendo sentido perto da mão e em direção ao cotovelo. Se estiver ao mesmo tempo apertado ou em corda indica Excesso e é considerado um pulso Yang.

VII) Ritmo
a) Amarrado (jie mai) – lento, irregular, que pula as batidas irregularmente. Sinal de Frio Obstruindo o Qi e o Sangue, mas também pode indicar Deficiência de Qi, Sangue e Jing. Também pode indicar que o Coração não governa o Sangue adequadamente, quanto mais interrompido, mais séria a condição. Classifica-se como Yin.
b) Apressado (cu mai) – rápido, que pula as batidas irregularmente. Geralmente é sinal de que o Coração agita o Qi e o Sangue. Considera-se Yang.
c) Intermitente (dai mai) – pula mais batidas do que os anteriores, mas o faz de forma regular. Indica geralmente Desarmonia séria do Coração, ou indica Exaustão geral dos Órgãos. É yin.
OBS: Os pulsos acima (amarrado, apressado, intermitente) podem ser congênitos e neste caso não representarem desarmonias.

VIII) Pulso moderado
a) Pulso moderado (huan mai) – é saudável, perfeitamente balanceado. Normal em profundidade, velocidade, força e largura. Muito raro. Para estar saudável o paciente não necessariamente vai apresentar este pulso já que a “normalidade” ou “equilíbrio” de cada um possui certa predisposição constitucional e dependente da idade, o que remete em direção a Yin ou Yang, e cada pulso individual irá refletir essa propensão. Para perceber as desarmonias, o significado do pulso encontra-se na maneira como ele se combina com outros sinais.

Outros 10 pulsos:

Os outros dez pulsos são refinamentos e combinações dos dezoito primeiros e são geralmente considerados menos importantes.
a) Transbordante (hong mai) – surge com força de um pulso cheio para bater nos dedos nas três posições, mas deixa os dedos com menos força, como se fosse uma onda. Indica que o Coração danificou os fluidos e o Yin do corpo. Considerado Yin no Yang.
b) Mínimo (wei mai) – extremamente fino e suave, mas sem a clareza do pulso fino, mal se percebe e parece a ponto de desaparecer. Significa Deficiência extrema e é considerado como Yin.
c) Débil (ruo mai) – suave, fraco e fino. Sentido no nível profundo. É como o pulso vazio, no entanto indica Deficiência de Qi mais extrema já que o Qi não consegue nem trazer o pulso à superfície. É Yin.
d) Encharcado (ru mai) – Combinação de fino, vazio e flutuante. Extremamente suave, menos claro que o pulso fino e perceptível somente na superfície. À menor pressão o pulso desaparece. Como uma bolha flutuando na água. Indica Sangue e Jing Deficiente, e às vezes Umidade. É Yin.
e) Couro (ge mai) – combinação em corda e flutuante, com vazio. Parece o couro esticado de um tambor. Sinal de Sangue ou Jing Deficiente e classificado como Yin.
f) Escondido (fu mai) – uma forma extrema de pulso profundo, onde uma intensa pressão deve ser aplicada para senti-lo. Se estiver forte, indica Frio obstruindo os Meridianos. Se estiver fraco, indica Deficiência de Yang que não ascende o pulso. Considera-se Yin.
g) Confinado (lao mai) – é o oposto do pulso como couro. Uma forma de pulso escondido, muito profundo e em corda, geralmente longo e forte. Indica obstrução por Frio.
h) Móvel (dong mai) – combinação do curto, apertado, escorregadio e rápido. Sentido somente em uma posição e “incompleto”, sem “cabeça ou cauda”. Raro e indica condições extremas como palpitações cardíacas, pavor, febre ou dor. É Yang.
i) Oco (kong mai) – como um talo de cebolinha verde, sólido por fora e oco por dentro. Geralmente flutuante. Indica Deficiência de Sangue e é visto geralmente após grande perda de sangue. É Yin.
j) Disperso (san mai) – flutuante, grande e fraco. Mais largo porém menos distinto, e tende a ser sentido quando retrocede. Indica séria desarmonia de Yang dos Rins exaurido. Classificado como Yin.