terça-feira, 26 de julho de 2011

Curiosidades históricas sobre a medicina chinesa

É difícil estudar cronologicamente a história da Medicina Chinesa. Em primeiro lugar devido à vasta dimensão do território chinês, e ao fato de que sua unificação política não foi permanente. A China antiga era formada por vários reinos, e mesmo depois da sua relativa unificação algumas dinastias se sobrepuseram controlando uma parte do território, o que complica a análise cronológica. Além disso, há uma diversidade de etnias, de dialetos, de costumes, e de climas segundo as regiões.
Se não bastasse este problema, temos que levar em consideração que o estudo da Medicina Chinesa abarca um espaço de tempo excepcionalmente longo. É considerada uma das medicinas mais antigas do mundo, de tal forma que determinadas teorias são tão antigas que se recorre a lendas para atribuir-lhes uma origem. E essas teorias ainda seguem sendo os conceitos de base para a compreensão desta disciplina.

Uma ciência revelada
O fato de que a investigação moderna possa, com resultados fidedignos, comprovar teorias ou temas complexos proferidos há mais de vinte séculos segue sendo hoje em dia causa de espanto para todos aqueles que tem avançado no conhecimento da Medicina Chinesa. A assombrosa mistura de complexidade e de coerência faz com que estudiosos cogitem hoje a hipótese de uma origem por “insight” ou por “inspiração”.
Um grande número de especialistas admite ser difícil compreender como puderam ser descobertos certos aspectos sutis da medicina chinesa sem que seus inventores tivessem tido acesso a estados alterados de percepção do mundo e do ser humano, estados estes que nos ultrapassam.
É evidente que nos encontramos aqui num terreno escorregadio que nos exige uma certa prudência, no entanto segue sendo evidente que a medicina chinesa é uma disciplina tradicional de fundamentos essencialmente espirituais.

Conhecimento sutil
Textos antigos do Clássico de Medicina Interna do Imperador Amarelo (Huang Di Nei Jing, escrito entre o século V a.C. e VII d.C) já nos apresentam a Medicina Chinesa como uma ciência “revelada”, cujo saber veio a se degradar progressivamente ao longo dos anos. Isso se opõe claramente ao conceito de progresso permanente próprio das ciências experimentais.
É muito provável que homens inspirados, depois de haver alcançado uma realização pessoal acima do ordinário, tenham impulsionado a humanidade dentro dos diferentes ramos do conhecimento. Numerosas tradições estão impregnadas destas lendas.
Apesar disso, não deve-se deduzir que a Medicina Chinesa tenha aparecido espontaneamente com toda a sua perfeição em um determinado momento da história na mente de um praticante ou um ser realizado. É certo que ela foi construída progressivamente através dos séculos, enriquecendo-se com experiências empíricas e afinando-se continuamente no plano teórico.
Deste modo, a Medicina Chinesa não é somente produto de um saber científico. Seu êxito depende mais das qualidades pessoais e da sutileza dos práticos, cujo desenvolvimento pode por vezes ser até limitado pela alta tecnologia. É necessário desenvolver atenção, sensibilidade, intuição e visão.

Para saber mais, leia: MARIÉ, Eric. Compendio de Medicina China: fundamentos, teoria y práctica. Ed. EDAF.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

A grande tonificação da energia essencial


Nas teorias tradicionais chinesas o homem é considerado um microcosmo inserido no macrocosmo, e de nenhuma forma é visto como separado, estando submetido às leis gerais de interdependência de tudo o que existe entre o Céu e a Terra.
Assim, ele é influenciado por diversos fatores: fatores climáticos, fatores sociais e de relacionamento, fatores constitucionais e dietéticos. Mas mais do que isso, e de forma insuspeitada, ele é influenciado pelos movimentos cósmicos do sol, da lua e das estrelas, pelos ritmos das estações do ano, por movimentos geológicos, etc.
Os antigos mestres chineses conheciam e previam estes movimentos e as possíveis interferências sobre o ser humano, e elaboravam diversos sistemas de estudo e adaptação do homem aos fatores macrocósmicos.

Fluir sem esforço
A adaptação do organismo às diferentes estações de um ano, com seu clima específico, foi algo bastante enfatizado pelos orientais. Segundo eles, cada estação possui uma energia predominante (frio, calor, vento, umidade ou secura) e um movimento próprio, e o homem deve adaptar seu comportamento e suas atividades com o objetivo de seguir as leis universais.
Ao observarmos os outros seres e o ambiente, percebemos essa adaptação: os ursos dormem no inverno, as flores só vem na primavera, e as frutas amadurecem no verão. O homem moderno negligencia a passagem do tempo, e por isso sofre. Ao não observar a demanda de cada período, adoece.
Contrariar a exigência de cada estação do ano levaria a um gasto inútil de energia, o que apenas serviria para exaurir as forças internas. Seria preferível, segundo os sábios, “conhecer os ritmos das marés”, para então poder fluir sem esforço e não ficar nadando contra a corrente. Só assim se terá sucesso. Para ajudar um pouco nessa adaptação uma técnica antiga que pode até hoje ser realizada é a Grande Tonificação.

A Grande Tonificação
A Grande Tonificação é uma técnica preventiva utilizada em acupuntura. Trata-se da seleção de um grupo específico de pontos que têm o objetivo de fortalecer o organismo internamente e protegê-lo externamente, um pouco antes da mudança de uma estação para outra. Essa técnica pretende reforçar o sistema denominado Biao-Li (exterior-interior), ou seja, potencializar os fatores de resistência que facilitam a tarefa cotidiana de adaptação do ser humano a seu meio em constante mutação.
Essa tonificação deverá ser feita, segundo os mestres, 18 dias antes da virada de uma estação para outra. Por exemplo, para efetuar a grande tonificação preventiva para a Primavera, deveremos realizar a acupuntura nos dezoito últimos dias do Inverno. Desta forma preparamos o terreno para as mudanças ambientais que estão por vir.

Atuar no não manifesto
O clássico Tao Te Ching nos diz que “o universo é um vaso sagrado que não deve ser manipulado; quem o manipula o destrói, quem o segura, o perde”.
A constante interferência do homem sobre a Natureza, considerando a si mesmo separado ou superior e querendo adequar o universo ao seu desejo, sem levar em conta o curso natural das coisas, tem cada vez mais demonstrado suas conseqüências patológicas. É preciso resgatar nossa integração com o todo, e perceber que não podemos fugir do fluxo do Tao, o Caminho. É preciso respeitá-lo.
Assim, através das técnicas preventivas e do respeito aos fluxos da natureza poderemos atingir uma existência mais saudável e plena de significado. “É melhor atuar no ainda não manifesto e controlar o ainda não bagunçado, porque árvore de tronco grosso nasce de uma raiz capilar, torre de nove andares se levanta com terra acumulada e jornada de mil léguas começa embaixo dos pés” (Tao Te Ching).