terça-feira, 18 de agosto de 2009

A acupuntura enquanto arte

"A acupuntura é completamente oriental. Assim quando você aborda qualquer ciência oriental com a mente ocidental você esquece muitas coisas. A sua completa abordagem é diferente: é metodológica, é lógica, analítica. E estas ciências orientais não são verdadeiramente ciências, mas arte. Toda a coisa depende de se você pode mudar suas energias do intelecto para a intuição, se você pode mudar do masculino para o feminino, do yang para o yin; da abordagem ativa, agressiva. Você pode se tornar passivo, receptivo? Somente assim estas coisas funcionam; de outra forma você pode aprender tudo sobre acupuntura e isto não será acupuntura de jeito nenhum. Você saberá tudo sobre ela, mas não ela. E algumas vezes acontece que a pessoa pode não conhecer muito sobre ela e conhecê-la, mas então é uma habilidade - apenas um insight nela.
Assim isto está acontecendo com muitas coisas orientais; o ocidente torna-se interessado - elas são profundas. O ocidente torna-se interessado em uma coisa oriental, mas então ele a traz para a sua própria mente para entendê-la. No momento que a mente ocidental entra nela, a própria base dela é destruída. Então somente fragmentos são deixados e estes fragmentos nunca funcionam. E não é que a acupuntura não funciona, a acupuntura pode funcionar, mas ela pode funcionar somente em uma abordagem oriental.
Assim se você quer realmente aprender acupuntura é bom saber sobre ela, mas lembre-se que isto não é a coisa mais essencial. Aprenda toda informação que está disponível, então esqueça todas as informações e comece apalpando no escuro. Comece escutando a sua própria consciência, comece se sentindo em harmonia com o cliente. É
diferente...
Quando um paciente vem a um médico ocidental, o médico ocidental começa raciocinando, diagnosticando, analisando, encontrando onde a doença está, qual é a doença e o que pode curá-la. Ele usa uma parte de sua mente, a parte racional. Ele ataca a doença, ele começa conquistá-la: uma luta começa entre a doença e o médico. O paciente está na verdade fora do jogo - o médico não se preocupa com o paciente. Ele começa a lutar com a doença - o paciente é totalmente negligenciado.
Quando você chega a um acupunturista a doença não é importante, o paciente é importante, porque é o paciente quem criou a doença; a causa está no paciente, a doença é somente um sintoma. Você pode mudar o sintoma e outro sintoma chegará. Você pode impedir esta doença com drogas, você pode parar a sua expressão, mas então a doença irá se afirmar a si mesma em outro lugar e com mais perigo, mais força, com uma vingança. A próxima doença será mais difícil de tratar do que a primeira. Você usa drogas nesta também, então a terceira doença será inclusive mais difícil.
É assim que a alopatia criou o câncer. De um lado você continua forçando a doença para baixo, ela se afirma de outro lado, então você a força daquele lado - a doença começa a ficar com muita, muita raiva. E você não muda o paciente, o paciente permanece o mesmo; assim porque a causa existe, a causa continua criando o efeito.
A acupuntura lida com a causa. Nunca trabalhe com o efeito, sempre vá para a causa. E como você pode ir até a causa? A razão não pode ir até a causa - a causa é muito grande para a razão - ela pode lidar somente com o efeito. Somente a meditação pode ir até a causa. Então o acupunturista irá sentir o paciente. Ele esquecerá o seu
conhecimento, ele apenas tentará entrar em sintonia com o paciente. Ele irá se sentir em comunicação; ele começará a sentir uma conexão com o paciente. Ele começará sentindo a doença do paciente em seu próprio corpo, em seu próprio sistema energético. Este é o único jeito para ele saber intuitivamente onde a causa está, porque a causa está escondida. Ele se tornará um espelho e ele encontrará o reflexo em si mesmo.
Este é todo o processo dela, e isto não está sendo ensinado porque isto não pode ser ensinado. Realmente vale a pena aprendê-la, assim a minha sugestão é, primeiro aprenda no ocidente por dois anos, então por pelo menos seis meses vá a algum país do extremo oriente e fique com um acupunturista. Apenas esteja em sua presença - apenas deixe-o trabalhar e observe. Somente absorva a sua energia e então você será capaz de fazer alguma coisa; de outro modo será difícil.
E se você começa a sentir a sua própria energia mais e mais, ou o trabalho dela em seu próprio corpo, a acupuntura não permanecerá somente uma técnica, ela se tornará um instrumento. E ela é um insight - você pode aprender a técnica e nada virá dela - é mais uma intuição do que uma arte. Isto é uma das coisas mais difíceis a respeito das técnicas antigas: elas não são científicas e se você as aborda com uma perspectiva científica você pode aprender algum detalhe mas a maior parte será perdida. E tudo o que você será capaz de aprender não será muito e isto será frustrante.
Toda abordagem antiga era totalmente diferente: ela não era lógica de forma alguma, era mais feminina, mais intuitiva, mais ilógica. Não se pensava em silogismo do modo que a mente científica pensa; ao invés disto estava-se em profunda participação com a existência - mais como num estado onírico, em um transe, e permitindo que a natureza liberasse seus segredos e mistérios. Não era uma agressão à natureza... mas no máximo uma persuasão . E a abordagem era do interior.
Deve-se abordar o próprio corpo a partir do núcleo mais interno. Estes setecentos pontos não eram percebidos objetivamente, eles eram percebidos em profunda meditação. Quando se vai profundamente para dentro e se olha de dentro - uma tremenda experiência ocorre - pode-se ver todos os pontos da acupuntura envolvendo a si mesmo, como se a noite estivesse cheia de estrelas. E quando você viu estes pontos de energia, somente então você está pronto. Agora você tem uma compreensão interior e simplesmente tocando o corpo de outra pessoa você será capaz de sentir onde a energia do corpo está faltando e onde não está; onde ela está se movendo e onde não está se movendo; onde está frio e onde está quente; onde está vivo e onde morreu. Existem pontos nos quais ela responde e existem pontos nos quais ela não responde de forma alguma.
Você será capaz de conhecer a acupuntura somente na medida em que você se tornou capaz de conhecer a si mesmo e quando ambos coincidem existe uma grande luz. Nesta luz você pode ver tudo – não somente a respeito de si mesmo mas a respeito do corpo dos outros. Uma nova visão surge como se um terceiro olho fosse aberto.
A acupuntura não é uma ciência mas uma arte e toda arte demanda uma profunda entrega. Não é como qualquer outra técnica que um técnico pode manipular. Ela precisa de todo o seu coração. Você tem que esquecer a si mesmo, como um pintor se esquece enquanto pinta, ou um poeta se esquece enquanto compõe, ou um músico se esquece enquanto toca. Ela é este tipo de coisa. Um técnico pode praticar acupuntura mas ele nunca será exatamente o que é necessário. Ele nunca será aquilo. Ele pode ajudar algumas poucas pessoas, mas a acupuntura é uma grande arte, uma grande habilidade. Ela tem que ser absorvida. O segredo é a entrega: se você pode se entregar totalmente, se ela se torna uma devoção, uma dedicação - e ela pode se tornar. Entre nela, entre com todo o coração, com alegria.
Comece a ficar por conta própria. E você terá que achar o seu próprio jeito. A acupuntura é um jeito e uma arte, e não existe nenhuma necessidade de seguir alguém como uma regra. Não existem regras . Regras não existem, só insights. Assim comece trabalhando por conta própria... No começo você sentirá um pouco de insegurança e você se preocupará muitas vezes se está fazendo a coisa certa ou não. Mas é como alguém tem que começar. É um tipo de apalpar no escuro. Mais cedo ou mais tarde você encontrará a porta. Uma vez que você começou a encontrar a porta então menos e menos tatear no escuro será necessário. Então você conhece a porta. Comece trabalhando!
Quando você toca o corpo de alguém ou trabalha com agulhas, você está trabalhando em Deus. Tem-se que ser muito respeitoso, muito hesitante. Tem-se que trabalhar não a partir do conhecimento mas a partir do amor. O conhecimento nunca é adequado, ele não é suficiente. Então preocupe-se com a pessoa. E sempre sinta-se inadequado, porque o conhecimento é limitado e a outra pessoa é um mundo inteiro, quase infinito... As pessoas o tocam mas elas nunca tocam você. Elas tocam somente a periferia e você está lá em algum lugar fundo, no centro, onde ninguém entra exceto o amor. O homem é um mistério e continuará permanecendo um mistério para sempre. Não é algo acidental que o homem é um mistério. O mistério é o seu próprio ser."

Fonte: Livro – Osho, O livro da cura
Tradução: Sw Dhyan Yukti
Editora: Shanti

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