sexta-feira, 17 de julho de 2009

Raiva, o inimigo interior

As emoções são consideradas na Medicina Tradicional Chinesa como fatores causadores de doenças. Como já comentei em artigos anteriores, essas emoções quando intensas, abruptas ou prolongadas, afetam a circulação de energia e causam conseqüências desagradáveis para todos os sistemas internos, resultando numa ampla variedade de sintomas.
Dentre todas as emoções, a Raiva é uma das que traz mais prejuízo. Ela é de certa forma aceita socialmente, ou seja, as pessoas acreditam que geralmente a Raiva é justificada. No entanto, se olharmos cuidadosamente, a Raiva é um dos maiores enganos que podemos cometer. Ela é praticamente um veneno que a própria pessoa toma, achando que deste modo vai estar atingindo o outro ou o objeto da sua Raiva.

Características da Raiva
A Raiva geralmente surge de algum tipo de contrariedade. Quando nos apegamos a nós mesmos, ao que achamos que é certo, às nossas opiniões, à nossa maneira de ver o mundo, quando defendemos nossa felicidade e estes objetivos são de alguma forma frustrados, é aí precisamente que começa a Raiva.
Ela é uma emoção yang, ou seja, que tende a ser expressada por uma ação e tende a se dirigir ao exterior (geralmente ao objeto de nossa Raiva). Internamente, ela vai atrapalhar a circulação de energia do organismo, aumentando o calor interno e afetando principalmente a parte superior, como ombros, pescoço e cabeça. Por isso facilmente reconhecemos em nós mesmos e nos outros a Raiva através da tensão muscular de todo corpo, dos olhos e rosto vermelho, dos movimentos agressivos, das palavras ríspidas que saem como labaredas. E como todo o organismo é interligado, essa energia vai sendo propagada atingindo o sistema cardíaco, o digestivo, e assim por diante.

Expressão ou repressão?
Mas não imagine que então reprimir a sua Raiva, para que ela não se exteriorize seja a solução. A Raiva, por ser yang, é de natureza expansiva, e ao reprimirmos ficamos semelhantes a uma panela de pressão. Por um lado, se não houver nenhum escape, quando a pressão interna atingir um certo limite vai explodir, resultando em ações e atitudes ainda mais maléficas. Por outro lado, esse esforço empreendido para simplesmente segurar emoções negativas vai consumindo a vitalidade da pessoa, podendo a longo prazo resultar até mesmo em depressão e outras doenças que se materializam no corpo. Como eu disse, a Raiva tende ao exterior, e ir contra a sua natureza pode ser ainda mais prejudicial.
Qual seria a solução para este dilema, onde não podemos nem exprimir nem reprimir a Raiva? Temos que agir na base do problema, refletindo e buscando meios de evitar que ela se desenvolva. Antes de tudo, temos que freiar a intenção de reagir imediatamente quando algo irritante acontece, e conseguir nos dar um pequeno tempo para respirar, para pensar e procurar analisar a situação.

Reflexões que equilibram a mente
Geralmente acreditamos que o único modo de conseguir a felicidade é controlando as circunstâncias externas da nossa vida, tentando consertar o que nos parece errado e nos livrar de tudo o que nos incomoda. Mas o verdadeiro problema encontra-se em nossa reação a essas circunstâncias. Então antes de qualquer coisa, o que temos que mudar é a nossa atitude. Precisamos exercitar nossa maleabilidade, adaptação e aceitação. Nem sempre as coisas sairão como planejamos. Os eventos são formados por múltiplas causas, não é possível ter 100% o controle da situação.
Temos que pensar também que, assim como nós, todas as pessoas estão buscando a própria felicidade, e algumas o fazem de maneiras que podemos não concordar. Mas quando você deixa a Raiva tomar conta da sua mente e do seu corpo, ao invés de destruir o seu inimigo, você mesmo se destrói. Então procure refletir que absolutamente todas as circunstâncias são passageiras, inclusive a que está gerando sua Raiva. Problemas fazem parte da existência e sempre podem acontecer, esteja preparado com antecedência e isso irá ajudá-lo a manter sua paciência se eles acontecerem de fato.
Não contraponha Raiva à Raiva. Se você compreende como é insano a pessoa reagir com Raiva com relação a você, seria mais insano da sua parte responder da mesma maneira. Através da compreensão dos mecanismos geradores da Raiva, você estará mais apto a praticar o exercício de manter a sua mente equilibrada, evitando assim prejuízos para seu corpo e pacificando sua mente.
“Não há mal que se compare à Raiva: por sua própria natureza, a Raiva é destrutiva, um inimigo. Dado que nem uma gota de felicidade jamais nasce dela, a Raiva é uma das mais potentes forças negativas" (Chagdud Tulku Rinpoche).
Deste modo, reflita e neutralize. Seu organismo e o universo agradece.

4 comentários:

  1. busco a paz, e por isso deixo esse comentario que foi muito util ler sobre a raiva...EDUARDO. edu.don@hotmail.com

    ResponderExcluir
  2. Existe um outro lado na moeda nas emoções na acupuntura, alguns males específicos como a síndrome de Meniére (subida de Yang do fígado), desencadeiam a raiva, pois a energia está em desequilibrio. Isso se torna um ciclo se não controlado, raiva gera doença e doença mais raiva.
    O mesmo acontece com outras emoções, todas em excesso ou falta iniciam o ciclo assim como podem surgir por enfermidades.

    ResponderExcluir
  3. Sofro com o problema da raiva interna e preciso de ajuda, a maioria do tempo eu deixo ela escondida dentro do meu peito mas ela esta sempre presente, muito do que outros fazem ou falam me incomoda, porem eu simplesmente me afasto quando posso e quando não posso desfiro palavras fortes que fazem com que se afastem, procuro fazer oque gosto para que esse problema se afaste de min, o contato com a natureza, esporte , mover o corpo e ocupar a mente me fazem bem, mas quando isso não é possível reprimo meus sentimentos e cultivo o mal dentro de min, me afasto das pessoas de quem gosto para não lhes fazer mal, não sou mais tão sociável quanto era antes, me incomodo com a presença de estranhos e tento fugir dessas situações, até mesmo dentro da minha própria casa e com a minha família me isolo. Qualquer tipo de cobrança me incomoda demais. Oque devo fazer para me livrar deste problema? Existe algum remédio, terapia,yoga que possam me ajudar? N.A.M.C

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu acredito que existem muitas maneiras de se trabalhar a raiva e a irritação. Precisamos começar por identificar que a raiva é uma defesa, que ela não surge por acaso, nós mesmos desenvolvemos esta reação em nossa mente, somos inteiramente responsáveis por ela. Depois temos que nos perguntar "de que" e "por que" estamos nos defendendo assim. Dentre as muitas formas que existem para lidar com as situações, por que escolhemos justamente reagir com raiva? E temos que fazer essa reflexão não como um julgamento, mas simplesmente procurando identificar como reagimos, nos familiarizando com nossos hábitos mentais e percebendo sinceramente os danos que isso está causando em nossa vida. Então partimos para a tentativa de mudar, mas isso só é possível após reconhecer, aceitar, e conluir que precisamos mudar. No procsso de mudança muitas vezes precisamos de ajuda, não conseguimos fazer sozinhos pois temos pontos cegos e precisamos de ajuda e apoio. A ajuda pode vir de muitas formas: podemos procurar ajuda nas tradições espirituais se tivermos alguma, geralmente elas têm alguma coisa a dizer sobre a raiva. Ou podemos procurar alguma forma de terapia, há diferentes técnicas com ferramentas para ajudar-nos a lidar com isso, seria impossível enumerar todas aqui. Respondendo à sua pergunta: existe remédio sim para a raiva, mas em última instância ele está sempre dentro de você e não fora. Ninguém poderá dar a você a paz de espírito. Os terapeutas e os métodos somente poderão ajudá-lo a, você mesmo, ir rompendo com este ciclo e adotar novos hábitos mais saudáveis para você. Isso exige trabalho interior, e os métodos para isso são inúmeros, mas é preciso acima de tudo querer.

      Excluir