quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Uma viagem para o outro lado do mundo


Prezados amigos, estarei ausente no período de 21 de outubro a 16 de novembro. Novamente terei a oportunidade de visitar o berço da acupuntura: a China. Para não passar em branco, segue abaixo o texto sobre minha última viagem de estudos a este país incrível, que foi em 2005. Na volta, prometo deixar mais novidades aqui para vocês. Até breve!
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Em novembro de 2005 tive a oportunidade de conhecer um país fantástico: a China. Estive durante vinte dias para estudo e visitei principalmente a cidade de Jinan, capital de Shandong, e também Pequim (Beijing), a mais freqüentada pelos ocidentais. E, quanta diferença!
A viagem é longa e cara, muitos vôos, muitas conexões, o fuso horário é invertido, é necessária muita adaptação, mas tudo isso compensa. E na volta você não vê a hora de fazer tudo isso de novo!
Jinan é uma cidade de mais de 5 milhões de habitantes onde os ocidentais são vistos raramente, nesta circunstância você acaba entrando na cultura chinesa de cabeça, sem muitas facilidades proporcionadas aos ocidentais na cidade de Pequim, que é mais direcionada ao turismo internacional.
Para começo de conversa, em Jinan você tem que se tornar mestre em comunicação não verbal. Raros são os chineses que falam inglês, e isto transforma desde um passeio de táxi até uma simples visita ao supermercado em uma experiência bastante interessante! Os enigmáticos caracteres chineses nos transformam em analfabetos, pois mesmo que se tenha estudado um pouco ou aprendido as frases e palavras básicas, ainda assim há uma infinidade de ideogramas desconhecidos espalhados por jornais, placas, tudo. E os fonemas chineses são igualmente difíceis para nossas travadas línguas ocidentais. O que ajuda bastante é que os chineses são amistosos, extremamente pacientes e muito educados.
Para ter uma idéia de como são pacíficos, durante toda minha estada neste país, não vi sequer uma briga de trânsito, apesar de este ser muitas vezes caótico! Os carros invadiram a China há não muito tempo, e o veículo oficial ainda é a bicicleta. Existem grandes e maravilhosas ciclovias ao lado das rodovias, coisa que nossa cidade de Florianópolis poderia copiar.
Também não vi brigas entre pessoas. Ninguém fala alto, ninguém anda rápido, empurra ou esbarra em outras pessoas, mesmo em ambientes lotados. Os chineses que tive oportunidade de conhecer são pessoas gentis, educadas e reservadas. Em um dos países mais populosos do mundo pudemos perceber que o exercício da paciência e da tolerância, o respeito às diferenças individuais, são uma prática amplamente difundida. E neste ambiente sem pressa parece que até os ponteiros de nossos relógios começaram a andar mais devagar... o tempo se mostrou ser, de fato, muito relativo.
Em Jinan é possível encontrar uma das universidades consideradas mais importantes no ensino da medicina tradicional chinesa do país, a Shandong University of Tradicional Chinese Medicine, e a medicina tradicional ainda é amplamente utilizada em alguns hospitais, com suas agulhas, massagens, ventosas, moxas e fitoterápicos. Os universitários têm que se esforçar muito para chegar ao ensino superior, porque num país tão populoso as oportunidades são para poucos, geralmente para os que dedicam sua vida ao estudo e em ser os melhores. A competição é muito grande.
A postura com relação ao ensino e aos professores também é muito diferente do Brasil. Os professores são autoridades absolutas e extremamente respeitadas, os alunos só se dirigem diretamente ao professor depois de um tempo de convivência, e quando questionados. Não existe contestação ou discussão entre professor e aluno. A palavra do professor é lei e sua experiência pessoal e anos de prática parecem contar mais do que a quantidade de diplomas que possuem pendurados nas paredes. Como a medicina chinesa depende muitas vezes de interpretações subjetivas, a experiência tem valor de um doutorado.
Se você pensa em um dia ir à China, saiba que além da língua, a comida é um desafio para a maioria dos ocidentais. Não pense que você vai comer a comida encontrada em nossos restaurantes chineses do Brasil! Como eu disse, em Pequim é possível encontrar comida mais adaptada ao gosto dos brasileiros, mas em Jinan isso é praticamente impossível. Inclusive uma churrascaria que se entitulava “brasileira” que tive oportunidade de visitar, era adaptada ao paladar dos chineses, ou seja, comidas exóticas e muita, muita pimenta. Uma pimenta de colocar inveja e bater de longe nossas pimentas baianas! Apesar disso, a alimentação é saudável sendo composta principalmente de muitas verduras e legumes, pouca carne de gado, trigo e laticínios, muito pouco sal e açúcar. É possível perder alguns quilos sem perder a saúde, e se sentir muito bem disposto com isto.
A bebida nacional é o chá, geralmente o chá verde em suas múltiplas e deliciosas variedades. Existem chás para o verão e chás para o inverno. Mas não tente encontrar um cubo de gelo para colocar em sua Coca-Cola! Os chineses não tomam quase nada gelado. Ao invés disso, em praticamente todos os lugares públicos há água quente à disposição de todos. Eles carregam suas imensas térmicas como os gaúchos carregam seu chimarrão e tomam seu chá durante todo o dia.
Mas a diferença entre as regiões e cidades é grande. Diferentemente de Jinan, em Pequim há momentos que nos perguntamos se estamos realmente lá, pois é uma cidade bastante semelhante a qualquer outra grande metrópole, com seus mais de 12 milhões de habitantes. Em alguns supermercados inclusive é possível achar nomes de produtos em inglês, talvez pelo grande número de ocidentais que lá residem. No entanto Pequim é a mais famosa e visitada por seus pontos turísticos e monumentos maravilhosos, grandes palácios e praças, a Muralha da China entre outras construções ancestrais e muito bem conservadas. A riqueza de cores e o luxo das dinastias do passado impressionam. É um banquete para nossas retinas acostumadas a muito concreto cinza.
Mas se você deseja conhecer a China longe da recente invasão ocidental que cada vez mais acontece no país, você concordaria comigo em ir para o interior. Lá ainda é possível ver os costumes de um povo singular. Andar nas ruas e respirar a China como ela é. Um país maravilhoso, de pessoas fantásticas e costumes exóticos. Sentar nas ruas movimentadas e saborear uma a uma, calmamente, sementes de girassol. Ou comer batatas assadas com a mão e tomar seu chá.
É uma pena que a tão falada globalização aos poucos vá destruindo as singularidades e nos transformando em uma massa humana cada vez mais unida, mas também cada vez mais sem identidade. Os chineses mais tradicionais reclamam da geração mais nova, dizendo que eles se curvam ao padrão ocidental. Os mais novos reagem ao extremo da censura e do fechamento governamental com o outro extremo, que é aceitar tudo sem questionamento. E por isso começam a aparecer novas doenças que antes não existiam, como a obesidade, por exemplo. A nova geração esquece aos poucos os conselhos dos ancestrais e já não segue as orientações de uma vida saudável. Isso trará conseqüências desagradáveis para toda a China a médio e longo prazo.
O lado positivo da globalização e da abertura é que se formos espertos, ao invés de nos perdermos e aos nossos costumes, poderíamos aprender com os outros povos, extrair as lições e aquilo que há de bom e incorporar em nossa vida. Assim como a Medicina Tradicional Chinesa e outras práticas esportivas, filosóficas e etc., que a cada dia são mais incorporadas e trazem benefícios ao povo ocidental. Evoluir, respeitando as diferenças e sem perder a identidade jamais. E com certeza teremos muito a aprender com a China e com os chineses. Então só nos resta dizer: xie xie (obrigado)!

O que é o que é: um pingo rosa na Montanha dos Mil Budas? Sou eu! :)

(Se você também deseja fazer uma viagem de estudos para a China, visite: www.cieph.com.br. A próxima tem saída provável para novembro de 2011).

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