quarta-feira, 20 de maio de 2009

Medicina tradicional chinesa e psicologia


Os antigos sábios chineses já haviam apontado que ser saudável não significa somente estar livre de doenças e fraqueza, mas também apresentar uma mente equilibrada e uma boa capacidade adaptativa. Devido à negligência quanto a estes conselhos ancestrais, na sociedade moderna fatores psíquicos dão origem a mais e mais doenças psicossomáticas.
Quando regulados, os sentimentos e as emoções não são nocivos, sendo a resposta natural da constante adaptação do ser humano ao seu meio ambiente. Porém quando excessivos, abruptos ou prolongados eles podem interferir nos sistemas internos, alterando o equilíbrio entre os Zang-Fu (órgãos e vísceras) e a harmonia entre o Qi, o Xue (energia e sangue) e outras substâncias vitais.
Por causa desta forte influência, na Medicina Tradicional Chinesa questões psíquicas são consideradas um dos principais fatores causadores de desequilíbrios, propiciando a alteração do sistema defensivo corporal, a invasão por fatores patogênicos e a conseqüente instauração de doenças.

Entrelaçamento do corpo e do espírito
A Medicina Tradicional Chinesa trabalha com duas instâncias não separadas: a matéria e o espírito (yin e yang). A matéria refere-se à configuração e constituição do corpo, compreendendo tecidos, órgãos, músculos, veias, tendões, ossos, vísceras, etc. e constitui-se na base material do espírito. O espírito refere-se à atividade mental que consiste de emoções, sentimentos, consciência e pensamento, e que por sua vez representa a manifestação externa das atividades do corpo humano, como um reflexo das funções da matéria.
Devido a este entrelaçamento, ao mesmo tempo em que emoções podem alterar o funcionamento corporal, elas também podem estar indicando algum distúrbio que já está ocorrendo no organismo. Um exemplo conhecido é o fato de que ficarmos irritados quando estamos de ressaca, emoção que indica uma desordem de vários sistemas internos como fígado, estômago, entre outros. Por isso, sentimentos e emoções desagradáveis, antes de serem eliminados, precisam ser ouvidos e compreendidos como importantes sinalizadores que estão presentes para nos auxiliar.

Psicologia e técnicas orientais
As teorias da Medicina Tradicional Chinesa sempre enfatizam o significado das palavras “harmonia” e “balanço”. Elas afirmam que a psicologia e a fisiologia devem estar mutuamente harmoniosas. É uma via de mão dupla onde desordens psicológicas podem ser reguladas através do movimento de órgãos e vísceras assim como desordens dos órgãos e vísceras podem ser curados com métodos psicoterapêuticos. Assim sendo, as pessoas não devem prestar atenção apenas na conservação do que é físico, mas também no cultivo do espírito. Os dois aspectos suplementam um ao outro e mutuamente promovem o desenvolvimento unificado e harmonioso do homem.
Aplicado ao campo da Psicologia este conhecimento ancestral leva-nos refletir sobre as relações cotidianas e a qualidade de vida tomando medidas para regular emoções, eliminar sintomas desagradáveis, buscar um maior equilíbrio e uma existência mais saudável.

Autoconhecimento e autonomia
Na busca do equilíbrio podem ser utilizadas diversas técnicas como a acupuntura, auriculoterapia, dietoterapia, massoterapia entre outras, além de ser possível contar com um vasto material filosófico que serve como pano de fundo para reflexões. A noção de homem e de mundo que permeia a ancestral cultura chinesa pode ser de grande ajuda na resolução de conflitos, dilemas e questionamentos ocidentais.
O tratamento psicológico utilizando teorias e técnicas da Medicina Tradicional Chinesa como a acupuntura objetiva acima de tudo promover autoconhecimento e a partir disso gradativamente incentivar a autonomia do paciente na manutenção de seu próprio equilíbrio. O paciente é convidado a se responsabilizar pela manutenção da saúde através de medidas simples e pequenos ajustes no seu dia-a-dia, buscando constantemente harmonia em todas as instâncias da sua vida e o respeito às possibilidades e limites individuais.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

O todo é maior do que a soma das partes


“Deixe sua alma em paz e seu corpo se endireitará por si próprio.”

(Chuang Tzu)

Quando nós temos uma queixa de natureza "psicológica", dificilmente nós a temos desacompanhada de algum sintoma corporal. A sabedoria milenar chinesa já considerava, há muito tempo, essa unidade fundamental do ser, expressa numa dualidade aparente: Yin e Yang.
Yin é a matéria densa, o corpo. Yang é o aspecto sutil, a mente e as emoções. Mas como definir o claro sem a existência do escuro, a alegria sem a tristeza? O mundo é feito de opostos, e é pelos opostos que nos situamos e damos sentido a tudo. E a saúde é o que acontece quando esta delicada engrenagem movimenta-se em busca do equilíbrio: o corpo e a mente.
Confuso? Não necessariamente...
Existe corpo sem mente? De certa forma sim... no estado de coma, por exemplo, a mente suspende temporariamente sua atividades... Mas nós, aqui "de fora" vemos a pessoa deitada ali, portanto ela ainda existe, sim... mas ela existe para ela mesma? Não... ela existe num plano sem nossa participação. Porque a mente que dá sentido ao corpo. Afinal, para que serve um movimento sem intenção, uma experiência sem emoção?
E existe mente sem corpo?... há opiniões controversas, que não nos convém entrar aqui neste espaço tão restrito. Mas falando sucintamente, na nossa vida cotidiana é no corpo que a mente se apóia, se realiza... é através do corpo que os pensamentos são comunicados... é no corpo que a alegria acontece também na forma de um suave arrepio. E sem o corpo, como estaria eu dedilhando essas teclas para passar para o leitor tantos questionamentos que não têm substância, são só pensamentos?
Yin Yang em equilíbrio... e eis a unidade fundamental: o ser.
O ser humano se concretiza na união de soma e psique. Por isso quando estamos com uma dor no dedo, a tristeza acontece. Quando estamos com uma "dor de cotovelo", a má-digestão aparece... Não é possível traçar uma linha do pescoço pra cima, do pescoço para baixo... somos um inteiro. A emoção vem para nos revelar a paisagem corporal, aquilo que está acontecendo fisicamente, o equilíbrio/desequilíbrio de nossas funções. É uma via de mão dupla: algo nos acontece e vem a emoção, e este sentimento pode mudar até a nossa pressão!!! Mas a pressão também pode subir antes que a gente perceba que tem um sentimento batendo na porta e que muitas vezes não prestamos nem atenção...
Por isso que eu digo, que é preciso ouvir os avisos que os sintomas nos dão. Algumas vezes eles vêm da mente, algumas vezes eles vêm do corpo. Ou ainda mesmo simultaneamente... E o tratamento? Não dá para levar só a metade para o consultório... muitas vezes é preciso ouvir o coração (aquele que bate no peito, mas também o da nossa emoção).

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Tai Chi e o momento presente


Um dos pontos interessantes na prática do Tai Chi Chuan é a necessidade de estar sempre focado. O olhar deve acompanhar o movimento das mãos, a respiração deve acompanhar o ritmo dos movimentos, o corpo inteiro deve estar coordenado. No início da prática há uma dificuldade muito grande para se fazer isso, ou seja, para se respeitar os tempos, o que nada mais é do que um reflexo da nossa própria vivência cultural. Quantas vezes nos pegamos com o olhar lá na frente do movimento, enquanto a mão mal começou a voltar para essa posição? Talvez na ânsia de chegar logo, de acelerar, ou na impossibilidade de esperar que as coisas aconteçam no devido tempo.
Quantas vezes olhamos, sem realmente enxergar? Talvez não querendo ver determinadas falhas e imperfeições. Quantas vezes perdemos o compasso da respiração por ansiedade ao vislumbrar que em breve chegará um movimento mais difícil... e mal chegamos lá já nos perdemos muito antes, e esquecemos a seqüência ou divagamos?...
O que a prática do Tai Chi demonstra, através da linguagem corporal, é no fundo a própria personalidade do praticante... Porque corpo e mente não são dissociáveis. E através da prática física é possível perceber e questionar aspectos de si, e também alterá-los na medida do possível.
Na nossa cultura, contrária aos antigos ensinamentos tradicionais orientais, vivemos sempre muitos anos à frente do momento presente. Simplesmente estar no momento presente é muito difícil... parece que neste exato momento não estamos “agindo”, não estamos “buscando”, não estamos “fazendo”... estamos perdendo tempo... e nos sentimos culpados.
Mas contemplando os ensinamentos, aprendemos muitas vezes que a “não-ação” também é uma ação... significa estar fazendo “nada”. Paradoxalmente, estar parado também é um tipo de movimento. Ele nos proporciona amplitude de visão a respeito de quem somos, de onde estamos... pois não temos tempo para pensar nessas coisas quando vivemos tantos anos à frente, todo dia correndo atrás do que poderia ser e ainda não é. Mas em que momentos temos oportunidade para olhar o que “é”?
É incrível como a prática pode nos apontar características da nossa personalidade. E ao vê-las temos a preciosa chance de finalmente questionar velhos hábitos e padrões que geralmente nos são danosos, levando a uma série de distúrbios que já são palavra corrente na nossa vida moderna: depressão, ansiedade, angústia, pânico...
Treinar respirar ao invés de sufocar diante de um desafio... treinar andar de acordo com o fluxo, não sair correndo na frente... treinar estar consigo e com o que aparece, e focar uma coisa de cada vez, em vez de fugir... Há muito o que aprender e a aplicar na vida cotidiana a partir dos ensinamentos e das práticas terapêuticas orientais.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

A saúde é subversiva

"Exatamente. Porque ela não dá lucro a ninguém. Promover a saúde é muito simples mas ao mesmo tempo dá muito pouco ibope porque você tem que ficar falando das mesmas coisas sempre: comer bem, dormir bem, respirar bem, se movimentar, ter uma boa relação afetiva... Nada disso é pirotécnico, nada disso provoca escândalo. O que faz escândalo é um vírus novo que está matando não sei quantas pessoas desnutridas num país paupérrimo, onde qualquer coisa mata, e uma vacina americana que vai salvar todos nós de futuras doenças misteriosas. Você ter saúde é a melhor forma de contrariar esse capitalismo desumano que está aí."

(Sonia Hirsch)

Fontes:

http://correcotia.com/sonia/promovendo_a_saude.htm

Conceitos de base da MTC: Mutação

A Mutação é um conceito de base para a compreensão da visão de mundo e da medicina tradicional chinesa, e para falar dela é necessário citar o I Ching: O Livro das Mutações.
Alguns consideram o I Ching apenas um oráculo, para outros é um clássico da literatura mundial, para outros ainda é um poderoso instrumento para a compreensão da cultura que se desenvolveu na China em anos de história. Segundo Richard Wilhelm, tradutor e estudioso do Livro das Mutações, “tudo o que existiu de grandioso e significativo nos três mil anos de história cultural da China ou inspirou-se nesse livro ou exerceu alguma influência na exegese do seu texto. Assim, pode-se afirmar com segurança que uma sabedoria amadurecida ao longo de séculos compõe o I Ching”. Ele é uma fonte importante e indispensável para a compreensão do pensamento chinês.

O I Ching
A origem do I Ching não é exata, nos remete a uma antiguidade mítica, mais certamente a uma época anterior à dinastia Chou (1150 - 249 a.C.). Neste livro estão dispostas figuras lineares, compostas da combinação de linhas inteiras e linhas interrompidas, chamadas de ‘kua’. São possíveis 8 combinações entre os ‘kua’ para formar trigramas diferentes, e estes 8 símbolos são considerados como imagem de tudo o que ocorre no céu e na terra.


A partir da combinação destes 8 trigramas o I Ching traz 64 combinações de seis linhas (hexagramas), consideradas as 64 ‘possibilidades de destino’. O importante de se notar, entretanto, é a característica simbólica dos ‘kua’.
O fundamental dos trigramas e dos hexagramas do I Ching, é que eles não representam entidades estáticas e sim mutáveis estados de transição. Os trigramas não focalizam as coisas em seus estados de ser, e sim seus movimentos de mudança. Portanto, não são meras representações das coisas enquanto tais, mas sim de suas tendências de movimento. E essas tendências são aplicadas a tudo o que acontece entre o céu e a terra, desde os ciclos da natureza até os ciclos de vida cotidianos dos homens.

Organização no caos
Os ‘kua’ encontrados no I Ching, procuram reproduzir de maneira interessante os movimentos e mutações do macro e do microcosmo e assim passam a idéia de que no fundo da aparente complexidade do universo está oculta uma organização. A observação cuidadosa da natureza e dos seus padrões de transformação leva o chinês à constatação de que há um fluxo contínuo ao qual nada escapa, e à necessidade de compreender os modos e estágios dessa mutação.
Segundo Wilhelm, “no fundo da complexidade aparente do universo, jaz oculta uma ‘simplicidade’. Ela consiste nas tendências opostas e complementares em que sempre oscila a mutação. Atividade e repouso, movimento e inércia, ascensão e declínio são os eternos e mesmos caminhos que sempre o irrepetível percorre. Muda constantemente a natureza, porém sempre ao longo das mesmas estações, Nunca as mesmas flores, mas sempre a primavera. Os fenômenos são incontáveis e distintos uns dos outros, porém regidos, em suas tendências de mudança, pelos mesmos e constantes princípios. Apreendendo-os, descobre-se o simples por detrás do complexo, o que implica também no fácil, que é a trajetória e o percurso de tudo o que acompanha o ciclo em vigência. Fluindo de acordo com as circunstâncias, evita-se o atrito, escapa-se ao desgaste”.
Percebendo o significado da mutação, sua universalidade e onipresença, entende-se que não basta fixar a atenção sobre aspectos que são transitórios e individuais. O mais importante é questionar sobre: como os fenômenos se condicionam uns aos outros, a partir de que princípio eles se modificam e para onde segue a sua transformação.

sábado, 9 de maio de 2009

Acupuntura, introdução


A Acupuntura é parte de um sistema integrado de cuidados à saúde conhecido como Medicina Tradicional Chinesa, que tem uma história ininterrupta de desenvolvimento que remonta a tempos ancestrais na China e em outros países da Ásia.
As origens da Acupuntura na China podem ser traçadas pelo menos 2000 anos atrás, quando foi escrito o mais antigo livro existente sobre o assunto, tornando-a um dos mais antigos e duráveis sistemas de cuidados em saúde no mundo.
Atualmente a acupuntura é um tratamento de saúde efetivo, natural e bastante popular que tem sido usado por pessoas de ampla diversidade cultural e social.
Ela emprega um paradigma holístico para entender as funções normais e os processos de adoecimento e seu foco reside mais na prevenção das enfermidades do que no seu tratamento.
No indivíduo saudável, um fluxo abundante de Qi (que se pronuncia “tchi”) ou “energia vital” flui através de meridianos corporais (uma rede de canais invisíveis através do corpo). Se o fluxo de Qi nos meridianos se torna bloqueado ou se existe um suprimento insuficiente de Qi então o corpo falha na manutenção da sua harmonia, balanço e ordem, seguindo-se assim a doença ou enfermidade. Isto pode ser resultado do stress, excesso de trabalho, dieta pobre em nutrientes, fatores patogênicos, condições climáticas e do meio-ambiente, além de fatores emocionais e do estilo de vida e se torna evidente para os praticantes da Medicina Tradicional Chinesa através de sinais observáveis de disfunção corporal e psíquica. Os praticantes da Medicina Tradicional Chinesa olham cuidadosamente estes sinais de saúde ou desequilíbrio, prestando particular atenção nos sintomas apresentados, mas também na história pregressa da pessoa, sua constituição geral, condição do pulso e língua.

O tratamento por acupuntura
O tratamento por acupuntura envolve a inserção de finas agulhas esterilizadas em lugares específicos (pontos de acupuntura) ao longo dos meridianos corporais para limpar os bloqueios de energia e incentivar o fluxo normal de Qi através do indivíduo. O praticante pode também estimular os pontos de acupuntura utilizando outros métodos, incluindo moxabustão (calor), ventosas, laser, estimulação elétrica e massagem, de maneira a reestabelecer o fluxo de qi.

Benefícios
Enquanto uma forma natural de cura, a acupuntura possui os seguintes benefícios:
- Promove alívio de dor sem uso de drogas;
- trata efetivamente uma ampla gama de doenças crônicas e agudas;
- trata a causa básica das doenças e enfermidades e não somente os sintomas ;
- promove um tratamento holístico para as doenças e enfermidades, unindo corpo, mente e emoções;
- colabora na prevenção contra doenças bem como na manutenção do bem-estar geral do indivíduo.

A acupuntura é conhecida pelo tratamento de uma ampla variedade de desordens incluindo: condições neurológicas, desordens cardiovasculares, condições respiratórias, desordens do sistema digestivo, desordens do aparelho urogenital, desordens ginecológicas e obstétricas, doenças de pele e dos olhos, desordens músculo-esqueléticas, lesões esportivas e condições psicológicas. Muitas delas reconhecidas pela Organização Mundial da Saúde como tendo sido tratadas com sucesso através dessa técnica.