segunda-feira, 11 de maio de 2009

Conceitos de base da MTC: Mutação

A Mutação é um conceito de base para a compreensão da visão de mundo e da medicina tradicional chinesa, e para falar dela é necessário citar o I Ching: O Livro das Mutações.
Alguns consideram o I Ching apenas um oráculo, para outros é um clássico da literatura mundial, para outros ainda é um poderoso instrumento para a compreensão da cultura que se desenvolveu na China em anos de história. Segundo Richard Wilhelm, tradutor e estudioso do Livro das Mutações, “tudo o que existiu de grandioso e significativo nos três mil anos de história cultural da China ou inspirou-se nesse livro ou exerceu alguma influência na exegese do seu texto. Assim, pode-se afirmar com segurança que uma sabedoria amadurecida ao longo de séculos compõe o I Ching”. Ele é uma fonte importante e indispensável para a compreensão do pensamento chinês.

O I Ching
A origem do I Ching não é exata, nos remete a uma antiguidade mítica, mais certamente a uma época anterior à dinastia Chou (1150 - 249 a.C.). Neste livro estão dispostas figuras lineares, compostas da combinação de linhas inteiras e linhas interrompidas, chamadas de ‘kua’. São possíveis 8 combinações entre os ‘kua’ para formar trigramas diferentes, e estes 8 símbolos são considerados como imagem de tudo o que ocorre no céu e na terra.


A partir da combinação destes 8 trigramas o I Ching traz 64 combinações de seis linhas (hexagramas), consideradas as 64 ‘possibilidades de destino’. O importante de se notar, entretanto, é a característica simbólica dos ‘kua’.
O fundamental dos trigramas e dos hexagramas do I Ching, é que eles não representam entidades estáticas e sim mutáveis estados de transição. Os trigramas não focalizam as coisas em seus estados de ser, e sim seus movimentos de mudança. Portanto, não são meras representações das coisas enquanto tais, mas sim de suas tendências de movimento. E essas tendências são aplicadas a tudo o que acontece entre o céu e a terra, desde os ciclos da natureza até os ciclos de vida cotidianos dos homens.

Organização no caos
Os ‘kua’ encontrados no I Ching, procuram reproduzir de maneira interessante os movimentos e mutações do macro e do microcosmo e assim passam a idéia de que no fundo da aparente complexidade do universo está oculta uma organização. A observação cuidadosa da natureza e dos seus padrões de transformação leva o chinês à constatação de que há um fluxo contínuo ao qual nada escapa, e à necessidade de compreender os modos e estágios dessa mutação.
Segundo Wilhelm, “no fundo da complexidade aparente do universo, jaz oculta uma ‘simplicidade’. Ela consiste nas tendências opostas e complementares em que sempre oscila a mutação. Atividade e repouso, movimento e inércia, ascensão e declínio são os eternos e mesmos caminhos que sempre o irrepetível percorre. Muda constantemente a natureza, porém sempre ao longo das mesmas estações, Nunca as mesmas flores, mas sempre a primavera. Os fenômenos são incontáveis e distintos uns dos outros, porém regidos, em suas tendências de mudança, pelos mesmos e constantes princípios. Apreendendo-os, descobre-se o simples por detrás do complexo, o que implica também no fácil, que é a trajetória e o percurso de tudo o que acompanha o ciclo em vigência. Fluindo de acordo com as circunstâncias, evita-se o atrito, escapa-se ao desgaste”.
Percebendo o significado da mutação, sua universalidade e onipresença, entende-se que não basta fixar a atenção sobre aspectos que são transitórios e individuais. O mais importante é questionar sobre: como os fenômenos se condicionam uns aos outros, a partir de que princípio eles se modificam e para onde segue a sua transformação.

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