quarta-feira, 13 de maio de 2009

Tai Chi e o momento presente


Um dos pontos interessantes na prática do Tai Chi Chuan é a necessidade de estar sempre focado. O olhar deve acompanhar o movimento das mãos, a respiração deve acompanhar o ritmo dos movimentos, o corpo inteiro deve estar coordenado. No início da prática há uma dificuldade muito grande para se fazer isso, ou seja, para se respeitar os tempos, o que nada mais é do que um reflexo da nossa própria vivência cultural. Quantas vezes nos pegamos com o olhar lá na frente do movimento, enquanto a mão mal começou a voltar para essa posição? Talvez na ânsia de chegar logo, de acelerar, ou na impossibilidade de esperar que as coisas aconteçam no devido tempo.
Quantas vezes olhamos, sem realmente enxergar? Talvez não querendo ver determinadas falhas e imperfeições. Quantas vezes perdemos o compasso da respiração por ansiedade ao vislumbrar que em breve chegará um movimento mais difícil... e mal chegamos lá já nos perdemos muito antes, e esquecemos a seqüência ou divagamos?...
O que a prática do Tai Chi demonstra, através da linguagem corporal, é no fundo a própria personalidade do praticante... Porque corpo e mente não são dissociáveis. E através da prática física é possível perceber e questionar aspectos de si, e também alterá-los na medida do possível.
Na nossa cultura, contrária aos antigos ensinamentos tradicionais orientais, vivemos sempre muitos anos à frente do momento presente. Simplesmente estar no momento presente é muito difícil... parece que neste exato momento não estamos “agindo”, não estamos “buscando”, não estamos “fazendo”... estamos perdendo tempo... e nos sentimos culpados.
Mas contemplando os ensinamentos, aprendemos muitas vezes que a “não-ação” também é uma ação... significa estar fazendo “nada”. Paradoxalmente, estar parado também é um tipo de movimento. Ele nos proporciona amplitude de visão a respeito de quem somos, de onde estamos... pois não temos tempo para pensar nessas coisas quando vivemos tantos anos à frente, todo dia correndo atrás do que poderia ser e ainda não é. Mas em que momentos temos oportunidade para olhar o que “é”?
É incrível como a prática pode nos apontar características da nossa personalidade. E ao vê-las temos a preciosa chance de finalmente questionar velhos hábitos e padrões que geralmente nos são danosos, levando a uma série de distúrbios que já são palavra corrente na nossa vida moderna: depressão, ansiedade, angústia, pânico...
Treinar respirar ao invés de sufocar diante de um desafio... treinar andar de acordo com o fluxo, não sair correndo na frente... treinar estar consigo e com o que aparece, e focar uma coisa de cada vez, em vez de fugir... Há muito o que aprender e a aplicar na vida cotidiana a partir dos ensinamentos e das práticas terapêuticas orientais.

Um comentário:

  1. Adorei o texto, me fez pensar bastante a respeito...
    e realmente, nunca temos tempo para pensar no "agora"..

    ainda vou praticar Tai Chi hehehe..

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