terça-feira, 28 de setembro de 2010

A Arte do Coração


“Não há sentimentos sem movimentos orgânicos correspondentes. As paixões alteram e degradam o chão por onde flui a vida”. (Vallée & Larre)


A energia é una, mas suas manifestações são múltiplas. Corpo e mente são, no pensamento oriental, manifestações da mesma energia e, portanto, intimamente ligados. Assim, é grande a importância atribuída à sabedoria, a capacidade de manter a mente serena juntamente com o corpo harmonizado, buscando-se isso através de técnicas como acupuntura, meditação, chi kung, tai chi chuan, entre outras.
Para o pensamento oriental, o sábio é aquele que não se deixa tocar pelas seduções exteriores pois sua alegria de viver está ancorada na posse de si mesmo, única e verdadeira posse no mundo. Ao falar de posse de si mesmo, falamos de preservação da integridade, e pela preservação da integridade somos um com o Tao (o caminho). Do contrário perdemo-nos, e em todos os níveis da vitalidade instala-se a desordem. É necessário um perpétuo restabelecimento deste equilíbrio delicado feito de sopros e sangue, carne e osso, sentimentos e pensamento.

Pacificando a mente
Para manter-se em harmonia com o Tao o homem deve aprender a pacificar as 5 emoções (alegria, tristeza, raiva, preocupação e medo) e os diversos sentimentos.
Antes de serem nocivos, os sentimentos são a expressão da tensão inerente aos Zang (órgãos internos encarregados de fabricar energias fundamentais e regular a atividade mental). Mas quando há energia em plenitude, vazio ou mesmo estagnada estes sentimentos podem se tornar prejudiciais.
Segundo o Liji (Livro dos Ritos), “na presença dos objetos exteriores, o homem tem a faculdade (ou o desejo) de conhecê-los, ele experimenta sentimentos de atração por uns e sentimento de repulsão por outros. Se ele não dominar esses sentimentos, deixa-se levar pelas coisas exteriores e torna-se incapaz de voltar para dentro de si (e de regular os movimentos do seu coração)”.
Quando em equilíbrio, no entanto, nada predomina por muito tempo e todos os sentimentos são harmonizados pelo Coração (que em Medicina Chinesa é a residência da consciência e da palavra, atributos supremos do ser humano).

Calma e quietude
Num coração calmo e sereno nada se fixa, nada ocupa lugar indevidamente, bloqueando-o, abarrotando-o, mas tudo que se apresenta é recebido para ser pesado e apreciado. Quem se dedica à arte do coração rejeita cobiças e desejos, atrações e aversões, euforia e cólera, reprovação ou aprovação.
Através de técnicas diversas, o sábio procura esvaziar o coração para alcançar a posse de si mesmo no universo, ou seja, ser fiel à sua natureza. Praticar a arte do coração não consiste, portanto, na negação dos movimentos e reações que fazem parte da vida, mas antes de tudo de sua justa análise e temperança que afastam os arrebatamentos e transbordamentos.
A busca sempre é pela virtude, ou seja, pela conduta orientada por um coração capaz de remeter-se em profundidade àquilo que constitui seu ser mais autêntico. É a virtude, a retidão e a autenticidade do coração ao longo do percurso da vida, o que possibilita a posse de nós mesmos e o encontro conosco.

Para saber mais, leia: “Os Movimentos do Coração”, de Elisabeth Rochat de La Valée e Claude Larre. Editora Cultrix.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Acupuntura: filosofia da energia


“É melhor atuar no ainda não manifesto e controlar o ainda não bagunçado,

porque árvore de tronco grosso nasce de uma raiz capilar,
torre de nove andares se levanta com terra acumulada
e jornada de dez mil léguas começa embaixo dos pés.”
(Tao Te King)

A acupuntura, técnica integrante da Medicina Chinesa, é um procedimento terapêutico aparentemente muito simples, mas atrás dele se oculta uma formidável estrutura lógica e filosófica. É uma ciência médica, e como tal, tem a sua própria fisiologia, anatomia, etiopatogenia, diagnóstico e tratamento.
Logo no início dos estudos já nos damos conta que estamos frente a uma estrutura racional e metodológica completa, e entendemos de maneira imediata que o ser humano é regido por leis universais, formando um todo indissolúvel e inter-relacionado.
A acupuntura é um método terapêutico baseado em um enfoque biológico distinto do ocidental, pois parte do princípio de que existe uma substância imaterial, invisível para nós, que se chama energia (T’Chi ou Qi) e que é a responsável em primeira instância de toda e qualquer mudança biológica. Este conceito não é exclusivo da Medicina Chinesa, pois existem outras medicinas que também seguem esta linha de pensamento.

Mecanicismo
De maneira geral existem duas diferentes correntes de pensamento em medicina. A corrente Mecanicista e a corrente Vitalista.
A corrente Mecanicista contempla ao ser humano como uma espécie de máquina, formada pela soma de várias engrenagens (sistemas). Essa medicina tem duas bases claras de atuação:
A necessidade de estudar a causa da enfermidade como sendo um agente externo, ou seja, que vem de fora do indivíduo.
A implantação de um método indutivo de pesquisa e conhecimento, mediante o qual se recolhem casos de diferentes tipos e a partir daí se procuram fazer generalizações globais.
Estes princípios levaram à Medicina Analítica (Ocidental) atual, que se aprofundou no estudo das causas externas, e que possibilitou uma especialização cada vez mais diversificada, já que o conhecimento das partes se pode estender até o infinito.

Vitalismo
A corrente Vitalista, onde se enquadra a acupuntura, tem as seguintes bases de atuação:
Considera as doenças como tendo origem principalmente interna, e entende que as causas externas em sua maioria não podem agir sem que existam certas predisposições no indivíduo.
Trabalha sob o método dedutivo, partindo do princípio de que existe uma energia e que isto é uma verdade inquestionável e ponto de partida fundamental, e a partir daí se efetuam deduções.
Estes princípios dão origem à chamada Medicina Sintética (por exemplo: a Medicina Ayurvédica e a Medicina Chinesa), em oposição à Analítica que vimos antes.
Na medicina Sintética se negam os parcelamentos, considerando o ser como um todo integrado e não uma máquina feita de diferentes peças. E é a partir desse entendimento que ela permite estabelecer relações entre causas e sintomas aparentemente sem nenhuma conexão.

Filosofia da energia
Assim, para efetuar uma acupuntura racional, o diagnóstico e o tratamento são baseados numa análise global de sinais e sintomas. Estes são obtidos através de: observação, ausculta, olfação, interrogatório, tomada de pulso e palpação.
Estes múltiplos dados são analisados à luz das teorias da Medicina Tradicional Chinesa, procurando-se ter uma boa idéia de causa, natureza, localização de uma doença, relação entre os fatores patogênicos e a energia vital; sumariando-as em uma síndrome (conjunto de sintomas) de determinada natureza. A partir desta informação podemos determinar o método terapêutico correspondente.
Em todo este processo estaremos focados menos na DOENÇA e mais no DOENTE, ou seja, mais na pessoa do que nos sintomas, sendo estes apenas pistas para desvendarmos o desequilíbrio energético global. O tratamento sempre levará em conta a necessidade de regularizar, potencializar e fazer circular a energia vital, responsável em primeira instância por todo e qualquer processo de saúde ou doença.

domingo, 5 de setembro de 2010

Em defesa da Medicina Chinesa

Face às absurdas tentativas de desmerecer as terapias alternativas, fitoterapia e terapias naturais em rede nacional que vem acontecendo recentemente sugiro a leitura do excelente texto "Em defesa da Medicina Chinesa", de Gilberto Antônio Silva em seu blog "Vida Oriental". É só clicar.