quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Acupuntura: filosofia da energia


“É melhor atuar no ainda não manifesto e controlar o ainda não bagunçado,

porque árvore de tronco grosso nasce de uma raiz capilar,
torre de nove andares se levanta com terra acumulada
e jornada de dez mil léguas começa embaixo dos pés.”
(Tao Te King)

A acupuntura, técnica integrante da Medicina Chinesa, é um procedimento terapêutico aparentemente muito simples, mas atrás dele se oculta uma formidável estrutura lógica e filosófica. É uma ciência médica, e como tal, tem a sua própria fisiologia, anatomia, etiopatogenia, diagnóstico e tratamento.
Logo no início dos estudos já nos damos conta que estamos frente a uma estrutura racional e metodológica completa, e entendemos de maneira imediata que o ser humano é regido por leis universais, formando um todo indissolúvel e inter-relacionado.
A acupuntura é um método terapêutico baseado em um enfoque biológico distinto do ocidental, pois parte do princípio de que existe uma substância imaterial, invisível para nós, que se chama energia (T’Chi ou Qi) e que é a responsável em primeira instância de toda e qualquer mudança biológica. Este conceito não é exclusivo da Medicina Chinesa, pois existem outras medicinas que também seguem esta linha de pensamento.

Mecanicismo
De maneira geral existem duas diferentes correntes de pensamento em medicina. A corrente Mecanicista e a corrente Vitalista.
A corrente Mecanicista contempla ao ser humano como uma espécie de máquina, formada pela soma de várias engrenagens (sistemas). Essa medicina tem duas bases claras de atuação:
A necessidade de estudar a causa da enfermidade como sendo um agente externo, ou seja, que vem de fora do indivíduo.
A implantação de um método indutivo de pesquisa e conhecimento, mediante o qual se recolhem casos de diferentes tipos e a partir daí se procuram fazer generalizações globais.
Estes princípios levaram à Medicina Analítica (Ocidental) atual, que se aprofundou no estudo das causas externas, e que possibilitou uma especialização cada vez mais diversificada, já que o conhecimento das partes se pode estender até o infinito.

Vitalismo
A corrente Vitalista, onde se enquadra a acupuntura, tem as seguintes bases de atuação:
Considera as doenças como tendo origem principalmente interna, e entende que as causas externas em sua maioria não podem agir sem que existam certas predisposições no indivíduo.
Trabalha sob o método dedutivo, partindo do princípio de que existe uma energia e que isto é uma verdade inquestionável e ponto de partida fundamental, e a partir daí se efetuam deduções.
Estes princípios dão origem à chamada Medicina Sintética (por exemplo: a Medicina Ayurvédica e a Medicina Chinesa), em oposição à Analítica que vimos antes.
Na medicina Sintética se negam os parcelamentos, considerando o ser como um todo integrado e não uma máquina feita de diferentes peças. E é a partir desse entendimento que ela permite estabelecer relações entre causas e sintomas aparentemente sem nenhuma conexão.

Filosofia da energia
Assim, para efetuar uma acupuntura racional, o diagnóstico e o tratamento são baseados numa análise global de sinais e sintomas. Estes são obtidos através de: observação, ausculta, olfação, interrogatório, tomada de pulso e palpação.
Estes múltiplos dados são analisados à luz das teorias da Medicina Tradicional Chinesa, procurando-se ter uma boa idéia de causa, natureza, localização de uma doença, relação entre os fatores patogênicos e a energia vital; sumariando-as em uma síndrome (conjunto de sintomas) de determinada natureza. A partir desta informação podemos determinar o método terapêutico correspondente.
Em todo este processo estaremos focados menos na DOENÇA e mais no DOENTE, ou seja, mais na pessoa do que nos sintomas, sendo estes apenas pistas para desvendarmos o desequilíbrio energético global. O tratamento sempre levará em conta a necessidade de regularizar, potencializar e fazer circular a energia vital, responsável em primeira instância por todo e qualquer processo de saúde ou doença.

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